sábado, 27 de julho de 2013

Vargem Grande do Sul a Visconde de Mauá - 11º dia - Santo Antonio do Rio Grande a Maromba

Quando chegamos em Santo Antonio, ontem, as pousadas estavam todas lotadas, por causa da festa do padroeiro. A primeira tentativa que fizemos resultou infrutífera, disseram-nos que não haveria vaga. Procuramos por outra, da Beth e do Dirceu, onde foi possível conseguir um quarto. Estava lotada naquele momento, mas havia uns músicos hospedados lá que iriam embora. Enquanto aguardávamos, a Beth, gentilmente, possibilitou-nos acessar a Internet e nós, depois de postar as novidades no Facebook, pudemos conhecer pessoas que estavam na pousada. A Beth é a primeira na foto:
 O rapaz de camiseta laranja é de São Paulo e todos os anos ele se hospeda lá, por ocasião da festa. Nem me lembro quantas vezes ele e um amigo, que não está na foto, já fizeram isso. E dizem que sempre voltarão. Estou citando isso só para que vocês tenham ideia da grandiosidade da festa daqui. Por isso estamos prometendo vir no ano que vem.
Partimos na manhã seguinte, deixando para trás Santo Antonio do Rio Grande:
Logo, na primeira montanha que subimos (e aqui, na Mantiqueira, é só isso que fazemos o tempo todo...), a visão de Santo Antonio era só um pequeno amontoado de casas em meio às árvores, com a silhueta das montanhas ao fundo:
Mas, apesar das dificuldades de pedalar (ou empurrar a bicicleta) montanha acima, as visões da Mantiqueira eram sempre maravilhosas:
Estas subidas, às vezes, eram tão íngremes, que uma caminhonete carregada, que vinha subindo em primeira marcha, deu um engripada e parou. O motorista tentou sair, mas ela girava em falso no cascalho e não saía do lugar. O motorista resolveu então descer de ré, segurando no freio, até a parte plana, vagarosamente. Aí partiu de novo, em primeira marcha, pisando firme e só assim conseguiu subir.
Mas, não é possível subir sempre, uma hora tem que descer. Chegamos ao topo, finalmente e daí para a frente, seria só alegria: descida constante, para nossa curtição:


Quando uma abertura na floresta permitia, uma foto mais aberta, panorâmica, para uma visão do conjunto:
Quando estávamos chegando a Mirantão, encontramos mais uma marca da religiosidade do povo:
E já na entrada de Mirantão, uma curiosidade: uma cerca toda feita de garrafas pet. Foi, acredito, uma grande ideia, dando utilidade inédita, pelo menos na minha visão, para essas embalagens que, jogadas na natureza, levam séculos para se degradar. A consciência ecológica, por aqui, é muito difundida:
Ainda na descida, a passagem por uma bucólica fazenda. Puxa, já imaginou morar aqui?
O caminho, em determinados momentos, não fica nada a dever ao Caminho de Santiago, em termos de paisagem. Vejam a foto a seguir e comparem: é ou não é?
Chegando a Visconde de Mauá, a paisagem muda um pouco, fica mais sofisticada:
A cidade de Visconde de Mauá, em si, na verdade, (perdoem-nos os moradores), não tem nada de especial para ser mostrado. E o hotel onde pretendíamos nos hospedar, para nossa surpresa, estava lotado. Caramba! Não havíamos reservado porque não sabíamos o dia certo da chegada e agora, esta surpresa ruim. Informamo-nos e nos disseram que no dia seguinte haveria vaga. O jeito foi procurar outro lugar para passar aquela noite. E encontramos, alguns quilômetros acima, na localidade de Maromba, acima do distrito de Maringá, pequena cidade que se divide, a metade maior no estado do Rio e a outra parte em Minas Gerais. Ficamos na Pousada Águas Claras, bem na praça principal, em frente á igreja. Estava chuviscando à noite e após um banho bem quente, saboreamos um delicioso caldo verde e fomos dormir. Estávamos alegres por termos atingido nosso objetivo e amanhã, finalmente, vamos reencontrar o mesmo hotel de nossa lua de mel...

