terça-feira, 15 de junho de 2021

Caminho de Cora Coralina - Trecho 3 - Também "fui lá pro sertão de Goiás!"

Do Sítio Lavrinhas a Pirenópolis - 25/05/2021

A estadia no Sítio Lavrinhas é confortante e agradável e todo o bem estar e atrativos naturais oferecidos tem um preço: R$ 340,00 o casal, incluídos um lanche de boas vindas, um saboroso jantar (no nosso caso uma deliciosa costelinha de porco) e um magnífico café da manhã, onde nos foi oferecido um gostosíssimo pão caseiro, feito pelo próprio Bismarque que, segundo ele, é moeda de troca com parceiros da região, por outros bens que ele não tem no sítio.

Por sugestão do Bismarque, fizemos, antes de iniciar o pedal do dia, uma caminhada por uma esplêndida trilha em meio à vegetação, com 2 km de extensão, dentro da própria área do sítio e que atravessa parcialmente propriedades vizinhas: 




A trilha leva a um encontro de águas maravilhoso, quando o Rio das Almas recebe o Córrego Olaria, ambos claros e transparentes e que correm graciosamente em meio à floresta. Pedras foram colocadas estrategicamente para que o apreciador se sente e desfrute da beleza e sonoridade das águas. Um encanto para se curtir e embevecer a alma: 




A trilha, em formato de circuito, continua acompanhando o rio das Almas e termina nos fundos da casa do Bismarque: 

O quintal da casa revela surpresas muito agradáveis como esta esplêndida orquídea: 

Na conversa com o Bismarque, ele nos mostrou um dos mapas utilizados nos estudos para estabelecimento do percurso do Caminho de Cora e que mostra as rotas nas quais se basearam: 

Ampliação da legenda para melhor visualização
Hora de partir e da foto de despedida. Notem o Tição, o cachorro que sempre acompanha os viajantes por um bom tempo no caminho e depois volta para casa, fazendo pose: 
O Bismarque se propôs a nos mostrar uma saída alternativa, até uma cerca de arame à beira da estrada que deveríamos tomar, para nos guiar e nos ajudar a carregar as bicicletas. A trilha segue em meio à floresta, com um grau de dificuldade alto, passando inclusive sobre a barragem de uma pequena represa, cujos vãos por onde escorre a água excedente são bem largos, sobre os quais havia necessidade de carregar as magrelas: 

Transposta a cerca sobre a qual erguemos as bicicletas, prosseguimos pela estrada, a mesma que havíamos utilizado para chegar, agora logicamente em sentido contrário. Em ascensão por algum tempo, chegando àquela estrada que serve de desvio para a Cocalzinho/Brasília, com tráfego, descendo um pequeno trecho e retomando a subida do outro lado. O aclive segue até chegar à placa que sinaliza virada à esquerda, saindo da estrada principal para uma via secundária. O local marca a entrada para a Eco Pousada Caraívas: 

A porteira de entrada para a pousada estava trancada, embora a sinalização do caminho indicasse para seguir por ali e havia um passador bem estreito, daqueles em formato de "U" destinado a pedestres, através do qual a bicicleta poderia passar em pé. Com muita dificuldade, retirando os alforjes e as bolsas, pela 2ª vez no dia, passamos as bicicletas e os recolocamos depois, retomando o pedal. Agora, após cruzar toda a área interna da Pousada Caraívas, percorríamos uma estradinha num local agradável, em meio à vegetação, embora bem ruim, com muitas pedras grandes soltas, buracos e erosão das águas pluviais.

O caminho nos conduz então para uma trilha singular e "gostosa" de pedalar, em ligeiro aclive: 

Neste ponto chegamos a uma estradinha sem marcação do Caminho. A própria trilha se bifurcava e surgiu a dúvida: por onde ir? A falta de sinalização na estrada indicava que deveríamos prosseguir pela trilha, então escolhemos um lado e seguimos para ver se encontrávamos alguma marcação adiante e demos sorte, logo surgiu a sinalização zebrada em amarelo e preto em uma árvore. Mais dificuldades, entretanto, logo aparecem e, pelo risco de tombo, em alguns trechos consideramos ser melhor descer da bicicleta: 


E chegamos novamente à estrada, porém apenas para cruzá-la, pois avistava-se a marca do caminho em uma árvore próxima. Subimos por uma estradinha com muitas pedras pequenas e cascalhos e chegamos a um plano bem no alto. Uma pista melhor, onde foi possível desenvolver um pouco mais. Você começa a se empolgar porque avista Pirenópolis, o destino: 



Mas a quantidade de pedras e cascalhos soltos no leito da estrada foi aumentando e a dificuldade na descida também, na mesma proporção: 


Mas o caminho não segue em frente. Enquanto a gente continuava avistando a cidade adiante, uma placa de sinalização indica para virar à esquerda, por uma estradinha secundária, em sentido contrário ao da cidade. Um trecho curto e em seguida chegamos a um lindo riacho de águas transparentes, sem ponte, o qual deveria ser atravessado por dentro da água, conforme sugeria uma sequência de pedras no leito: 



Do outro lado, uma subida em meio e sobre grandes pedras: 
Há, no local, um poço muito convidativo para o mergulho. Não resistimos: 



