sábado, 16 de fevereiro de 2013

Trilha a pé em Cantagalo - Parte II

Num determinado momento passamos por um pé de urtiga. Na parte de cima da folha você pode tocar, sem problemas, já na de baixo, nem pense! 
A plantinha da próxima foto é utilizada nas floriculturas para compor arranjos. Seu formato e as cores ajudam a embelezar ramalhetes e afins... 
A plantinha a seguir é conhecida como unha-de-vaca. Pelo folclore local, as moças que conseguirem abrir a folha mais nova do ramo (veja no detalhe), sem estragá-la, vão conseguir arrumar namorado...
E esta a seguir é a erva-de-rato. Se o gato comer, morre!
Um dos marcos da divisa SP-MG mostrado no detalhe. Ele está localizado bem ao pé deste pinheiro.
A crença popular diz que se a frutinha do juá (foto ao lado) for aquecida, partida ao meio e colocada sobre furúnculos, tem o poder de atrair o carnegão para fora.
Finalmente chegamos: Pedra da Onça. Altitude: 1.692 m. A placa que contém a informação foi confeccionada com erro. Pausa para um descanso e lanchinho para repor as energias.
A visão de cima da pedra (foto ao lado). As primeiras casas que se vê abaixo são do Bairro do Alegre e bem ao fundo, a cidade de Brasópolis.
Iniciamos a volta, que não é feita pelo mesmo caminho da vinda. A trilha é um circuito que se fecha no bairro do Cantagalo. Em uma clareira da mata, avistamos a famosa Pedra do Baú.


Encontramos aqui um exemplar do xaxim, que é uma samambaia pré-histórica, cujo tronco é utilizado para extração dos famosos vasos de mesmo nome. Reza a lenda que quem quiser entregar a alma ao diabo, é só jogar truco, na sexta-feira santa, embaixo desta planta!
As intensas chuvas que têm ocorrido, acompanhadas de fortes ventos, às vezes fazem estragos na floresta: esta árvore não resistiu e foi arrancada, expondo no ar sua raiz...

Em mais uma clareira da trilha, pudemos avistar a cidade de Paraisópolis. Continuávamos, ainda, bem no alto da montanha...
A descida agora era difícil e a ajuda dos guias, imprescindível. O bom humor, porém, prevalecia.

Encontramos também a taquara, espécie de bambu utilizada em artesanato, especialmente na confecção de peneiras.

Faltavam três quilômetros, mas para nosso psicológico eram 300... 

Uma pinha, que foi derrubada pelos ventos, ainda verde. Veja nos detalhes, depois de partida, as partes interna e externa. Não confundir com a pinha fruta-do-conde. Esta é a que produz os pinhões. Nunca é vista madura, pois quando os pinhões se encontram prontos, ela se abre ainda no pé e os frutos se espalham pelo chão. É uma fonte de renda no bairro, pois os pinheiros se espalham fartamente pelas encostas e morros.

Mais fotos, agora da descida:






Finalmente, a visão de Cantagalo. Agora está perto... 
Por trás da árvore seca, uma plantação de azeitonas, que está abandonada. Mas há na região, agricultores que se ocupam da produção de azeite de oliva com sucesso, devido ao clima frio que predomina a maior parte do ano. O produto acabado atinge preços muito bons no mercado.
No final da trilha, o joelho começou a falhar. O jeito foi pedir carona a um cavaleiro cavalheiro que passou, que por sorte, era conhecido dos guias. O Sr. João, vereador em Luminosa-MG, incontinenti e gentilmente cedeu seu cavalo e acompanhou-nos a pé. Agradecemos muito seu gesto.
 Assim, terminamos o circuito, de volta à Pousada do Galo, onde estávamos hospedados. Muito limpa e arrumada, com o cuidado e o carinho de Dona Helena, mãe do Daniel.
                                            
Agradecemos, aqui, os guias, foram fantásticos. Competentíssimos. Aliás, o Daniel, pela postura e pela divulgação dos pontos fortes do bairro, que vem se desenvolvendo rapidamente com a exploração do turismo, um dia será o prefeito, quando o povoado se emancipar... Não sei se ele é igual ao Raul Seixas e não quer ser prefeito, mas age dando força aos produtores locais, seja de queijos, de roscas, de doces ou artesanato, promove o turismo desenvolvendo trilhas ecológicas com seu parceiro e incentiva a prestação de serviços, como a casa de café da Dona Aninha. Parabéns, pessoal. Seu grande trabalho certamente será recompensado com o merecido sucesso e o pleno atingimento de seus objetivos. 

