sábado, 28 de setembro de 2019

Eurovelo 15 - Rhine Cycle Route - 17º dia - De Boppard a Zell am Mosel

07/06/2019 - Sexta-feira

Por estarmos fazendo uma viagem tão longa, planejamos um desvio do Reno para conhecer o rio Mosele. Como os dois rios se encontram mais adiante, decidimos dar uma guinada à esquerda e seguir um trecho à beira do Mosele, até reencontrar o Reno e retomar o Eurovelo 15.
Hoje foi o dia do desvio.
Só que alguma coisa saiu errada no meu planejamento e, quando fomos ver, a rota traçada era completamente sem propósito e impossível de ser seguida. Então o recurso que dispúnhamos era improvisar no Google e foi o que utilizamos para nos direcionar.
Mas... E tem sempre um mas, não era tão simples assim. O Google às vezes atrapalha. Surgiam muitas dúvidas porque ele nos indicava direções onde nem haviam caminhos. 
E tem mais uma coisa: além de nos espionar, acho que ele nos ouve também. Num certo momento, quando não era possível identificar com clareza qual caminho seguir, comentei: Não sei se tenho que ir prá cá ou ir prá lá. E a "moça do Google" saiu-se com essa: "Não posso te ajudar com isso". Em outra ocasião, quando resolvi desligar o GPS e comentei isso em voz alta, ela respondeu: "Até logo"! ?!?!
Nos primeiros 15 km, primeiramente saímos de Boppard subindo uma montanha, ainda dentro da cidade. Seguindo em direção a Buchenau, depois Weiler, trecho com muitas florestas e estradas interioranas muito boas. Voltando a subir mais um pouco até um mirante, no alto, chamado Hochleiblick Weiler: 

Nesta foto, a cidade que aparece ao fundo é Bad Salzig:

Era a última visão do Reno neste dia. Continuamos subindo, com um aclive mais suave e passamos pela pequena localidade de Fleckertshöhe, sempre pedalando em meio a densas florestas ou ao lado de pastos e plantações:



Então chegamos à estrada 61. Novas dúvidas quanto a direção a seguir. Entramos por uma plantação, contornamos e acabamos voltando no mesmo lugar. Então decidimos seguir pela estrada, passando por Hirtenau, onde pegamos a Rhein-Mosel Strasse, ou L-206, em direção a Dörth. Daí seguimos em meio a mais plantações e acabamos chegando, nas proximidades de Lamscheid, a uma ciclovia fantástica, construída onde havia uma antiga estrada de ferro, simplesmente espetacular. Com pouca declividade, tendo trechos em que se destacava do terreno com um aterro de uns 10 metros de altura, mas arborizada dos dois lados, totalmente à sombra. 





Havia um monumento que marcava a passagem da ferrovia no local:
Serpenteando em meio às florestas, fazendas e pequenas cidades, pedalamos por cerca de 15 quilômetros nesta maravilhosa ciclovia, atravessando Leiningen, Norath, Pfalzfeld, Lengerhahn, Dudenroth e chegando a Kastellaun. Quando tivemos que sair dela, cortamos por propriedades rurais com casas de jardins bens cuidados:




Depois, saímos em direção a Völkenroth, quando acabamos pedalando na Bundestrasse 327, na qual não havia sinalização para bicicletas. Da 327 passamos para a L-226, em direção a Panzweiler e Tellig, onde o Google, mais uma vez, aprontou conosco. Na entrada de Tellig, o GPS mandava sair da estrada e pegar uma rota alternativa, como se fosse entrar na cidade e virando à direita. Estávamos parados neste ponto, discutindo as possibilidades, quando uma senhora, de carro, parou e nos perguntou se precisávamos de ajuda. Conversamos com ela, comentando o que o Google sugeria e ela nos disse que não conhecia caminho para Zell por onde estávamos pretendendo seguir. Que o caminho para Zell era através da estrada mesmo, mas havia uma descida muito forte e perigosa, de 8 km até a cidade. 
Estava ventando muito e havia notícias de que uma tempestade com ventos muito fortes e frio, estava causando estragos em Portugal.
Decidimos, então, seguir pelo caminho indicado pelo Google. Pegamos a entrada da cidade, saindo da rodovia e fomos ziguezagueando através de terrenos onde haviam sido feitas colheitas recentemente, os quais se encontravam agora desprovidos de qualquer vegetação. Mas, demos com os burros n'água porque em um determinado momento, o GPS sinalizava uma direção em que não havia caminho, somente mato. Seguimos por rota alternativa, tentando atingir nosso objetivo, que era chegar a Zell. Acabamos entrando em Tellig, onde perguntamos a um casal que trabalhava o jardim de sua casa se, seguindo em frente,  chegaríamos a Zell. Disseram desconhecer, mas que haviam caminhos mais adiante que poderiam chegar lá. Pois bem, prosseguimos. Em um certo momento havia uma bifurcação. O caminho da direita levava a uma fazenda e, então, depois de verificar isso, acabamos tendo que seguir pelo caminho da esquerda. Estávamos descendo, através de um declive razoável, em uma estradinha asfaltada. O asfalto acabou e virou estrada de terra. Fomos avançando e tudo parecia ficar mais ermo, com os sinais de tráfego e civilização praticamente inexistentes. Até que chegamos a lugar nenhum, o mato crescendo nos trilhos da estrada e sem alternativa de prosseguir. 
Respiramos fundo e decidimos voltar. Tudo o que havíamos descido, íamos ter que subir agora e, pior, sem descobrir o caminho correto para o nosso destino. 
Decidimos então voltar lá na estrada, de onde havíamos saído, por indicação do Google e descer os 8 km faltantes por ali mesmo. No final, acabamos pedalando 19 km a mais do que o planejado. 
O vento chegava a balançar as bicicletas e imaginamos que a tempestade de Portugal estava chegando ali. Havia muito movimento na estrada, mas atingíamos alta velocidade, equiparando aos carros, por conta das curvas, em que eles tinham que reduzir a velocidade. Então, durante a descida, não houve praticamente ultrapassagens. Muita adrenalina depois, chegamos todos bem a Zell e o Fernando, bem humorado, sentenciou: "O vento quase levou..."
Quilometragem do dia: 77,57 km.
Quilometragem acumulada: 1.139,72 km.
Tivemos dificuldade também para achar o hotel, porque não existia o número na rua que o endereço apontava. Mas, com a ajuda de pessoas locais, chegamos lá. Ficava na parte de trás, com frente para outra rua, que tinha o mesmo nome...
Fomos bem recebidos pelo Christian que, ao saber que éramos brasileiros, até tentou aprender algumas palavras em português. 
Jantamos no próprio hotel, uma boa comida com o atendimento gentil do Christian. 
O quarto e o banheiro eram bons e sem problemas. Não saímos e fomos descansar cedo.