Encontramos ali um ciclista, que também curtia as belezas e os prazeres do lugar. Em conversa com ele, dissemos que estávamos fazendo o Caminho de Cora, indo para Pirenópolis. Quando nos viu atravessando o córrego, disse-nos que o caminho não era por ali, que tínhamos que voltar à estrada e seguir por lá, porque a sequência, por onde estávamos indo, seria "uma pedreira". Porém, como a sinalização indicava transpor o córrego e subir a pedreira, foi isso que fizemos: 
A descida, do outro lado, não era menos pedregosa: 


Terminada a pedreira, a trilha segue em descenso, um pouco mais larga, porém ainda cheia de cascalho: 
Chegamos a uma outra estradinha, que se avista à frente na foto acima, a qual, num certo ponto, logo abaixo, está interrompida por um corte feito com lâmina de motoniveladora, aparentemente para escoar águas pluviais. Transposto o obstáculo, seguimos em descenso, passando ao lado de uma grande barraca montada por trabalhadores que estão executando algum serviço no local, que suponho tenha a ver com mineração. Em seguida, chegamos novamente a um curso d'água, mais largo, também sem ponte, o qual terá que ser transposto tanto quanto possível sobre pedras enfileiradas em seu leito. Do outro lado, um barranco alto e um emaranhado de raízes e mangueiras  obriga a carregar as bicicletas até um patamar mais plano. Então, retira alforjes, retira bolsas, pé na água, transpõe tudo manualmente, inclusive as bicicletas, porque não dava para subir o barranco estando alforjes e bolsas montados (4ª vez nesse dia): 



Com muita dificuldade, colocadas as bicicletas acima do barranco, remontados os alforjes e as bolsas, acho que nem 10 metros depois somos surpreendidos por uma subida muito íngreme, sobre pedras. O caminho que cheguei a imaginar iria marginar o rio, subia por uma pedreira que nos obrigava a mais uma operação desmonta bagageiros para poder transportar tudo para cima. Aff! 
Muitos vídeos bons do Caminho omitem essas passagens e é lamentável, porque a gente que pretende fazer o caminho completo, enfrenta essas dificuldades que surgem de surpresa, sem ter tido conhecimento prévio, para vir ao menos com o espírito preparado. 



Ultrapassado mais este complicado obstáculo, remontamos as bicicletas com os alforjes e as bolsas e iniciamos a descida do outro lado da pedreira. É uma estradinha razoável, que pudemos percorrer pedalando. Certo tempo depois, entretanto, a marca do Caminho estava em uma árvore que tinha uma cerca de arame impedindo o acesso. Uma cerca construída recentemente, pelo estado dos mourões e restos de vegetação que foi cortada para que fosse fixada. Surge a dúvida: podemos transpô-la? Mas, o que fazer, já que não conhecemos a região, senão passar por cima dela? Assim, desculpem a repetitividade, 5ª vez hoje, retiramos alforjes e bolsas das bicicletas, passamo-las e às próprias, sobre o arame e remontamo-las do outro lado da cerca. O Caminho nos conduz ao Refúgio Avalon, um local de descanso e lazer incrustado em meio à exuberante vegetação, ao lado do já nosso conhecido Rio das Almas. Como já eram 14 horas e estávamos com bastante fome, consideramos a possibilidade de comer alguma coisa no local, porém o estabelecimento estava fechado. Haviam algumas pessoas efetuando reparos em uma caixa d'água, dos quais conseguimos pelo menos água para beber. Dali seguimos por uma estrada boa, cerca de 800 metros até chegar ao asfalto. As indicações do caminho eram para cruzar o asfalto e seguir por uma estrada de terra. Pelo asfalto soubemos que faltariam 1,5 km até Pirenópolis e pela estrada de terra, que ainda passaria pela Pedreira Municipal, 4 km. A um motoqueiro que passava indagamos sobre o caminho via pedreira e ele nos assegurou que teríamos que carregar as bicicletas nas costas. Isto e a fome tiraram definitivamente nossas dúvidas: seguimos pelo asfalto. 
Fizemos contato com o Bispo, do Casarão Dom Bispo, onde pernoitaríamos, o qual nos disse que seria possível preparar-nos o almoço. Assim, tudo resolvido, chegamos a Pirenópolis. Foi um dia difícil e trabalhoso, que nos fez chegar à conclusão que este trecho não está preparado para o ciclista. De início, achamos que era desafiador, porém concluímos que é insano. Há necessidade de se criar alternativas ao ciclista, pois o pedestre pode transpor todos esses obstáculos sem maiores dificuldades, o que não ocorre com o ciclo turista que transporta sua bagagem. Fica a sugestão. 
À noite, guiados pelo Bispo, perambulamos pela bela cidade: 







2 comentários:

  1. Seu relato é muito importante pra que os organizadores do caminho possam num futuro não muito longe, se organizar para que for fazer cicloviagem. Ficar tirando as bagagens a todo momento, acaba não sendo prazeroso. Ao menos indicar alternativas com rotas pra cicloviagem. Parabéns pelo conteúdo

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    1. Alô, Alessandra, nosso objetivo é exatamente esse, apresentar as dificuldades que enfrentamos para que os organizadores pensem em alternativas viáveis e também para que aqueles que tenham intenção de percorrer o caminho conheçam a realidade do percurso.
      Obrigado pela interação.

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