sábado, 26 de fevereiro de 2011

5º Dia do Caminho da Fé: Águas da Prata/Serra dos Limas

Bem, como já disse, a Pousada do Peregrino, em Águas da Prata, não serve café da manhã. O jeito é procurar uma padaria ou uma lanchonete, para a primeira refeição do dia. É, porque o dia não vai ser nada fácil... É muito importante tomar um café reforçado, com frutas e cereais, se for possível. E para aqueles que vão pedalar todo o dia e não desejam perder tempo com o almoço, é bom mandar preparar uns sanduíches para ir comendo pelo caminho conforme vai dando fome.

A saída se faz cruzando a linha de ferro e pegando a via que contorna a montanha. Antigamente não era assim. Faziam a gente subir aquele morro ali para descer do outro lado. E a subida, através do bosque, até que era agradável no início. Vejam, na foto 1, a cidade ficando para trás. E depois, na foto 2, como era íngreme e complicada a subida: pedras, tantas pedras, que às vezes era até difícil empurrar a bicicleta. E a descida, do outro lado da montanha, não tinha caminho, nem trilha, nada. Era só um pasto, com grandes pedras e muito capim. E quando chegava ao pé da montanha, tinha que passar a bicicleta por cima da cerca de arame farpado. Mas, isso é coisa do passado. Hoje você contorna a montanha e logo encontra trechos agradáveis, como os das fotos 3 e 4.
 
FOTO 3













E pouco mais de uma hora depois,
chegamos à cascata Ponta da Pedra (foto 5). 
FOTO 4
É um lugar fantástico, parece ter sido criado para ser fotografado. Aproveite a beleza do lugar, tire excelentes fotos, descanse um pouco e pedale (eu ia falar “pé na estrada”, mas não é o caso, né?). Depois dessa cascata tem a subida do Pico do Gavião. Você sobe, sobe, sobe, quase sempre ao som de cascatas (foto 6). Durante longo trecho, enquanto pedala, você ouve o murmúrio das águas montanha abaixo. E vê as placas não muito simpáticas que o proprietário das terras colocou naquele local, “lembrando-o” que se atravessar a cerca, será considerado invasor e tratado como tal. Eu, hein?
Daí você passa pela base da montanha, utilizada pelos praticantes de paraglider. Daí para a frente, até chegar à Pousada Pico do Gavião, costuma haver um trânsito relativamente intenso, por causa do pessoal que se movimenta entre a pousada, onde se hospedam, e o local dos saltos e vice-versa. E eles são “velozes e furiosos”. Tome cuidado!
Logo, logo, vamos chegar a divisa São Paulo/Minas. É outro lugar encantador, embora às vezes nossa ousadia em querer cruzar o riacho através da água (foto 7), às vezes nos custa um banho inesperado (foto 8). Há uma passagem através de uma pequena ponte ou pinguela, mas que tem largura suficiente até atravessar pedalando (foto 9).
FOTO 6
Nunca me esqueço de um sufoco que passamos no trecho que vem logo em seguida. Estávamos pedalando tranquilamente quando começamos a ouvir um mugido que se repetia freneticamente. Entreolhamo-nos e fomos seguindo, com todo cuidado. Ao nos aproximarmos mais, começamos a ouvir também um tropel, que soava durante algum tempo, parava, começava de novo, parava mais uma vez, e assim ia. Olhávamos atentamente o que era possível enxergar do caminho, esperando ver a qualquer momento, quem ou o quê estava causando aqueles sons. E não demorou para vermos um vigoroso e solitário touro que corria trechos da estrada, ora para um lado, ora para o outro e berrava insistentemente. Parecia que ele havia perdido a sua “turma”.
E agora? Como vamos passar por ele?
No local a estrada havia sido recortada em meio à pastagem e seu leito apresentava uma profundidade de pouco mais de um metro. Sugeri que colocássemos as bicicletas sobre o barranco e contornássemos o touro, procurando evitar que ele nos visse. E foi o que fizemos. Devagar, abaixando-nos e empurrando as bicicletas, tentando fazer o mínimo de barulho, passamos. Logo à frente, voltamos para a estrada e continuamos, deixando o touro para trás. Mas se fosse um local entre árvores de uma floresta, como o que vem logo em seguida (foto 10), não sei o que faríamos. Talvez tivéssemos que esperar até o touro ir embora, ou voltar... Mas isso não estava no programa!
FOTO 8
Com muitas subidas ainda pela frente, a próxima etapa nos levará até a Pousada Pico do Gavião. Cruzamos um eucaliptal (foto 11) e prosseguimos por trechos de subidas e descidas leves.
FOTO 9
Depois do km 302 há uma descida mais acentuada, com pedras, tendo uma ponte de madeira ao final, para voltar a subir do outro lado, passando pelo km 300 (foto 12). Da primeira vez que passamos aqui, descontada uma hora que levamos para subir e descer a montanha na saída de Águas da Prata, havíamos consumido quatro horas de percurso. E chegamos à Pousada (foto 13). É uma construção bem simpática, onde carimbamos a credencial, tomamos um maravilhoso suco de laranja, acompanhado por um delicioso sanduíche (tudo, no Caminho da Fé, adquire um sabor especial: acho que é a fome)!
Aqui o Caminho sofreu outra mudança. Anteriormente, a gente retornava uns 600 metros pela mesma estrada que chegamos e virávamos à esquerda, cruzando uma floresta bem densa, onde já chegamos a ver um bando de macacos saltando pelas copas das árvores, e descendo por 10 km até Andradas. Hoje, a gente sai da Pousada e continua, na mesma direção que vinha, rumo à estrada asfaltada. Confesso a vocês que ainda não passei pelo novo trecho. A última vez que passei por ali, já estava anoitecendo e tivemos que seguir pelo asfalto, para tentar chegar à cidade ainda com a claridade do sol.
Andradas (foto 14) é uma cidade simpática e você pode carimbar a credencial em dois hotéis especificados no Guia do Caminho. A gente sempre para no Grande Hotel, pela facilidade de estar onde temos que passar.
A saída de Andradas, depois de cruzar a cidade, já começa com subida. E aí, vão-se alternando descidas, subidas íngremes e pequenos planos. Após o km 278, inicia-se um trecho de dois quilômetros de um aclive bem forte. A partir daí são cerca de três quilômetros de trecho plano com pequenas subidas, passando pela pequena localidade conhecida como “Serra dos Limas” (foto 15), prosseguindo até chegar á Pousada da Dona Natalina, depois do km 273.