domingo, 22 de setembro de 2019

Eurovelo 15 - Rhine Cycle Route - 15º e 16º dias - De Laubenheim a Boppard

05/06/2019 - Quarta-feira

Fizemos uma pausa para descansar do pedal no 15º dia da viagem. E aproveitamos para visitar uma prima que mora em Mainz. Com ela, passeamos pela cidade e por Wiesbaden, localidade próxima: 
Marktbrunnen - Fonte Renascentista - Mainz
Heunensäule - Praça Central - Mainz


Nagelsäule (Coluna Nagel) - Mainz
A coluna de pregos (Nagelsäule) foi criada como símbolo de uma campanha de propaganda e captação de recursos, escolhida entre 71 projetos, durante a 1ª Guerra Mundial. Foi inaugurada em 1916 e restaurada em 2011.
Trata-se de uma coluna de carvalho de 7 metros de altura, com muitos simbolismos, cercada por 3 pilares de pedra que representam a caridade, a bravura e a união.
Cada doador da campanha teve direito a martelar um prego na coluna. Doadores de valores menores usaram pregos comuns e de valores maiores, pregos com cabeças douradas.
O dinheiro arrecadado beneficiou entidades assistenciais de crianças menos favorecidas, a Associação das Colônias de Férias e o Serviço Nacional de Mulheres e propiciou alívio à fome provocada pelo embargo aliado ao Império Alemão.
Kuckucsuhr - que já foi o maior relógio cuco do mundo - Wiesbaden
Igreja do Mercado em Wiesbaden
 

06/06/2019 - Quinta-Feira

A Zwei Raben Pension onde ficamos, em Laubenheim, não oferece café da manhã. Por isso, nesses dois dias, tivemos que comprar nosso "café" em mercados, para ter o que comer no desjejum.
Por volta de 8:30 h estávamos prontos para sair e retomar nosso percurso. O caminho passava por Mainz, a cidade natal de Gutenberg, o inventor da tipografia: 






Os habitantes de Mainz têm uma bem cuidada "prainha" onde se divertir: 

Seguimos boa parte do tempo à margem do Reno: 




Eros admira a montanha da Loreley - Entre Wiesbaden e Koblenz
Loreley - É a lenda mais conhecida de todo o Reno, segundo a qual basta um olhar da linda sereia de longos cabelos dourados para que os navegantes se esqueçam de seus navios e os deixem à deriva.
Isto teria acontecido ao filho do Conde de Palatinado que, irritado com o fim trágico de seu rebento, enviou soldados à montanha para que jogassem a sereia ao rio, do alto do morro, matando-a.
A tropa do conde encontrou a sereia sentada, penteando seus longos cabelos calmamente, com um pente dourado, no alto do penhasco.
Sabendo da intenção dos soldados, a sereia jogou seu colar de pérolas ao rio, que elevou suas águas numa onda muito alta, da qual se utilizou para descer ao rio lentamente.
A partir daí nunca mais foi vista, mas nas noites de lua cheia seu canto ainda é ouvido na estreita curva do rio, ao lado daquele morro.
Poetas elaboraram suas próprias versões da história e a lenda acabou virando música, conhecida em todo o mundo.

