sábado, 7 de maio de 2022

Estrada Real - Caminho dos Diamantes - 12ª etapa - De Santa Rita Durão a Camargos - 03/04/2022

De Santa Rita Durão a Camargos - 03/04/2022

A chuva, mais uma vez, nos impediu de sair cedo para o pedal do dia. Ficamos esperando sinais de melhora, sem descartar a possibilidade de permanecer mais um dia em Santa Rita, caso persistisse o mal tempo.

Não conseguíamos contato com a pousada de Camargos, então, se tivéssemos que emendar mais um trecho e chegar até Mariana, não poderíamos ficar esperando muito. Posteriormente soubemos que o proprietário da pousada havia falecido há uma semana.

Porém, um pouco antes do meio dia, a chuva parou e decidimos partir. 

O chão, embora úmido e com poças d'água, tinha uma constituição firme e poucos pontos com barro. 

A primeira coisa que nos chamou a atenção no percurso foi uma formação rochosa, típica da região e que apresentava grande beleza natural: 








O caminho continuava agradável, quase sempre cercado de muito verde. O tempo nublado, temperatura amena, bom para o pedal.
 
Estávamos nos aproximando da área onde o rompimento de uma barragem de rejeitos de mineração provocou a destruição da comunidade de Bento Rodrigues e a morte de 19 pessoas, em 05/11/2015. Até hoje, as 250 famílias desabrigadas aguardam a construção na Nova Bento Rodrigues, porém cerca de 44 sobreviventes da tragédia já faleceram. A lentidão na construção gera desconfiança, pois é difícil entender como é possível que em 7 anos todo o poder financeiro das maiores mineradoras do mundo não consigam concluir a obra. 

Cruzamos sem problemas a portaria que a mineradora mantém no local. 

A cidade fantasma continua em grande parte ainda erguida, embora portas, janelas e outros pertences tenham sido retirados, não sei dizer se por antigos moradores ou foram objetos de saques. 

A cidade tem duas ruas principais, esta que vemos na foto e uma outra que, lá atrás, desce para a parte baixa, que foi destruída pelo rio de lama da barreira rompida. Do local onde fotografamos, podiam-se ouvir pessoas falando, som que vinha, aparentemente, da outra rua. Havíamos conversado, em Santa Rita, com Dª Zizi e seu marido, uma família que tem parentes que moravam aqui. As irmãs dela residem atualmente em Mariana, mas todo fim de semana vêm para cá, não querem abandonar o que levaram uma vida para construir. A casa dos pais da Dª Zizi foi arrancada inteira do solo, rodou sobre si mesma e despencou ao lado da igreja. Eles dizem que as mineradoras não dão manutenção na estrada que liga a Mariana, exatamente para dificultar a vinda das pessoas. Mais à frente vamos ver fotos do caminho para Mariana e tirar nossas próprias conclusões. 

Encontramos na rua com um ex-morador, Marcílio, cuja família tinha uma propriedade rural na parte baixa, que foi varrida pela lama. Perderam gado e grande parte da propriedade foi submersa. Seus pais haviam falecido algum tempo antes da tragédia e a propriedade estava sendo inventariada quando tudo aconteceu.  Ele nos assegurou que, por causa disso, ainda não recebeu nenhum centavo de indenização. Nem ninguém de sua família. Percebe-se, pelo seu modo de falar, que ele ainda está muito abalado.

Quando partimos, ficamos imaginando a dor imensa que atingiu aquela gente. Vimos e sentimos ali, ao vivo, que a exploração de riquezas tem que ser precedida de todo o cuidado e só ser efetivada se ambos, ser humano e natureza estiverem devidamente protegidos. É inconcebível o descaso com a vida.

Um pouco mais acima, outra visão do povoado. Aos poucos, a floresta vai cobrindo tudo:
E mais à frente, chegamos à parte baixa, como está hoje. Estrada reconstruída, porém o aspecto de desolação paira no ar: 



Um lindo lago, não é? Só que não. O aspecto de limpidez é enganador. São rejeitos de mineração associados a produtos químicos tóxicos. 

Apesar dos pesares, quando vamos nos afastando do local, a estradinha volta a ficar bonita, margeada por vegetação: 


Uma hora e meia após a saída de Santa Rita, um pequeno alagado não chega a ser obstáculo. O marco da ER foi atingido e está meio capenga: 
Logo depois, uma bela ponte, bem construída. Viemos e vamos: 

As chuvas tornaram marrons as águas dos rios: 

Prosseguimos, quase sempre sem poder enxergar o horizonte, devido à densa vegetação que margeia a estrada: 


Chegamos a uma pequena cachoeira, nas proximidades de Camargos, mas devido às chuvas ocorridas à noite e de manhã, que turvaram a água, nem me animei a descer para obter um ângulo melhor. 
A vegetação ao redor, exuberante, resplandecia, o verde explodindo nos mais variados tons: 
Apenas 4 minutos depois, estávamos entrando em Camargos: 



O bom é que a gente chega e sem demora se imiscui na vida simples, pacata, descontraída, do lugar, enquanto aguardamos a preparação de um lanche no barzinho do sr. Ênio: 
Foi aqui que tivemos a informação do falecimento do dono da pousada local. Mas, conversa vai, conversa vem, o sr. Ênio ofereceu-nos um quarto para dormir. Ele tem uma casa que mantém para uso de duas irmãs quando o visitam e que ia ficar desocupada, porque elas iriam voltar hoje para Mariana. Aceitamos incontinenti e pude curtir a cervejinha com mais gosto. 
A rua principal de Camargos, onde está o bar do sr. Ênio, está imortalizada numa pintura mantida na parede. Achei muito legal!

As bicicletas ficaram guardadas dentro da propriedade. A esposa do sr. Ênio gentilmente fez jantar para nós. Banhamo-nos e dormimos confortavelmente. Embora não quisesse cobrar, pagamos ao sr. Ênio o mesmo valor de pousos anteriores. 

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