segunda-feira, 8 de julho de 2013

Vargem Grande do Sul a Visconde de Mauá - 7º dia - Luminosa a Piranguçu

É como se fôssemos começar hoje o caminho de verdade. Íamos trilhar, pela primeira vez neste percurso, paragens desconhecidas para nós. Até agora só havíamos passado por lugares já visitados muitas vezes, por isso o sabor, daqui prá diante, seria diferente, melhor: só locais inéditos.
Como já disse na última postagem, seguiremos hoje e nos próximos dias, o Caminho do Frei Galvão, pela primeira vez.
E a coisa já começa bonita. Assim que saímos de Luminosa, após o café da manhã da Dona Ditinha, o primeiro trecho é comum ao Caminho da Fé. Logo, porém, o CF segue pela direita e nós tomamos um desvio à esquerda. Seguimos por um tempo uma estradinha plana e não demorou para chegarmos a um riacho límpido que escorria calmamente entre as pedras e árvores:
Prá Eros, o trecho que veio a seguir lembrava o caminho de Santiago de Compostela:

Estávamos animadíssimos, as perspectivas intensificavam as expectativas. O dia prometia. A primeira surpresa agradável não tardou a surgir. Uma moita de bambus, formada dos dois lados da estrada, com as pontas se tocando, parecendo que a natureza erigia um templo para o agradecimento do transeunte à maravilha que nos proporcionava. E a gente, embevecida, com a alma enlevada, só podia fazer isso mesmo: agradecer!

Após o vertiginoso impacto inicial, teve início a árdua subida, por um aclive onde a estrada, que ainda conservava muita umidade e até barro, resultado das chuvas que haviam caído abundantemente dias atrás, salpicada de pedras e cascalhos, representava um aumento considerável na nossa dificuldade:
Logo avistamos a Pedra Selada, curiosa formação rochosa que íamos contornar por um bom tempo:

E prosseguíamos na subida, às vezes em meio aos cascalhos deslisantes, outras sem eles, mas sempre, como dizia o Super Homem, "para o alto e avante!"

Aí, mais uma surpresa agradável. Num pequeno cacho de bananas maduras, as aves faziam festa. O periquito comia, enquanto o sanhaço esperava:
Numa bananeira ao lado, outro periquito, talvez já saciado, aguardava enquanto o companheiro se banqueteava:
Mais alguns metros acima, uma parada para hidratação e descanso. Tempo para contemplação...
Ainda mais acima, a mata contornava a estrada:
Mas, a agradabilidade do caminho não tinha limites:

Sob a estridência das gralhas que nos acompanharam neste trecho, chegamos ao topo do morro: fim da subida! Duas horas depois e após empurrar as bicicletas por longos trechos, chegamos à divisa entre os municípios de Brasópolis (distrito de Luminosa) e Piranguçu. Aqui começa a descida, que vai se estender (para nossa felicidade) até o final dessa jornada:
A religiosidade do mineiro do interior mais uma vez fica evidente à beira do caminho. Em um local, aparentemente no meio do nada, com uma cruz entre dois grandes pinheiros, devidamente cercado, limpo (notava-se que havia sido varrido) e com bancos para eventuais usuários, além de um saquinho para o depósito de lixo...
Agora, continuando tranquilamente a descida, o caminho apresentava este aspecto:
Mais à frente, avistamos esta passagem: uma igreja rural, seu salão de festas, como é usual por aqui e pistas, mais acima, para recreação. Nesta região ainda é comum os moradores se reunirem em festas, nas igrejas, ao menos uma vez por ano, no dia do padroeiro local. Eles trabalham na organização, doam as prendas, os alimentos, fazem a comida e todo o serviço, tanto antes, durante, quanto depois (limpeza) e o resultado financeiro conseguido vai para a igreja. E as festas bombam!
Foi uma das descidas mais prazerosas que já tivemos a oportunidade de percorrer de bicicleta. Suave, longa, silenciosa, não havia cachorros latindo, veículos transitando, dificilmente víamos pessoas. Era só o canto dos pássaros e o som das águas descendo as montanhas... 
Um elogio às novas bikes: de freios precisos, hidráulicos, não cansam as mãos. E, por enquanto, nenhum problema mecânico ou furo de pneu!
Uma paradinha para um guaraná Mantiqueira (não ganhei cachê!) e um papo legal com o Adelson, morador local e dono do barzinho à beira da estrada. Ele veio para cá há muitos anos, deixando a agitação da cidade. Ganhou a vida e criou os três filhos fazendo instalações de antenas, o que lhe valeu o apelido de Adelsat, dito por ele mesmo, com muito bom humor. Hoje, tem o bar, ao lado da casa onde mora e diz que nunca vai voltar para a cidade. Entendemos perfeitamente o porquê... Deu-nos preciosas indicações sobre o caminho e onde almoçar na cidade, que já estava bem próxima.
Estão vendo aquelas latinhas vazias de cerveja enfileiradas à direita? Foram as que tomamos enquanto conversávamos! Ah! Ah! Ah!
O curioso de Piranguçu é que na entrada ainda pode-se ler uma alusão à guerra civil de 1932, referindo-se à "linha de segurança" criada à época para evitar avanços dos paulistas em terras das Minas Gerais. No mais é uma cidade pequena e simples, que luta para sobreviver. Os jovens vão para as cidades maiores, em busca de estudo e trabalho e quase sempre nunca mais voltam... O nome Piranguçu é oposto a Piranguinho, cidade próxima daqui, a terra do famoso pé-de-moleque!
Um abraço, pessoal e até o próximo!

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