Quando o caminho nos levava um pouco para o interior, campos de cevada e trigo era a paisagem avistada, algumas vezes com um "mato" bem colorido: 


Às 11:30 h da manhã o odômetro marcou o km 1000 e nós comemoramos com uma foto conjunta: 
As cegonhas gostam de construir seus ninhos no alto. Já os vimos em torres de igrejas e de eletricidade, sempre na parte mais alta. Hoje nos deparamos com mais um, desta vez no tronco de uma árvore que perdeu a folhagem e a copa: 


Praticamente todos os dias passávamos por campos floridos, ora vermelhos, ora roxos, ora amarelos. Hoje, fomos premiados com um esplendoroso canteiro de rosas vermelhas: 

Era o dia com o maior número de castelos no caminho, muitas plantações de uva e vinícolas: 
Castelo Rheinstein (Pedra do Reno) - Trechtingshausen 
Era um castelo aduaneiro criado no século XIV. Arruinado e abandonado no século XVII, foi reconstruído a partir de 1823 no espírito do romantismo do Reno. Hoje é aberto à visitação pública. Notem, pendurada em uma das torres, a cela suspensa.

Castelo Stahleck - Bacharach

Castelo do século XII, destruído no século XVII e reconstruído no século XX. Onde hoje funciona um albergue da juventude.
Castelo de Schönburg - Oberwessel
Neste local funciona hoje o Burghotel auf Schönburg. Um hotel onde você pode se hospedar em um castelo de verdade...
Castelo Gutenfels - Kaub  
Reconstruído no século XIX, também é utilizado como hotel.
Ruínas do Castelo de Ehrenfels - Rüdesheim 
Seu nome significa "penhasco da honra", mas era um posto de coleta de impostos. Construído no século XIV, foi destruído no século XVII e nunca mais reerguido. Há uma casta de uvas chamada Ehrenfelser em sua homenagem.
Niederwalddenkmal - Monumento à vitória alemã na guerra 
franco-prussiana (no alto)
Maus Castle - Goarshausen-Wellmich
Maus Castle - Goarshausen-Wellmich
Construído a partir de 1356 para defender as fronteiras contra os condes de Katzenelnbogen (que haviam construído os Castelos Katz e Rheinfels, que não fotografamos). Ao contrário de seus dois castelos vizinhos, o "Castelo do Rato" nunca foi destruído, tendo sido restaurado entre 1900 e 1906. Hoje, no local funciona um aviário com falcões, corujas e águias e demonstrações de voo são realizadas para os visitantes, do final de março ao início de outubro.
À esquerda, o Burg Sterrenberg, um hotel com centro de enventos.
À direita, o Hotel Restaurant Café Burg Liebenstein. 
Os dois empreendimentos acima encontram-se em frente à cidade de Bad Salzig, do outro lado do Reno. Aliás, no Reno, até dentro do rio há castelo: 
Pfalzgrafenstein Castle - é um castelo de pedágio na ilha de
Falkenau, próximo a Kaub - Atrás, o Castelo Gutenfels
As tarifas de pedágio foram suspensas no Reno a partir do século XIX, quando começaram a surgir as primeiras companhias de transporte de passageiros. Atualmente, você pode fazer percursos de barco pelo rio, comprando uma passagem com validade diária e descer onde quiser, pegando o barco seguinte ou outro, mais tarde, para continuar a viagem. 

O tráfego fluvial é intenso e enquanto íamos passando pelas pequenas belas cidades da margem do Reno, íamos observando os barcos que muitas vezes não tinham muitos passageiros, talvez porque não estivéssemos ainda no verão europeu: 
  



Observem a infraestrutura existente para desembarque de passageiros em frente a um local de atração turística: 
Propaganda de uma produtora de vinho nas proximidades da vinícola: 
A estrutura viária alemã é espetacular. Vejam, em um determinado momento do caminho, tudo o que nos era oferecido: o rio, para o transporte fluvial, a estrada para o transporte rodoviário, a estrada de ferro para o ferroviário, a ciclovia e até a faixa reservada para os pedestres. Tudo devidamente sinalizado: 

Todos os anos, no último domingo de junho, os carros são proibidos no trecho entre Bingen e Koblenz e o espaço é aberto aos praticantes de ciclismo e skate, que dispõem de 120 km de pistas só para eles. 150 mil visitantes participam desta grande festa, nos dois lados das margens do Reno.
Nossa estadia em Boppard foi na Mittelrhein Pension. Quando chegamos, o responsável estava nos esperando. Abriu-nos um cômodo na parte de baixo, onde guardamos as bicicletas com segurança. Quarto relativamente amplo, sem problemas de espaço. Em termos de conforto, também tudo tranquilo.
Distância percorrida no dia:  87,71 km.
Quilometragem acumulada: 1.062,15 km.
Jantamos muito bem em um restaurante nas proximidades.
Foi um dia de muitas novidades e coisas curiosas, mas viemos bem e tudo transcorreu com tranquilidade. Dia todo nublado, mas sem chuva. Um paraíso para o ciclista!