Dona Natalina é pura simpatia: faz tudo para agradar. Desde seu simples, porém delicioso jantar até o generoso cuidado com o peregrino e a preocupação de que todos fiquem bem e possam descansar para reiniciar a jornada na manhã seguinte. Nós somos testemunhas desse cuidado: desde a primeira vez que viemos, ela já melhorou muito as instalações que oferece aos peregrinos: ampliou a casa, construiu dois banheiros, colocou portas nos quartos, instalou TV na salinha de estar, entre outras coisas. 
FOTO 14

Em uma das vezes que passamos a noite ali, naquela gostosa conversa com outros peregrinos, um deles contou uma história muito engraçada. Quando ele resolveu fazer o Caminho, contou com o apoio de sua esposa, que carinhosamente preparou a mochila dele para a viagem. E preparou mesmo uma “mala de viagem”, com tudo o que ela achou que ele necessitaria: pijamas, moletom, calçado extra, etc. A mochila dele ficou tão pesada que ele tinha a maior dificuldade para se locomover. Sua mochila estava pesando uns 15 quilos! E em conversa com outros ciclistas, estes lhe disseram que não precisaria nada daquilo, bastariam os apetrechos básicos, com o mínimo de peso possível. Havia um pessoal com um jipe, que se prontificou a despachar seu excesso de bagagem pelo correio, de volta à sua casa. Bem humorado, ele separou o que havia em excesso para mandar de volta e ele mesmo fez muitas brincadeiras com sua condição, provocando boas gargalhadas na turma, antes de dormir...

