domingo, 27 de junho de 2021

Caminho de Cora Coralina - 12ª e última etapa - Fui e gostei do sertão de Goiás

Da Pousada Caminho de Cora a Goiás - 04/06/2021

Despedimo-nos do Divino e da Rosângela e partimos às 7:50 h: 

Deixamos a pousada através de uma estrada boa para o ciclista: 
Mas não durou muito. 
Logo deparamo-nos com um belo riacho para atravessar. A profundidade chegava a uns 20 cm e a largura em torno de 5 m e o pedal divertido: 




Saímos dali em aclive e a estradinha continuava boa, em meio ao cerrado, por uns 2 km. 



Estávamos sendo acompanhados pelo cachorrinho da pousada, que resolveu seguir conosco. A Rosângela já havia avisado que ele tem o costume de acompanhar as pessoas do Caminho, mas que sempre retornava para casa depois. 


Dois quilômetros depois começou uma single track pra valer, com a vegetação bem alta: 







Já bem na parte mais baixa do trecho, mais um curso d'água para atravessar, com grandes pedras em seu leito:  

Do outro lado, um terreno bastante acidentado e íngreme:


Encontramos uma árvore com lindos frutos verdes, mas não sabemos identificá-la: 
Finalmente, no alto, chegamos a uma estrada bem rústica, pela qual seguimos e foi a última vez que vimos o cachorrinho da pousada. Logo encontramos um motociclista com 4 cães que o acompanhavam e eu imaginei: Xi, coitado do cachorrinho! Mas, nada aconteceu e não o vimos mais. Acredito que, quando ele percebeu que a parada ia ser dura, bateu em retirada. Bobo é outro! 


Passamos por algumas fazendas e entramos novamente em uma trilha. De repente - sabíamos que ia ser hoje, mas não esperávamos tão cedo - apareceu a cruz que simboliza o túmulo do Chico Mineiro, aquele da música imortal da dupla Tonico e Tinoco. Há uma grande emoção em estar ali, compartilhar do mesmo espaço. É como se você se transportasse misteriosamente para dentro da música e os acontecimentos que ela descreve passam como um filme na sua cabeça. Não dá para ficar indiferente... Dizem, entretanto, que ele não foi enterrado ali, mas não há indicação do local exato onde a morte ocorreu. Ao lado da cruz há uma placa, porém sem conteúdo. Não sei se foi destruído pelo tempo ou surrupiado por algum vândalo. 


Uma fila dupla de pedras indica a direção a seguir a partir dali. 
A trilha envereda, entretanto, para um amontoado de pedras grandes, em meio às árvores. De início, é até difícil imaginar para onde o Caminho vai continuar. Observando atentamente, verificamos que ele segue por dentro de uma fenda na terra, com muita e densa vegetação dos dois lados e pedras, muitas pedras, em seu fundo. Só mesmo empurrando as bicicletas, em aclive, com força e com vontade. 



Há uma barra horizontal pintada com as cores do Caminho para indicar a direção. 









A fenda não é longa, tem uns 20 a 30 m de comprimento. No seu alto, um portão velho e decadente dá passagem para uma estrada rural. 
Fizemos então uma paradinha estratégica à sombra de umas árvores para comer um lanche: 
E partimos, descendo agora. Chegamos a uma área onde foi construída recentemente uma enorme casa, que acredito pertencer a algum endinheirado da região. Há 2 represas nas proximidades da casa e grande movimentação de terra, que melhorou a travessia para pedestres e ciclistas. 




Subindo um pequeno tope, viramos à direita, continuando o contorno da grande casa, entre duas cercas de arame. Do lado esquerdo, uma plantação de milho. 

Logo viramos à esquerda e continuamos o pedal por uma estrada larga, agora com milho dos dois lados, deixando a mansão para trás. 
Havíamos percorrido hoje, neste ponto, 6 km em 2 horas. Encontramos trabalhadores executando uma obra que parecia ser uma rotatória, em meio ao milharal, que acredito será uma espécie de portal de entrada da fazenda. Agora em declive, continuamos em meio ao milho até atravessar um mata-burro de luxo, inteiriço, com barras de ferro de grosso calibre fazendo o suporte. 100 m adiante, mais demonstração de poder financeiro do proprietário: um grande aterro, muito bem feito, com canalização do curso d'água e uma ponte de concreto, muito melhor do que a maioria das pontes de zona rural que a gente cruzou no Caminho, que são, geralmente, de madeira. No final do aterro, uma bela árvore: 
Daí seguimos por estradas boas um bom tempo. 



Aos 10 km de pedal chegamos às ruínas de Ouro Fino, povoado abandonado totalmente deteriorado pelo tempo, imortalizado na música famosa a que já nos referimos. Há restos de casas e da igreja. Foi colocada, no local, uma placa contendo várias informações e avisos a quem está no Caminho. Tem até a letra da música Chico Mineiro: 









Daí para a frente, seguimos por estradas que alternavam subidas e descidas, sempre em meio a muito cascalho e pedras. 



Passamos por fazendas e neste trecho a marcação do Caminho é muito restrita, encontram-se muito poucos sinais. Seguíamos aquele instinto de ir sempre pela via principal, confiando que, se tivéssemos que virar para algum lado, haveria sinalização. E foi dando tudo certo. Passamos por um curral, atravessando um colchete e uma porteira, num espaço de 5 metros, onde havia som de música, mas não visualizamos ninguém. Seguimos em frente pela estrada rústica, por não haver nenhuma marca do Caminho. Descemos e subimos do outro lado e iniciamos uma descida mais acentuada, em seguida, num local onde haviam sido roçadas as laterais e o mato cortado preenchia quase todo o leito da estrada, tornando a descida mais suave, pois amortecia os solavancos das pedras que ultrapassávamos. Paramos para tirar uma foto e enquanto nos preparávamos, apareceu um ciclista, Anderson, de Brasília, que também estava percorrendo o Caminho. 
Ele continuou conosco até o final e disse que, em cada lugar que passava, as pessoas o informavam de que estávamos no Caminho, que havíamos passado há um determinado tempo e ele acelerou para nos alcançar. Por um bom tempo pedalamos sobre o mato cortado e em seguida chegamos à comunidade de Ferrero, 7 km depois de Ouro Fino. 




Prosseguimos pela estrada, até chegar ao asfalto. 

Rapidamente, com duas descidas vertiginosas e apenas uma subida, chegamos ao portal de Goiás. 

Entrando na cidade, passamos por uma barreira sanitária e dois ou três quarteirões depois chegamos ao Museu de Cora Coralina. 

Dirigimo-nos, em seguida, para a Pousada Chácara da Dinda, onde havíamos reservado o pernoite. Na chegada, um vídeo feito pelo Anderson: 
Foram hoje 27 km bem aproveitados e a gratidão à vida por havermos concluído o Caminho sem nenhum incidente. Uma dádiva, já que enfrentamos muitas pedras, desde os pequenos cascalhos, até aquelas de toneladas de peso. Só algumas marcas de carrapatos nos pés... 
A Sarah comanda a Pousada Chácara da Dinda e posou conosco ao lado das filhas: 
A diária na Casa da Dinda foi de R$230,00 o casal, só pernoite e café da manhã. Refeições à parte, comida boa...