segunda-feira, 18 de outubro de 2021

Caminho da Fé - Ramal de Franca - Julho de 2021

Percorremos de bicicleta, em julho de 2021, o ramal de Franca do Caminho da Fé e nossas impressões estão relatadas a seguir.

Dividimos a apresentação por trechos percorridos para melhor visualização.

Esperamos trazer informações que sejam úteis a quem pretenda percorrer o ramal e esteja buscando saber mais sobre o caminho.


Franca/Patrocínio Paulista/Itirapuã - 1º trecho - 07/07/2021

O trecho poderia ser resumido em uma palavra como árido, não pela existência de areia propriamente dita, mas pela ausência de cobertura vegetal. Atravessamos muitas áreas recém plantadas ou apenas preparadas para o plantio, com aspecto de terra nua.  
Mas, na saída, ainda na cidade, um belo ipê florido alegra a despedida de Franca: 
Ao adentrar a estrada de terra, voltamos a enfrentar as altas, arenosas e indesejáveis "costelas", características do trecho, com as quais já havíamos sofrido na véspera, quando chegamos a Franca pedalando, a partir de Ribeirão Preto. Porém, no km 614, saímos dessa estrada para uma estrada rural melhor à esquerda, onde está um marco da Fazenda São Manoel: 
Há muito pó no leito da estrada, mas o tráfego é mínimo, não ocorrendo com frequência a sufocante poeira de terra roxa: 
Há, neste primeiro trecho, uma única passagem com árvores formando um corredor, embora se tratasse de eucaliptos, que não produzem muita sombra: 
No km 606 uma velha paineira e um pouco adiante, uma árvore que não sei identificar, dão ideia da aridez de que falamos: 

Notem o pó na estrada e o efeito na cor da vegetação: 


Nossas fotos, que sempre focalizam plantas ou recortes bonitos do caminho, acabam distorcendo a realidade. As próximas duas, por exemplo, mostram áreas sombreadas muito raras neste trecho:  

A primeira cidade a atravessar é Patrocínio Paulista, da Igreja de Nossa Senhora do Patrocínio. Aqui, se houver necessidade de serviços para a bicicleta, basta seguir pela Avenida Diamante, que é a principal da cidade e a que você toma ao chegar de Franca. Há uma bicicletaria bem no final, que fica atrás do Centro de Esportes e Lazer, duas quadras após o posto de combustível e é fácil de identificar pela quantidade de bicicletas na rua. Nós utilizamos seus serviços que foram rápidos, eficientes e com preço justo. 
Aliás, quem vai de bicicleta é bom ficar atento quanto à sinalização no trevo que fica na saída de Patrocínio Paulista. Geralmente os ciclistas pedalam no mesmo sentido do tráfego, pela direita da estrada e a marca do Caminho da Fé para virar à esquerda, está do lado esquerdo da pista. Nós não a vimos de início e só a descobrimos quando voltamos para verificar, já que não encontrávamos sinalização à frente, seguindo pelo asfalto. 
O trecho Patrocínio/Itirapuã não apresenta maiores novidades.
Registramos, entretanto, a generosidade do proprietário de uma chácara, que instalou uma pia com uma torneira de água potável, a certa altura do caminho, propiciando reabastecimento dos reservatórios de água e um delicioso "refresco" ao passante, que enfrenta o sol causticante, no nosso caso, do início da tarde. A imagem está na terceira foto: 



Ficamos em Itirapuã na Pousada Casa Verde, ao custo de R$80,00 o casal. São pequenos apartamentos com entradas independentes, parede-meia entre si, com frente para a rua, porém em um local de pouquíssimo movimento, bem tranquilo. Razoável. 