FOTO 15


sábado, 19 de fevereiro de 2011

4º Dia do Caminho da Fé: da Pousada da Cidinha (São Roque da Fartura) a Águas da Prata

Foto 1 - Depois de sair do asfalto, nova subida

Saímos bem cedo, às 07h15min da manhã, depois de um farto café. Logo de cara há uma subida interminááááável, para começar bem o dia. Haja esforço! Mas como com fé e perseverança, tudo se alcança, a gente acaba chegando ao topo. É uma estradinha boa, bem lisa, agradável, se não fosse o aclive acentuado. Daí, uma boa descida, para relaxar um pouco. Eu poderia dizer aqui que as descidas são sempre muito mais rápidas que as subidas, mas não vou fazer isso. Não sei por que, né? 
Foto 2-Aqui começa a vertiginosa descida para São Roque
 Depois desse declive, sobe-se mais um pequeno trecho e chega-se ao asfalto. Não dura muito, porém, a “lisura” do piso. Logo temos que sair à direita, tal qual o Leão da Montanha do desenho, por mais uma estrada de terra que, para variar um pouquinho, transforma-se, algumas dezenas de metros adiante, em vigorosa subida (foto 1). E a coisa continua assim, alternando pequenas descidas com grandes subidas, até atingirmos outra via asfaltada. E aí é um down hill, (foto 2) como dizem os aficionados, daqueles de mexer com os nervos. É tanta velocidade que eu, particularmente, nem deixo a bicicleta correr livremente. Vou freando um pouco, porque há sempre um certo receio de algo não dar certo e aí, nem é bom pensar.
Neste trecho há uma nova pousada, a Paina, recentemente incorporada ao Caminho. Paramos por lá em nossa última passagem, para carimbar a credencial e encontramos uma gente fora de série, muito simpática, e foi impossível prosseguir sem ao menos tomar um café e saborear um pedaço de rosca. Isto porque nos ofereciam todo tipo de confeitos, sucos e, a muito custo, conseguimos sair. Seguimos pelo asfalto, até chegar à cidade, a qual cruzamos rapidamente, pois é um pequeno aglomerado de casas à beira da estrada para Poços de Caldas. Atravessamos a estrada e subimos mais cerca de um quilômetro, até a Pousada do Peregrino ou Cachoeira (da Dona Cida, que já tratamos aqui no post da viagem Divinolândia/São Roque, lembram-se?). A Dona Cida faz uma comidinha excelente, e recomendamos para quem quiser almoçar. Ou jantar, ou tomar café, seja lá o que for. Lugar ótimo para dormir, também, se for final de jornada. Vista da cidade a partir da Pousada:  
São Roque vista da varanda da Pousada da D. Cida
Certa vez chegamos lá em horário de almoço, sem ter avisado antes. Dona Cida não estava, havia nascido uma netinha e ela estava assistindo a filha, em Vargem Grande. Só se encontrava seu marido, José Luiz. Fomos logo perguntando “Seu Zé Luiz, tem almoço prá dois, aí?”
“Chi”, respondeu ele, “eu ia almoçar agora, a Cida antes de sair, me falou que meu prato estava pronto em cima do fogão. Mas eu não gosto de comida requentada, estava aqui confabulando comigo mesmo: como ou não como?”
“É? Mas não tem nada aí? Um arrozinho, feijãozinho, um tomatinho prá salada, um ovinho prá fritar...?”
“Bom, ovo tem aí, tomate também tem, e” – destapando as panelas sobre o fogão – “tem um restinho de arroz também”.
“O senhor se incomoda se a gente fizer um ovo mexido e uma saladinha?”
“Não, fiquem à vontade. Eu só não prometo fazer porque...”
“Não se preocupe”, interrompemos, “pode deixar conosco.”
E foi assim. Preparamos o ovo mexido, uma salada de tomate, o arroz e o feijão já estavam quentes sobre o fogão, havia uma farinha de mandioca no capricho e aí... Seu Zé Luiz sentou-se e almoçou conosco! E elogiou a comida! Simples, mas com a fome que a gente estava, deliciosa!
D. Cida e José Luiz
Neste local há um riacho que forma corredeiras nas pedras, culminando com uma queda d’água muito bonita. Por isso, o lugar é conhecido também como Pousada da Cachoeira. Eles têm até um bar no local, que abrem nos finais de semana e feriados, e que é muito freqüentado pelo pessoal da cidade e da região, que vai curtir uma água fresca e tomar uma cervejinha, que todo mundo merece, é, ou não é?