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Vargem Grande do Sul a Visconde de Mauá - 10º dia - de Berta Rural a Santo Antonio do Rio Grande

Após noite de muito frio e silêncio absoluto, o dia amanheceu num intenso nevoeiro. Acordamos com o cantar dos pássaros e fomos brindados, ao abrir a janela, com o maravilhoso gorjeio do canário da foto, que se exibia balançando-se no galho do pinheiro:

Partimos após o café da manhã. O sol começava a dar as caras em meio às nuvens e logo o dia se expandia numa cascata de luz:
A gente vai seguindo a estradinha e chega em pontos como o da foto abaixo. Mais um entroncamento e nós não seguimos na direção apontada. Continuamos margeando o límpido riacho, para Santo Antonio do Rio Grande:
O caminho continuava muito agradável e tínhamos que ir registrando a paisagem, para renovar o prazer cada vez que olhássemos novamente:


Então, surpreendentemente, em meio a tantas propriedades simples e rústicas que avistávamos o tempo todo à beira do caminho, nos deslumbramos com esta lindíssima fazenda:
Desculpem ficar repetindo o tempo todo, mas a paisagem continuava fantástica e digna de ser apreciada:


Poder-se-ia imaginar que nestes locais ermos a mobilidade seria difícil, em meio a florestas intocadas e rios de águas cristalinas. Mas a sinalização é boa e muito fácil de ser seguida. Estávamos na Fazenda Monte Belo:
Segundo um funcionário da prefeitura de Itamonte que encontramos consertando os buracos da estrada com uma enxada, após subirmos este morro da Fazenda Monte Belo, depois seria só descida, até Santo Antonio do Rio Grande:
E de fato, a estradinha serpenteava no vale entre as montanhas e nós agradecíamos à vida ter-nos propiciado estes maravilhosos momentos:

Então, desfrutando a alegria do momento, valia brincar sobre o cupinzeiro:
E prosseguir na trilha curtindo o ar puro e a natureza pródiga:



Nestas paragens, inéditas para nós, vamos pedalando tendo em mente que muitas surpresas podem acontecer. Até chegar de repente a uma maravilhosa cachoeira, escondida entre as montanhas. Vimos uma placa na estada: Cachoeira Rio Grande. Vamos ver? E fomos. E valeu muito a pena. Uma maravilha natural:
O local tem toda infra estrutura para receber o turista: pousada, bar e lanchonete, área de piqueniques e acampamento, banheiros e campo de futebol:


E nós aproveitamos para almoçar batatas e lambaris fritos, com suco de abacaxi!

Assim chegamos a Santo Antonio do Rio Grande. Com um dia de atraso, eu diria, pois era 14 de junho e a festa do padroeiro tinha sido na véspera. Perdemos a fogueira de 20 metros de altura, os fogos, que segundo um entusiasta, duraram mais tempo que os de Copacabana, as barracas típicas, o som e todo o movimento do povo que se junta para festejar. Mas, deu tempo para reencontrarmos os amigos motoqueiros da Lanchonete Cachoeirinha: Luiz, Marcos e Fidélis:
Prometemos para nós mesmos: voltaremos no ano que vem, mas no dia 13! Não podemos perder esta festa de novo!