2º trecho: Itirapuã (SP) a São Tomás de Aquino (MG) - 08/07/2021

A praça central de Itirapuã é muito bonita e bem cuidada: 

A topografia da região é montanhosa, a mesma do sul de Minas Gerais, mas nem poderia ser diferente, porque é lindeira a ela. Contei, entre Itirapuã e São Tomás, 9 trechos em ascensão, mas não são subidas "brabas" nem muito longas, as quais se consegue pedalar em marchas leves, mesmo que lentamente. Há plantações de banana, muitas de café e eucaliptos:













A placa abaixo assinala a divisa dos municípios de Itirapuã com São Tomás de Aquino:
Na lateral esquerda da estrada, o marco da divisa de estados: 
Estrada geralmente boa. A grande quantidade de pó, conforme já citei, não chega a incomodar devido à praticamente inexistência de tráfego: 
Nesta fazenda conseguimos água para reabastecer as caramanholas: 
Nas próximas fotos, cenas de um caminho "gostoso", porém que não oferece moleza ao ciclista: 



Eu tinha muita curiosidade de ver e nesse dia acabei conseguindo assistir à colheita mecanizada de café: 
Foram 2:50 h de pedal, embora tenhamos levado 5 horas para efetuar todo o percurso deste trecho. Paramos muito para fotografar, para admirar a natureza, para assistir à colheita do café com máquina, para curtir uma sombra, tomar água, etc. 
Almoçamos e jantamos em São Tomás de Aquino no Restaurante Avenida, à Av. Clemente Faria, nº 755. Telefone: (35) 3535-1573 - Excelente. Recomendamos.
Dormimos na Pousada Casa Grande, da Patrícia. O custo por casal foi de R$ 120,00. Também recomendamos pelo conforto e qualidade de atendimento oferecidos, excelente.


3º trecho - São Tomás de Aquino a São Sebastião do Paraíso - 09/07/2021

Antes de sair de São Tomás registramos a Pousada com a Patrícia e os filhos: 

A praça que fica em frente ao hotel, onde está a igreja principal da cidade, também é bonita e bem cuidada (o crédito das fotos é de nosso amigo Marcos Koyama, peregrino, que apresentaremos mais à frente): 

Partimos com destino a São Sebastião do Paraíso, conscientes de que estamos na Serra da Mantiqueira e que, portanto, o dia será de "sobes" e "desces" constantes. E, logo que saímos da cidade, percorremos uns 700 m na margem da estrada asfaltada e o Caminho já nos direciona à esquerda, numa subida feroz por uma estrada de terra, ao lado de um cafezal: 

No geral o trecho de hoje é mais arborizado e, o que é uma constante em todo o ramal, a estrada boa para pedalar. 
Todas as fotos estão em ordem cronológica, portanto dá para ter uma ideia do Caminho pelas imagens:















O último pedaço da estrada, antes de chegar a São Sebastião do Paraíso é perigoso para o ciclista: muito tráfego de veículos, inclusive pesados, areia acumulada dificultando o pedal e poeira constante. Ao surgir a cidade, uma pequena capela dá as boas vindas a quem está chegando: 

Enquanto pedalávamos nos dirigindo para o hotel no qual havíamos feito reserva, passamos por mais uma charmosa igrejinha: 
Em São Sebastião do Paraíso ficamos muito bem instalados no Hotel BM, espaçoso e confortável, com atendimento impecável. Tem também nossa recomendação. A diária de casal nos custou R$ 170,00. 
Almoçamos em um restaurante de auto serviço, chamado Avenida, que fica próximo do hotel, no qual fomos muito bem atendidos e servidos. Mais um que recomendamos. Porém, à noite, não abre. O jantar foi no Restaurante Chopani, onde não nos demos muito bem. A pizza servida parecia requentada e a massa estava ressecada.