Nos fundos da pousada
 O Caminho depois prossegue, chegando novamente à estrada asfaltada, a qual percorremos por uns 200 metros, saindo à direita e continuando por bons trechos planos, pequenas subidas e descidas, até encontrar um trecho com uma grande árvore solitária à beira da trilha.

"Nossa" árvore

Este lugar marca o início de um trecho em declive, que já foi muito difícil nos primórdios do Caminho, pois tinha buracos e muitas pedras. Hoje está melhor, a manutenção é feita regularmente e, embora persistam as pedras, as moto niveladoras têm passado com boa freqüência, alisando o solo. Em contra-partida, depois vem uma boa subida, passando ao lado de uma casa onde o morador afixou mensagens em pequenas placas com exortações de amor à natureza e regras de boa educação peregrina. Depois dessa forte subida, chega-se a uma porteira de madeira, trancada com cadeado. As bicicletas tem que ser passadas por cima.

A bicicleta não cabe no passador e a porteira está trancada com cadeado
 É um lugar com muito mato que, dependendo da época do ano, pode estar muito escorregadio, há que se tomar muito cuidado.
Em uma das passagens pelo local, alertei: “Cuidado, está muito escorregaDIIIIIIIIIO!” A roda dianteira derrapou para a direita e pranchei no chão. Até entortou a haste do freio. Mas não me machuquei (só no ego), nem houve maiores danos à bicicleta e prosseguimos. Sobe-se, ao final do declive, um pequeno trecho em meio a uma floresta, depois através de plantações e finalmente, por um cafezal,  onde ocorre a descida maior e mais perigosa de todas. Com lodo, pedras soltas de todos os tamanhos e muito risco.

Chegando a Águas da Prata
 Até chegar a Águas da Prata. As setas nos levam à Pousada do Peregrino, para o banho e o descanso merecido. Se for final de semana ou feriado, há uma feirinha, com quitutes e lembrancinhas da cidade, a poucos metros da pousada. Vale a pena visitar. Se você tiver sorte, poderá ver os macacos que vivem na floresta ao lado que, muito desconfiados, se aproximam para pegar alimentos que o povo lhes dá e fogem para o alto das árvores rapidamente. 
Aqui é onde iniciou o Caminho. Quero dizer: foi aqui que pessoas idealistas, vendo a cidade diminuir seu vigor econômico, imaginaram uma forma de incrementar o fluxo de pessoas e trazer novo agito ao pedaço. Em 15/08/2003, o Almiro, o Clóvis e a Iracema e alguns amigos voluntários, criaram a Associação dos Amigos do Caminho da Fé, para propiciar pontos de apoio às pessoas que desejassem peregrinar até Aparecida do Norte. Vocês repararam que todos os ramais criados desde então passam por aqui? Veja o mapa:

Aqui é cobrado apenas o pernoite, um valor bem razoável para não dizer barato e não há café da manhã. E é onde você pode obter todo tipo de informação que desejar sobre o Caminho. O endereço é: Av. Washington Luiz, 347 - Tel.(19) 3642-2751 - e-mail: contato@caminhodafe.com.br - Águas da Prata/SP. Horário de atendimento: das 11 às 20 h.

A feirinha de Águas da Prata
Da última vez que passamos por lá, eu disse para a Sílvia, que atendia naquele dia:
- Estamos treinando no Caminho da Fé para fazer o de Santiago da Compostela. E ela respondeu:
- Não! Você treina em Santiago para fazer o Caminho da Fé!
Simples assim. Por eles, o CF é muito mais difícil que o de Santiago...

