terça-feira, 16 de julho de 2013

Vargem Grande do Sul a Visconde de Mauá - 9º dia - Itamonte à Berta Rural

Usamos parte da manhã para fazer uma visita à Tia Cacilda, freira, que é irmã da mãe da Eros. 
Depois partimos, usando inicialmente o mesmo percurso do Caminho dos Anjos, que percorrêramos antes, em outra jornada, que pode ser vista aqui mesmo no blog, em postagens anteriores. 
A saída da cidade é feita por uma via asfaltada, cruzando bairros periféricos, começando por uma longa subida, até atingirmos a estrada propriamente dita, que liga Itamonte à Alagoa e outros municípios. 
Como curiosidade, avistamos neste trecho, um padeiro, que fazia suas entregas de bicicleta, carregando uma grande cesta cheia de pães e afins, apregoando a plenos pulmões, a cada três segundos: "Padeiro!" "Padeiro!" E assim seguia, empurrando seu pesado veículo de entrega, atendendo as freguesas ao longo do caminho. 
Chegando à rodovia, logo no início nos deparamos com um marco da Estrada Real:
Continuamos subindo, ainda no asfalto, uma estrada, felizmente, com pouco movimento de veículos:
Já bem no alto, após passagem por bairros afastados da cidade, chegamos ao local conhecido como Usina dos Braga:
Nós seguimos em direção à Bocaina de Minas, Aiuruoca, Campo Redondo e Cachoeirinha. A Usina dos Braga é uma construção bem antiga, ao lado da estrada e bem no alto da montanha:
Prosseguindo, continuamos subindo ainda um bom tempo, através de uma estrada calçada com peças sextavadas de concreto, até atingir uma lanchonete existente à beira da estrada, chamada "Cachoeirinha", situada a cerca de 20 km de Itamonte, onde paramos para tomar um lanche. Ali conhecemos três rapazes que estavam de moto e iam passear pela região nos próximos quatro dias. Conversamos muito e eles nos deram dicas sobre os melhores caminhos a seguir e onde passar a noite. Seus nomes: Luiz, Marcos e Fidélis. Após comermos, seguimos mais uma vez estrada acima. Passamos em frente a um criadouro de trutas, onde havíamos pernoitado quando fazíamos o Caminho dos Anjos. Agora o local não está mais prestando este tipo de serviço, que foi assumido por uma outra pousada credenciada.  A estrada, neste trecho, era de terra, mas estava sendo preparada para receber o asfalto e nós passamos por um grupo de "trabalhadores" com suas máquinas. Está entre aspas, porque achei engraçado: tinha lá "trocentas" pessoas, todas paradas, conversando, exceto três homens que faziam medições um pouco acima, com um teodolito:
Esta região é farta em coisas boas, tais como ar puro, montanhas, tranquilidade, mas o bom mesmo é que nunca falta água. Há riachos e regatos de águas cristalinas descendo as montanhas o tempo todo. Nem precisamos nos preocupar com falta d'água, abastecemos nossas caramanholas com água fresquinha, direto das nascentes, em fontes como esta:
No ponto da foto abaixo, deixamos o Caminho dos Anjos, para enveredar à direita, com destino à Pousada Fazenda Serra Bonita, na localidade conhecida como Berta Rural. A 1ª foto, de perto, a 2ª, mais aberta, de longe:

O novo caminho é uma estradinha estreita e muito agradável, que segue entre matas salpicadas de araucárias:

Achamos até esta preciosidade: a estrada se biparte, mantendo as árvores ao meio, evitando a extração das araucárias.