4º trecho - São Sebastião do Paraíso a Itamogi - 10/07/2021

Neste trecho fiz um apanhado mais detalhado do caminho, o qual vou descrever aqui. Tenho uma certa relutância em fazer isso, porque acho que a leitura não fica atraente e ninguém vai ficar lendo o texto enquanto está caminhando ou pedalando. Mas, logicamente, pode ser lido antes, para ter uma ideia do que se vai enfrentar.
Depois que saímos do hotel, passamos em frente a um depósito de material de construção, onde belos ipês floridos chamavam a atenção: 
Na saída da cidade, após atravessar a passarela sobre a BR-491, seguindo na contramão do fluxo pela estrada aproximadamente uns 150 metros, o caminho pega uma viela lateral à esquerda. A placa de sinalização do Caminho da Fé que indica a direção a seguir no local foi destruída e nós apanhamos um bocado até entender isso. 
Primeiro, seguimos pelo acostamento até passar o trevo, mas como não víamos nenhuma sinalização do CF, nem para um lado, nem para outro no local, voltamos até a última indicação do CF e ficamos tentando encontrar a marca seguinte, sem sucesso. Então, como último recurso, consultamos o blog do peregrino Oswaldo Buzzo, que acabou sendo a salvação. Através das indicações dele, conseguimos perceber que teríamos que entrar na ruazinha lateral da estrada, o que confirmamos ao descobrir um pedaço da placa do CF que existia ali quebrado no chão. 
A ruazinha passa ao lado da Aroeira Madeiras, atravessa a MG-265 e sobe pela primeira vez no dia, do outro lado. 
Seguimos assim por essa larga e boa estrada rural em terra, na qual há um trânsito razoável, portanto bastante poeira: 



Após passarmos pelo marco do km 512 (foto acima), enfrentamos um extenso areal, que dificulta a pedalada. Porém, logo vertemos à direita, entre chácaras que, por ser final de semana, apresentavam grande movimento de pessoas com músicas em alto volume e algazarra. Um trecho curto porque o Caminho já assinala virada à esquerda, em ascensão, se não me engano, a 5ª subida do dia, bem acentuada, porém curta.
Desembocamos em um imenso e belo cafezal, seguindo em plano por uma estradinha muito boa em meio à plantação: 
Falei cedo demais. A boa estrada se transforma num profundo areal, impossível de pedalar. Empurramos um pouco no plano (suplício do ciclista), depois viramos à direita, em mais uma descida. Passamos ao lado da sede da fazenda, iniciando uma sequência de pequenas subidas e descidas, alcançando um belo eucaliptal, mais uma vez em ascensão: 
 
Atravessado o bosque de eucaliptos, tivemos pequeno trecho plano, para voltar a subir em direção à estrada asfaltada, à qual chegamos no km 506: 
Adentrando o asfalto, continuamos a subir pelo excelente acostamento da estrada, na contramão do fluxo. Foram 5,5 km de calçamento muito liso e agradável, bem tranquilos. Tivemos a sorte de só cruzar ou ser ultrapassados por motoristas muito cuidadosos, que sempre passavam por nós observando um largo distanciamento. Felizmente!
Daí até a chegada em Itamogi o caminho segue com pequenos planos, descidas e subidas leves, de pouca monta, curtas e sem muita inclinação. 

Passamos por uma antiga estação de trem em desuso, o que sempre me causa muita tristeza, ao pensar nas linhas ferroviárias que o Brasil já teve e que tanto serviam às populações rurais e das pequenas comunidades, que foram desativadas em benefício da indústria automobilística. Um veículo que transporta dezenas ou centenas de pessoas e muita carga, com segurança e conforto, relegado a plano secundário por políticas públicas que atendiam apenas desejos privados. Sabe-se lá por quais espúrios desígnios. 
Incrivelmente, um pouco antes de Itamogi, passamos por um trecho asfaltado, com cerca de 500 m de extensão, em meio ao nada. Bem construído, com estrutura para escoamento das águas pluviais, sinalização de solo e sarjetas, embora sem acostamento. Que liga nada a lugar nenhum. Mas tem placa de bronze de inauguração e tudo. Difícil de entender. Termina em um mata burro, onde encontramos esta alameda de coqueiros: 
Por fim, um grande eucaliptal propicia sombra e frescor ao peregrino, antes de chegar à cidade: 
Pernoitamos em Itamogi no modesto Hotel Santa Rita, da Dª Maria. O custo por casal foi de R$ 70,00. A impressão que se tem no aposento é que o espaço do banheiro, muito estreito, foi construído utilizando uma parte do quarto. Café da manhã também bem modesto. 