terça-feira, 16 de julho de 2013

Vargem Grande do Sul a Visconde de Mauá - 9º dia - Itamonte à Berta Rural

Usamos parte da manhã para fazer uma visita à Tia Cacilda, freira, que é irmã da mãe da Eros. 
Depois partimos, usando inicialmente o mesmo percurso do Caminho dos Anjos, que percorrêramos antes, em outra jornada, que pode ser vista aqui mesmo no blog, em postagens anteriores. 
A saída da cidade é feita por uma via asfaltada, cruzando bairros periféricos, começando por uma longa subida, até atingirmos a estrada propriamente dita, que liga Itamonte à Alagoa e outros municípios. 
Como curiosidade, avistamos neste trecho, um padeiro, que fazia suas entregas de bicicleta, carregando uma grande cesta cheia de pães e afins, apregoando a plenos pulmões, a cada três segundos: "Padeiro!" "Padeiro!" E assim seguia, empurrando seu pesado veículo de entrega, atendendo as freguesas ao longo do caminho. 
Chegando à rodovia, logo no início nos deparamos com um marco da Estrada Real:
Continuamos subindo, ainda no asfalto, uma estrada, felizmente, com pouco movimento de veículos:
Já bem no alto, após passagem por bairros afastados da cidade, chegamos ao local conhecido como Usina dos Braga:
Nós seguimos em direção à Bocaina de Minas, Aiuruoca, Campo Redondo e Cachoeirinha. A Usina dos Braga é uma construção bem antiga, ao lado da estrada e bem no alto da montanha:
Prosseguindo, continuamos subindo ainda um bom tempo, através de uma estrada calçada com peças sextavadas de concreto, até atingir uma lanchonete existente à beira da estrada, chamada "Cachoeirinha", situada a cerca de 20 km de Itamonte, onde paramos para tomar um lanche. Ali conhecemos três rapazes que estavam de moto e iam passear pela região nos próximos quatro dias. Conversamos muito e eles nos deram dicas sobre os melhores caminhos a seguir e onde passar a noite. Seus nomes: Luiz, Marcos e Fidélis. Após comermos, seguimos mais uma vez estrada acima. Passamos em frente a um criadouro de trutas, onde havíamos pernoitado quando fazíamos o Caminho dos Anjos. Agora o local não está mais prestando este tipo de serviço, que foi assumido por uma outra pousada credenciada.  A estrada, neste trecho, era de terra, mas estava sendo preparada para receber o asfalto e nós passamos por um grupo de "trabalhadores" com suas máquinas. Está entre aspas, porque achei engraçado: tinha lá "trocentas" pessoas, todas paradas, conversando, exceto três homens que faziam medições um pouco acima, com um teodolito:
Esta região é farta em coisas boas, tais como ar puro, montanhas, tranquilidade, mas o bom mesmo é que nunca falta água. Há riachos e regatos de águas cristalinas descendo as montanhas o tempo todo. Nem precisamos nos preocupar com falta d'água, abastecemos nossas caramanholas com água fresquinha, direto das nascentes, em fontes como esta:
No ponto da foto abaixo, deixamos o Caminho dos Anjos, para enveredar à direita, com destino à Pousada Fazenda Serra Bonita, na localidade conhecida como Berta Rural. A 1ª foto, de perto, a 2ª, mais aberta, de longe:

O novo caminho é uma estradinha estreita e muito agradável, que segue entre matas salpicadas de araucárias:

Achamos até esta preciosidade: a estrada se biparte, mantendo as árvores ao meio, evitando a extração das araucárias.