Finalmente chegamos, mas que surpresa: a pousada estava fechada e não havia ninguém para nos atender! Um vizinho, que estava saindo de carro, disse-nos que não costumava ficar ninguém lá e antes que pudéssemos pedir ajuda, se mandou, deixando-nos ali, embasbacados. E agora? O que fazer? Estávamos no meio do nada, já eram três horas da tarde e a cidade mais próxima estava a uns 45 km!
Então nos lembramos da conversa com os três rapazes na Lanchonete Cachoeirinha. O Luiz havia-nos dito que se não encontrássemos ninguém na pousada, deveríamos procurar pelo Gilmar, numa casa que ficava do outro lado da estrada, que saberia como contactar o Carlos, dono do lugar. Encostei a bicicleta, tirei a mochila das costas e entrei numa estradinha lateral, a procura da casa do Gilmar, que não se avistava daquele ponto. Bem escondida, atrás de uma pequena mata, acabei vendo o telhado de uma casa, numa baixada. Aproximei-me e sem ver ninguém, parei na porteira de entrada e chamei: Tem alguém aí?
Ouvi, em resposta, uma voz de mulher. Aguardei um pouco e apareceu uma senhora. Após cumprimentá-la, perguntei se ali era a casa do Gilmar. Ela respondeu que sim e perguntou o que queríamos com ele. Após ouvir nossa explicação, disse-nos, para nossa tristeza, que o Gilmar não se encontrava em casa, estava trabalhando em outra cidade. Mas, acrescentou que quem tomava conta da pousada era um tal de Zezinho, cuja casa havíamos passado antes de chegar naquele local. O filho do Gilmar, um garoto de 13 anos de idade chamado Gleidson, se propôs a ir chamar o Zezinho. Assim, subimos de volta à entrada da pousada e enquanto eu colocava a Eros ao par da situação, o Gleidson seguia correndo em direção à casa do Zezinho. Ficamos aguardando e uns 15 minutos depois o Gleidson voltou sozinho e com uma triste notícia: "O Zezinho falou que a pousada está lotada".
Santo Deus! E agora? 
Ficamos ali durante algum tempo conjecturando sobre o que fazer. Já estávamos pensando em dormir ao relento, mas o Gleidson disse que mais tarde, por volta de quatro e meia da tarde, vinha a perua dos estudantes, trazendo a turma que morava naquela região e que voltava vazia para a localidade onde ficava a escola. Disse que conhecia o motorista e que falaria com ele para que nos levasse e que lá teria lugar para passarmos a noite. 
Estávamos ali, pasmos ainda, quando chegou, pelo outro lado da estrada, uma motocicleta com dois homens. Quando viram o Gleidson conosco, perguntaram o que estava acontecendo. Depois de ouvir toda a história,   um deles disse: "Ah, nós somos irmãos do Gilmar. Quem toma conta da pousada é uma senhora chamada Raquel, que mora mais adiante na estrada. Eu sei onde ela mora e vou lá falar com ela". 
Aliviados, agradecemos muito, com esperança de que afinal a coisa se ajeitasse e ficamos esperando. 
Passado um bom tempo ele voltou, dizendo que havia conversado com a Raquel, que ia ligar para o Carlos, para que ele viesse nos atender.
Subimos até a primeira construção que havia na pousada, que era o refeitório e ficamos aguardando, mais uma vez, na companhia do Gleidson.
Passado mais algum tempo, que nos pareceu uma eternidade, chegou uma mulher, também de moto. Era a Raquel! Disse que não tinha ninguém na pousada (ah, "seu" Zezinho!) e que não havia conseguido conversar direito com o dono da pousada, pois quando conseguiu completar a ligação, havia muito ruído. Mal conseguiu conversar e a ligação caiu. Achava que o Sr. Carlos viria.
Ficamos olhando para ela: mas vamos poder ficar?
Parecia-nos que ela não estava querendo assumir isso mas, com muito custo, acabou dizendo que sim. UFA!
Então nos disse que iria arrumar um chalé. Falou que não havia comida no local e que o máximo que ela poderia arranjar seria truta e macarrão. Truta e macarrão! Ah! Ah! Rimos nervosos. Está ótimo! A que horas? 
Combinamos para as 19 horas. Continuamos aguardando a chegada do Carlos, porém escureceu e ele não apareceu.  A Raquel disse que se ele não tinha chegado até aquela hora, não viria mais.
Fez muito frio naquele 13 de junho, dia de Santo Antonio.  Foi, certamente, o dia mais frio de todo o caminho. Mas, para quem chegou a visualizar a possibilidade de dormir ao relento e sem comida, era uma final muito feliz.
Foi uma delícia de truta com uma macarronada maravilhosa. E um chalezinho com tantos edredons em cima, que ficava até difícil se mexer embaixo. Nem acendemos a lareira... Vejam as fotos do belo lugar:


E assim terminou nosso dia de aventura mais intensa e emoção à flor da pele. A continuação promete...

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