5º trecho - Itamogi a Monte Santo de Minas - 11/07/2021

O quinto trecho é curto e mantém o estilo da Serra da Mantiqueira, com alternâncias de elevações com descidas, poucos pedaços planos, contendo algumas áreas sombreadas.
De saída, talvez a subida mais forte, ainda dentro da cidade: 
As fotos dão uma boa ideia do agradável percurso, embora, após uma longa subida seguida da respectiva descida, haja um pedaço da estrada bem ruim, muito rústico, com grandes pedras ressaltando do solo, além de outras menores fixas e soltas, entremeadas a grossas camadas de pó. 





A bicicleta em sentido contrário para mostrar a sinalização do caminho:



Geralmente, nessa região, sempre se encontram pequenas capelas à beira da estrada: 
E este é o peregrino Marcos Koyama, com quem convivemos diariamente a partir de Itirapuã e que gentilmente nos cedeu algumas fotos: 
Após o trecho rústico que citei acima, a parte final do percurso alternou pequenos planos, subidas e descidas curtas e de baixa inclinação. Uma grande área de lazer é o cartão postal da cidade que nos recebe:
Ficamos em Monte Santo no Hotel e Restaurante São José, a R$ 130,00 o casal. Muito bons, tanto as acomodações para dormir quanto a comida do restaurante. Recomendamos. 


6º trecho - Monte Santo de Minas a Arceburgo - 12/07/2021

Seguindo a premissa de que uma imagem vale mais do que mil palavras, vamos escrever pouco e mostrar muitas fotos do trecho de hoje. Uma estrada muito boa, um caminho dos sonhos, todo o trecho com apenas uma subida acentuada na chegada a Arceburgo: 











E alcançamos novamente o peregrino Marcos Koyama, cuja companhia desfrutamos um tempo:









Então aparece à frente a cidade de Milagre:




Almoçamos em Milagre, desfrutando uma saborosa comidinha mineira e usufruindo de uma atenção ímpar da proprietária e suas ajudantes, no Restaurante Lázaro e Família, na Avenida Plinio Quinette. O restaurante tem uma entrada também pelos fundos, onde podem ser deixadas as bicicletas à vista enquanto se faz a refeição: 






Nesta fazenda (próxima foto), entre Milagre e Arceburgo, fácil de identificar pelo símbolo do CF pintado na parede, segundo seu proprietário, com quem conversamos, será instalada uma pousada para os peregrinos: 



Ficamos em Arceburgo no Hotel David, da Dª Cecília que, aliás, está à venda, segundo ela. Muito bom em todos os sentidos. Recomendamos. Diária de R$120,00 o casal. 


7º e último trecho - Arceburgo (MG) a Tapiratiba (SP) - 13/07/2021

Como em muitos outros lugares da Mantiqueira, nas proximidades de Arceburgo também tem uma igrejinha à beira da estrada: 
No dia de hoje, o trecho é mais árido do que os outros, só comparável ao primeiro dia, entre Franca e Itirapuã. E fica na média de todos, exceção ao de Monte Santo a Arceburgo, que é mais leve, com relação à altimetria, com boas subidas e as consequentes descidas. No geral, como praticamente em todo o ramal, estrada boa, com aquela poeira típica da época: 














Almoçamos em Igaraí, que é um distrito do município de Mococa, em uma padaria localizada na região central, que serve refeições. Único lugar na pequena cidade, conforme pudemos constatar, perguntando a moradores locais. 
Depois de Igaraí, o pior trecho do dia, atravessando grandes extensões de terra lavrada, completamente sem árvores: 

Uma grande moita de bambus propiciou um refresco:

Descansamos no Tapiratiba Hotel, do sr. Onofre, a um custo de R$ 160,00 o casal. Bem confortável. 
Encerramos nosso percurso do ramal de Franca em Tapiratiba, porque já apresentamos anteriormente, em outras postagens do blog, a sequência do CF, quando percorremos o ramal de Guaxupé. 
Podemos resumir como sendo um caminho de nível moderado, com estradas boas, que desfruta da beleza natural da Serra da Mantiqueira e das tradicionais hospitalidade e gastronomia mineiras. As cidades de São Paulo que ficam no roteiro têm o mesmo jeitão das de Minas, pois estão ali bem próximas da divisa. 

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