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Castelhanos: emoção e aventura na Ilha de São Sebastião

Foto 1

Crepúsculo. Mais um dia terminava e a beleza do momento e do lugar era digna de eternidade.  Ao registrar aquele maravilhoso poente, capturamos, casualmente, uma oração de agradecimento: alguém, de braços erguidos, fazia chegar aos céus a gratidão por poder fazer parte, mesmo que por um breve momento, daquele capricho do Criador (foto 1).
Ilhabela é assim: um capricho da natureza. Aliás, toda a Ilha de São Sebastião. Muita gente ainda confunde o nome da cidade com o nome da ilha. Mas, isto nem tem muita importância. Foi pensando nas belezas da ilha e no desafio de atravessá-la morro acima, que decidimos percorrer a trilha de Castelhanos de bicicleta.

Foto 2

Novembro de 2008. Tempo bom, o sol iluminava toda a ilha e mesmo a chuva que havia caído um dia antes, não nos assustava. Saímos meio tarde, mas com toda a disposição. A trilha, que começa na cidade, logo vira uma estradinha de terra e só sobe. Logo no começo, passamos pela entrada da Toca (foto 2), lugar que ficou famoso pelo escorregador de pedra, dentro da água, onde as crianças (e os adultos, por que não) se divertem tremendamente, descendo pela água e caindo numa deliciosa piscina natural formada pelo riacho. Água fria, energizante, onde, com calma e olhando atentamente, você pode encontrar até pitus, tentando se esconder nas pedras.
Seguindo, não demora muito para chegar ao Parque Estadual de Ilhabela (foto 3). Dalí para frente, a mata e tudo que existe em seu interior estão protegidos.
Maravilha, porque assim sempre teremos este revigorante lugar para curtir e apreciar, seja a pé, seja de bicicleta, seja nos 4x4 que atravessam a montanha, levando-o até o povoado de Castelhanos, do outro lado da ilha.

Foto 3

E é pura curtição. Você vai pedalando, pedalando, subindo, subindo, sempre (fotos 4 e 5). A prodigiosa natureza o cerca por todos os lados e você pode ver avencas, samambaias, orquídeas e uma grande variedade de árvores nativas, resquícios da mata Atlântica. E até outras espécies mais ordinárias, como as marias-sem-vergonha, decantadas pelo poeta Chico. Pode ouvir pássaros de variadas espécies, alguns que você talvez nem reconheça. Nascentes de água fresquinha, correndo entre pedras e gramíneas. Enfim, é um relax total...


Foto 5


Foto 4
Chegamos, enfim ao ponto mais alto da trilha (foto 6).
Daí para frente, é só descida. Despencamos ladeira abaixo, tomando cuidado com o barro que se acumulara em alguns pontos e que dificultava a passagem, dependendo da extensão que ocupava na estradinha. Esses locais, poucos, o sol não penetrava em razão da densidade da floresta e o barro permanecia ali, resistindo sem secar, para trazer um ingrediente mais aventureiro ao ciclista. Todo o cuidado, porém, não evitou quedas, felizmente, sem maiores conseqüências (foto 7).

Foto 6

E, de repente, surpresa! Um pequeno rio para atravessar (foto 8). E milhões de pernilongos para azucrinar. Mas, quem se mete numa aventura dessas, não pode reclamar de insetos. O negócio é curtir e até se refrescar nas águas límpidas e frias.


Foto 7
 
Atravessado o rio, mais algumas dezenas de metros de pedal e finalmente, chegamos! O lugar é pitoresco e nem tem energia elétrica (foto 9). Mesmo assim, você pode saborear um delicioso suco de abacaxi, servido no vidro de maionese, que se toma degustando pedacinhos da fruta, uma maravilha! Ou mergulhar no mar para se refrescar, embora as ondas não fossem, na ocasião, muito amigáveis, fazendo com que os freqüentadores não se afastassem muito da praia.