Trilha a pé em Cantagalo - Parte I


Segunda-Feira de Carnaval. Carnaval? Que nada, trilha a pé no Cantagalo. 
Saímos às 9 h e 15 min, que ninguém é de ferro. Afinal, na véspera, fora dia de pamonhada, no sítio do Emílio, em Paraisópolis e muita chuva. Ainda havia poças d’água pelo caminho e a trilha, com certeza, ia estar muito úmida, prá não dizer enlameada. 
Nossos guarda-costas seguiam junto, só que guardando a frente... Duque, o maior e Amiga, que ganhou o nome no trajeto. Ela vive na rua, aparentemente não tem dono e resolveu nos seguir. Ambos eram muito dóceis e caminharam conosco o tempo todo. 
O objetivo era atingir a Pedra da Onça, que ganhou este nome após a ação de um desses belos felinos na região, quando matou e arrastou cavalos para a mata, para se alimentar. Segundo os guias, José Régis e Daniel, o número de animais mortos pela onça chegou a 15. Ela se alimentava de partes internas da carcaça, tal como o coração e outras, depois abandonava o corpo.
No início, era uma estradinha agradável, plana,  mas sabíamos que a coisa ia ficar “feia” depois. Seriam 11 km através de pastagens e matas, no alto das montanhas da Serra da Mantiqueira, na divisa de São Paulo com Minas Gerais. Para quem não sabe, Cantagalo é um bairro afastado do município de São Bento do Sapucaí.

Logo no início, começaram as histórias dos guias, especialmente do José Régis. Eles nos mostraram um arbusto, chamado guaxuma, que na minha região costumamos chamar de vassoura. A plantinha dá uma florzinha pequena, branca ou amarela, que se abre ao meio dia. Os nativos do lugar, na sexta-feira santa, dia de jejum, não usavam relógios para saber a hora de se alimentar. Só o faziam quando a flor da guaxuma se abria...
 

Aqui acaba a moleza (fotos acima). Na casa do artesão Zé Romeo, que posou com sua netinha, pegamos uma estradinha nova, que começa a subir a montanha. Ele faz artefatos de madeira, como gamelas e pilões e se sustenta e à família, com esta atividade.
Logo passamos por uma mina d’água e aproveitamos para encher as garrafas, que eram levadas na mochila do Zé Régis. 


No caminho, fazíamos muitas perguntas e os guias sempre nos respondiam com muita atenção e gentileza. E também nos contavam muitas histórias e crenças da região, que vão enriquecer nosso relato. A imagem a seguir é um destes casos. Fazem idéia do por que deste aparato aí? Não é um suporte de out-door! Está abandonado, mas era um secador de feijão. Os pés da leguminosa eram pendurados nesses bambus para secar, aproveitando o sol.

Primeira surpresa do caminho: conhecem esta frutinha aí? (foto abaixo). Eu não conhecia. Chama-se fragaia, é uma fruta silvestre e cresce abundantemente na região. Tem um gostinho diferente, saboroso. Durante boa parte do caminho íamos colhendo e comendo estas delícias.
O caminho era agora muito íngreme e a subida forte mexia com os músculos e com o psicológico. A paisagem, no entanto, compensava qualquer sacrifício... 

















Não demorou nada para acabar a estrada. Seguíamos agora por caminhos de vacas, em meio ao pasto, esforçando-nos para não torcer os pés nos altos e baixos das trilhas.
Esta árvore, que segundo o guia chama-se barbaço, é utilizada pelo gado para se coçar. Interessante é que foi a única em toda a trilha com o desgaste na casca do tronco, provocado pelas esfregadas das vacas. Observe que não há vegetação em volta da árvore, o que significa que as reses usam sempre o mesmo lugar para descansar e se coçar...   
 Aí chegamos à divisa SP-MG. Esta cerca que aparece na foto separa os dois estados. Mais adiante mostraremos o marco.
A trilha está estruturada e sinalizada, embora nesta época do ano o mato cresça rapidamente, o que requer manutenção constante.

Neste ponto, a floresta nativa é muito densa e nos cerca por todos os lados. Nesta região havia muitos porcos do mato e esta trilha foi criada por caçadores que a percorriam em busca desses animais.
Observação: não vou mais citar os guias, porque está ficando repetitivo. Vamos combinar uma coisa: tudo o que eu disser aqui, foi deles que ouvi.
Esta árvore da foto tem um fungo avermelhado cobrindo a casca. Este fungo só ocorre quando há muita pureza no ar. Vimos, na floresta, muitas árvores com esta coloração, em pequenas porções. Esta foi a maior delas.
Aquela pequena cúpula que se vê bem no alto da montanha é o observatório espacial da Universidade Federal de Minas Gerais, que fica no município de Brasópolis.
Veja agora uma sequência de fotos da trilha. Observe que em determinados momentos, ela nem existe. É só mato... 




































 

Continua na parte II.