Finalmente chegamos, mas que surpresa: a pousada estava fechada e não havia ninguém para nos atender! Um vizinho, que estava saindo de carro, disse-nos que não costumava ficar ninguém lá e antes que pudéssemos pedir ajuda, se mandou, deixando-nos ali, embasbacados. E agora? O que fazer? Estávamos no meio do nada, já eram três horas da tarde e a cidade mais próxima estava a uns 45 km!
Então nos lembramos da conversa com os três rapazes na Lanchonete Cachoeirinha. O Luiz havia-nos dito que se não encontrássemos ninguém na pousada, deveríamos procurar pelo Gilmar, numa casa que ficava do outro lado da estrada, que saberia como contactar o Carlos, dono do lugar. Encostei a bicicleta, tirei a mochila das costas e entrei numa estradinha lateral, a procura da casa do Gilmar, que não se avistava daquele ponto. Bem escondida, atrás de uma pequena mata, acabei vendo o telhado de uma casa, numa baixada. Aproximei-me e sem ver ninguém, parei na porteira de entrada e chamei: Tem alguém aí?
Ouvi, em resposta, uma voz de mulher. Aguardei um pouco e apareceu uma senhora. Após cumprimentá-la, perguntei se ali era a casa do Gilmar. Ela respondeu que sim e perguntou o que queríamos com ele. Após ouvir nossa explicação, disse-nos, para nossa tristeza, que o Gilmar não se encontrava em casa, estava trabalhando em outra cidade. Mas, acrescentou que quem tomava conta da pousada era um tal de Zezinho, cuja casa havíamos passado antes de chegar naquele local. O filho do Gilmar, um garoto de 13 anos de idade chamado Gleidson, se propôs a ir chamar o Zezinho. Assim, subimos de volta à entrada da pousada e enquanto eu colocava a Eros ao par da situação, o Gleidson seguia correndo em direção à casa do Zezinho. Ficamos aguardando e uns 15 minutos depois o Gleidson voltou sozinho e com uma triste notícia: "O Zezinho falou que a pousada está lotada".
Santo Deus! E agora? 
Ficamos ali durante algum tempo conjecturando sobre o que fazer. Já estávamos pensando em dormir ao relento, mas o Gleidson disse que mais tarde, por volta de quatro e meia da tarde, vinha a perua dos estudantes, trazendo a turma que morava naquela região e que voltava vazia para a localidade onde ficava a escola. Disse que conhecia o motorista e que falaria com ele para que nos levasse e que lá teria lugar para passarmos a noite. 
Estávamos ali, pasmos ainda, quando chegou, pelo outro lado da estrada, uma motocicleta com dois homens. Quando viram o Gleidson conosco, perguntaram o que estava acontecendo. Depois de ouvir toda a história,   um deles disse: "Ah, nós somos irmãos do Gilmar. Quem toma conta da pousada é uma senhora chamada Raquel, que mora mais adiante na estrada. Eu sei onde ela mora e vou lá falar com ela". 
Aliviados, agradecemos muito, com esperança de que afinal a coisa se ajeitasse e ficamos esperando. 
Passado um bom tempo ele voltou, dizendo que havia conversado com a Raquel, que ia ligar para o Carlos, para que ele viesse nos atender.
Subimos até a primeira construção que havia na pousada, que era o refeitório e ficamos aguardando, mais uma vez, na companhia do Gleidson.
Passado mais algum tempo, que nos pareceu uma eternidade, chegou uma mulher, também de moto. Era a Raquel! Disse que não tinha ninguém na pousada (ah, "seu" Zezinho!) e que não havia conseguido conversar direito com o dono da pousada, pois quando conseguiu completar a ligação, havia muito ruído. Mal conseguiu conversar e a ligação caiu. Achava que o Sr. Carlos viria.
Ficamos olhando para ela: mas vamos poder ficar?
Parecia-nos que ela não estava querendo assumir isso mas, com muito custo, acabou dizendo que sim. UFA!
Então nos disse que iria arrumar um chalé. Falou que não havia comida no local e que o máximo que ela poderia arranjar seria truta e macarrão. Truta e macarrão! Ah! Ah! Rimos nervosos. Está ótimo! A que horas? 
Combinamos para as 19 horas. Continuamos aguardando a chegada do Carlos, porém escureceu e ele não apareceu.  A Raquel disse que se ele não tinha chegado até aquela hora, não viria mais.
Fez muito frio naquele 13 de junho, dia de Santo Antonio.  Foi, certamente, o dia mais frio de todo o caminho. Mas, para quem chegou a visualizar a possibilidade de dormir ao relento e sem comida, era uma final muito feliz.
Foi uma delícia de truta com uma macarronada maravilhosa. E um chalezinho com tantos edredons em cima, que ficava até difícil se mexer embaixo. Nem acendemos a lareira... Vejam as fotos do belo lugar:


E assim terminou nosso dia de aventura mais intensa e emoção à flor da pele. A continuação promete...