Foto 8
 
Foto 9
 Muito bem. Chegamos, curtimos, mergulhamos. E agora? Tínhamos que voltar. Já eram quatro horas da tarde e em meio a todo aquele barro, a subida da montanha ia ser complicada, porque logo escureceria e ninguém conhecia o caminho suficientemente. Confabulamos e o jeito encontrado foi contratar um dos jipes que transportam turistas para nos levar até o alto do morro. Felizmente, encontramos um motorista que se dispôs a nos levar. E lá fomos nós, chacoalhando tal qual frutas no liquidificador, sobre a carroceria, tentando evitar que as bicicletas se batessem ou ao metal da caçamba, levando ferradas nas costelas, quando o jipe solavancava nos buracos, ou ainda, se abaixando e desviando para os lados, para evitar galhos na cabeça. Até que alguém se esqueceu de abaixar e - rasg! – o arranha-gato enroscou-se na roupa e foi um Deus-nos-acuda para fugir dos espinhos e desenroscar a camisa. Ao final, cabia perfeitamente aquela velha máxima: entre mortos e feridos, salvaram-se todos! (foto 10)

Foto 10


Descemos do veículo, descarregamos as bicicletas (que chegaram inteiras, felizmente) e retornamos, fazendo agora a descida pelo lado oeste, que havíamos subido na ida. E tudo acabou na mais pura alegria. É uma aventura para nunca mais esquecermos...

sábado, 5 de fevereiro de 2011

3º Dia no Caminho da Fé: Tambaú/São Roque

No 3º dia, em Tambaú (km 429 do Caminho), carimba-se a credencial no escritório da Secretaria de Turismo (primeira foto). Para sair, cruza-se a praça, defronte a igreja, seguindo á esquerda até a Avenida. Daí, à direita, subindo e depois descendo até chegar ao portal que marcava o início do Caminho, quando este de fato ocorria naquele lugar (segunda foto).
 Atravessado o portal, para quem quiser marcar simbolicamente o Caminho, há uma pinguela como opção, ou pode ir pela ponte. Vira-se á direita, pegando uma estrada municipal de terra, em aclive, para variar, que costuma ter certo movimento de carros, é bom ficar atento.
Até um tempo atrás, depois de subir e começar a descer, havia um desvio por meio de uma plantação de eucaliptos, que evitava o trânsito da estrada e tornava muito mais agradável o trajeto: um pequeno bosque, mais uma pinguela, uma passagem à beira da estrada, mais alguns eucaliptos e depois voltava à estrada, mas apenas por poucos metros, pois logo saia à direita, cortando por canaviais, cafezais, mais eucaliptos e até laranjais, sem falar em belas lagoas como a da terceira foto.

