domingo, 1 de outubro de 2017

Circuito Serras de Ibitipoca - Volta das Transições - 1ª Etapa


Para este circuito e, quem sabe, daqui para a frente, mudamos o estilo de viagem. Deixamos de carregar nossa bagagem, geralmente constituída de um alforge na garupa da bicicleta e uma mochila nas costas e contratamos um pacote de uma empresa de turismo, contemplando carro de apoio, transporte da bagagem, reservas para pernoite, meia pensão diária e guia com bicicleta. 
A empresa escolhida foi a Sauá Turismo, de Conceição de Ibitipoca, não por acaso. Seu proprietário, Gabriel Fortes, que pedalou conosco, é o idealizador deste Caminho e trabalhou arduamente no sentido de implantá-lo, desde os contatos iniciais de convencimento das autoridades públicas dos municípios que dele hoje fazem parte, até os  particulares envolvidos, tais como donos de pousadas, hotéis, restaurantes e outros prestadores de serviços do itinerário.
Encontrou resistências de toda sorte, tais como daqueles eternos pessimistas, que lhe diziam coisas do tipo "você vai ficar sozinho nisso", mas com persistência e determinação, foi até o fim, tornando a "Volta das Transições" uma realidade inquestionável, com toda infra-estrutura operacional disponível, para tranquilidade e deleite dos usuários.
Jovem, socorrista, ciclista nativo, Gabriel é um batalhador. Sua família, os Sá Fortes, se instalou no local em 1692. Nós o recomendamos sem qualquer restrição.
A empresa possui um site: www.sauaturismo.com. Os custos podem ser obtidos pelo telefone 32-98404-3905 (inclusive via whatsapp).
Se desejar saber mais sobre o circuito, visite também o site oficial do caminho: www.voltadastransicoes.com, que é mantido pela Associação dos Municípios do Circuito Turístico Serras de Ibitipoca.
O nome, "Volta das Transições", se deve às mudanças de relevo e vegetação, que ocorrem várias vezes durante o percurso pelas 10 cidades que o compõem. Ora sobre a Serra da Mantiqueira, ora serpenteando entre suas montanhas, o circuito é um convite à admiração da paisagem mineira e à curtição de sua gente amável e hospitaleira, percorrendo áreas das bacias hidrográficas do vale do Rio Preto, onde predomina a Mata Atlântica e dos rios do Peixe e altos dos Altos do Rio Grande.

1º Dia - de Conceição de Ibitipoca a Bom Jardim de Minas - 08/09/2017


Começamos pelo que seria a 6ª etapa do roteiro original, onde está o marco de final da etapa 5 e início da etapa 6, em frente à Igreja Matriz do Distrito de Conceição de Ibitipoca. Eram 9 h 30 min.
A igreja, dedicada a Nossa Senhora da Conceição, é do século XVIII e o ponto curioso é que a torre dos sinos fica separada do corpo principal da construção. 
A largada é em direção a Souza do Rio Grande e o trajeto percorre, neste primeiro dia, os chamados Campos das Vertentes. Saímos da pequena cidade de calçamento de pedras, para as estradas rurais de terra e começamos a "comer poeira":  




Nosso guia já havia nos alertado que estávamos pedalando em caminhos que foram percorridos pelo botânico e naturalista francês Saint-Hilaire, que esteve no Brasil entre 1816 e 1822 e descreveu com sensibilidade e admiração a flora brasileira, além de ter enviado caixas de plantas daqui para colônias francesas (o que seria chamado atualmente de biopirataria). 
O primeiro povoado que passamos chama-se Rancharia, onde chegamos às 10 h e 30 min: 
Este local era um ponto de parada das comitivas de transporte de ouro, que vinham de Tiradentes e Ouro Preto, em direção ao Rio de Janeiro ou Paraty. Havia aqui um rancho, onde os tropeiros deixavam suas mulas cansadas e, com animais descansados, seguiam seu caminho. Derivando de "rancho", a localidade ganhou nome de Rancharia.
Seguimos por um trecho bem arborizado e com bastante sombra, deixando pelo caminho o povoado de Várzea do Brumado.




chegamos ao povoado de Palmital, às 12 h e 10 min, onde nos deparamos com um morador local, uma figura, bom de conversa e ávido por uma "branquinha", o sr. Paulinho: 

Veio, em seguida, uma história interessante. Um grande proprietário local, sr. Chico Sidnei, construiu um cemitério particular (foto abaixo), para uso da comunidade (logicamente, os espaços seriam vendidos). Porém, ninguém queria utilizar o cemitério, que permaneceu vazio por mais de 10 anos, até a morte da esposa do proprietário, que é a única ocupante até hoje. O sr. Chico ainda é vivente: 
Seguíamos, ao nosso ritmo, curtindo e registrando a bela paisagem:





Então chegamos a um lugar fantástico, cerca de 25 km depois do início, às 13 h e 33 min. Uma estrada de terra, cuja destinação original era para ser uma estrada de ferro, que ligaria Juiz de Fora a Bom Jardim de Minas. Foram 15 anos de trabalhos praticamente manuais, pois não haviam máquinas ou equipamentos, recortando montanhas e aterrando vales, para deixar o caminho com uma inclinação máxima de 10%, necessária para o tráfego de trens à época. Por desinteresse governamental, que não enxergou potencial econômico na região, a estrada foi desativada e acabou virando pista para veículos rodoviários.  




O veículo de apoio proporcionava, de tempos em tempos, reabastecimento das caramanholas e mimos do Gabriel, tais como frutas e isotônicos. O motorista era o Carlinhos: 
Em trechos com muita poeira, torcíamos para não passar nenhuma condução. Esta foto era a primeira "janela do céu", segundo a Eros Maria:
Aproximadamente depois de 40 km de pedal, chegamos ao Bar do João Cambão, onde tomamos um refrigerante e matamos a fome com pão com ovo e um resto de carne que ele tinha: 
No caminho, encontramos muita plantação de eucalipto. O Gabriel disse que há uma multinacional francesa, a Saint-Gobain, que comprou muitas terras na região e planta eucaliptos para a produção de carvão. Passamos pela fábrica, cujos fornos funcionam 24 horas por dia. Felizmente, ninguém mora nas imediações, pois sofreria as consequências de aspirar fumaça o tempo todo: 

A chegada foi por volta de 17 h e 40 min, quando o sol lançava seus últimos raios e a noite já se prenunciava, proporcionando-nos um lindo por de sol:


As flores do primeiro dia:   

Mineirices do dia, no Restaurante do João Boquinha:

Distância percorrida no dia, definida em nossos odômetros: 66,88 km.
Algumas fotos foram feitas e cedidas pelo Gabriel Fortes, que classificou assim o pedal do dia: "É um roteiro que exige preparo físico, tem uma parte boa, pedalável, mas é considerado difícil, não muito difícil, mas não é para amador. É totalmente em estradas de terra, algumas vicinais, com terrenos variando desde saibro, poeira e terra bem batida".
Jantamos no Restaurante do João Boquinha e pernoitamos na Pousada Chalés Camará.

2 comentários:

  1. Começando meu projeto 'transições'
    Obrigada amigos

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  2. Que maravilha, Claudia! Com certeza vamos poder ver tudo de novo na sua prodigiosa ótica! Abraços a você e ao Filipe.

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