Mas, isto é coisa do passado. Não sei qual o motivo, mas o Caminho não segue mais por lá. Agora vai sempre pela estrada municipal até que uma das setas amarelas o leva para outro lado. A estradinha de terra ganha asfalto e torna-se opção para quem quiser chegar mais rápido a Casa Branca. Para os que vão pelo Caminho, é só seguir as setas, percorrendo estradinhas de terra, não demorando muito para se atingir a cidade. Chega-se pela região norte, percorrendo um trecho de uma avenida e virando-se à direita, mais uma vez em aclive,  percorrendo-se ruas com asfalto até chegar à Pousada Nossa Senhora do Desterro, ao lado da igreja. Quem vai dormir aqui precisa reservar com antecedência. O jantar neste local, assim como o café da manhã, são muito gostosos.
Na saída de Casa Branca, desce-se pela avenida à frente da igreja, subindo do outro lado e, caso seja horário de almoço, aqui vai uma dica: tem um restaurante no último quarteirão antes de chegar à praça da matriz, do lado direito da rua (do lado esquerdo, na esquina, tem uma padaria/lanchonete).  Depois, contorna-se a praça ao lado da matriz, virando à esquerda, depois à direita, por uma rua na contra mão, em declive. Sobe mais uma vez, vira-se à direita, margeando um bosque, mas por pouco tempo: você é instado a penetrar nele pelas setas amarelas. Um trecho agradável, em meio às árvores. Veja a foto:
Saindo do bosque, cruza a rua, segue em frente para virar à esquerda logo em seguida e, pouco depois, pegar uma passagem à direita, cruzando sob um viaduto e seguindo em frente. Você percebe que está no caminho certo pelas inúmeras marcações em amarelo nos mourões da cerca á beira da estrada. Mas não por muito tempo: logo tem uma placa indicando que se deve virar á direita, por um caminho em meio ao mato, passando por trás dos terrenos de algumas empresas, até sair de novo numa estrada asfaltada. Está pensando que vai pela estrada? Não! Cruza-a, (se não me engano até são duas estradas asfaltadas) segue outra vez um caminho em meio ao matinho, aliás, muito agradável para o ciclista, pois é bem liso e plano, com ligeiro declive. Até chegar à estrada Casa Branca-Vargem Grande. Aí é necessário ir pelo acostamento, até encontrar o pedágio, um pouco mais de seis quilômetros. Mas, fique atento: quando estiver se aproximando do pedágio, vá pela contra mão da estrada, pois a saída do Caminho é para a esquerda, bem ao lado do pedágio. Certa vez seguimos pela direita e não vimos a placa que indicava saída para o outro lado. Resultado: fomos pelo asfalto até Vargem Grande.
Segue, então, por estrada de chão batido, bem dura e cheia de “costelas”. Corta um canavial, para descer em seguida por um carreador lateral, cheio de buracos de enxurrada, até chegar a uma porteira de madeira. Após atravessar a porteira, você vai “curtir” uma das trilhas mais inusitadas: caminhos de vacas, entre a relva, muito estreitos e cheios de recados das ditas cujas: “Ei, estivemos aqui!” Você já deve saber do que estou falando.  A sorte é que o terreno é plano... Depois de atravessá-lo, chega-se a outra porteira e a uma insólita ponte de madeira (veja a foto), sobre uma estranha corrente de água que, de cima, dá a impressão de ser tremendamente salobra.
 Principalmente olhando-se para a direita, no que parece ser uma espécie de pântano, muito esquisito... Atravessada a ponte, sobe-se uma ligeira encosta até chegar a uma “deliciosa” estradinha de terra firme, bem clara e lisa, contornado uma reserva florestal. Saímos à esquerda, cruzamos uma plantação em ligeiro declive, passando em frente a uma pousada, que não está credenciada pelo Caminho. Uma subida, ao lado de uma cerca viva de pingos de ouro, uma “avenida” ao lado de bambuzais e seguimos através de hortas e plantações até uma “tranqueira”. Tranqueira? Você sabe o que é isto? Não é o que você está pensando! É uma porteira de arame farpado e madeira. Após cruzá-la, segue-se por trilhas de gado, passa-se outra tranqueira e continua por um gramado. Veja a foto que tive a felicidade de conseguir neste local:

Cruza-se o interior de uma fazenda, entre as casas, em meio a um pasto, até chegar novamente à estrada de terra. Se for época de seca, como julho, por exemplo, a estrada será perigosa porque estará com grossa camada de terra bem fina e, além de muita poeira, poderá proporcionar buracos encobertos, que se tornam verdadeiras armadilhas. Cuidado! Mas, se for época de chuvas, poderá haver muito barro e aí, também, todo cuidado é pouco. Você já estará chegando à cidade. Siga a sinalização, que o levará ao Hotel Príncipe, para carimbar a credencial e reabastecer de água.
Na saída de Vargem Grande, muita atenção nas setas amarelas. Há umas “quebradas de esquinas” que não podemos deixar passar, para não errar o caminho.  Após sair do asfalto, tem uma subida forte e segue assim, entre subidas e descidas, por boas estradas de terra, até encontrar uma placa que marca a subida para a pousada da Dona Cidinha. E que subida! É preciso muito sacrifício e disposição para encará-la, especialmente por estarmos no final da jornada e querendo mais é sentar e descansar...  Veja uma foto do local:
Mas tudo compensa: a Cidinha é uma pessoa fora de série e, mesmo que você tivesse intenção de seguir direto, dê um tempo, pare um pouco e divirta-se com o bom humor e extraordinária acolhida que nos proporcionam, tanto ela quando seu marido Francisco, seu filho Junior, a nora Janaína e o Netinho, que figura! Pode ter certeza que vale a pena.
Mas, acabei me estendendo muito. O quarto dia fica para o próximo. Até!