quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

Circuito Nascente do Rio Doce - 1º trecho - Ressaquinha a Desterro do Melo - 23/08/2022

Ressaquinha/Distrito de Peixoto/Nascente do Rio Piranga/Povoado de Morro Queimado/Distrito de São José de Pouso Alegre/Desterro do Melo

Um circuito especial, passando por cidades constituídas por distritos ou municípios do Estado de Minas Gerais, na região de Barbacena, a maior e mais conhecida nacionalmente. Todas pequenas, simpáticas, agradáveis. Uma aventura tranquila, um mergulho na cultura regional e a satisfação de conhecer não só lugares extraordinários, mas principalmente pessoas, cujo acolhimento, carinho e atenção com que distinguem os visitantes são marcantes. Inesquecível! E a organização do caminho oferece o melhor suporte com que já fomos agraciados. Representada principalmente pelo Reiginaldo Carvalho, que se desdobrou para nos oferecer a melhor orientação, esclarecer todas as dúvidas e acompanhar, passo a passo, nossa ciclo viagem. 

Toda informação sobre o circuito está na Internet no endereço www.circuitonascentedoriodoce.tur.br. Embora a rota tenha sofrido modificações que ainda não foram atualizadas no site, tudo o que é necessário saber está lá. Qualquer dúvida o circuito tem uma representação física, cujo endereço consta do site, a qual dá toda a atenção ao seu contato, não o deixando sem resposta. O site é completo e informações como locais de estadia, carimbos de credencial, onde obtê-la, pontos de apoio, restaurantes, oficinas de bicicleta, tudo está lá, muito bem organizado. 

Enfim, só tenho a elogiar o atendimento com que fomos privilegiados e agradecer o esforço que dispendem com o objetivo não só de tornar a viagem perfeita, mas se colocando à disposição para qualquer eventual necessidade do ciclo turista.

Ressaquinha: Optamos por iniciar em Ressaquinha, mas o usuário pode escolher começar em qualquer ponto do caminho. Pode também escolher a direção: sentido horário ou anti-horário. A sinalização contempla os dois lados. Fotos da igreja principal da cidade e detalhes do jardim: 




Chega-se à cidade pela BR-040, tanto quem vem do sul quanto quem vem do norte. Ficamos hospedados no Hotel Pousada Real, às margens da rodovia, onde, por gentileza da direção, deixamos nosso carro estacionado até a conclusão do circuito. Ficamos em um quarto pequeno, mas aconchegante. O espaço possui uma mesa com cadeira, TV, ventilador e é tudo muito limpo e bem arrumado, dotado de diversas tomadas elétricas, para carregamento de celulares, por exemplo, fator que muitas vezes é problemático em muitas hospedarias. Há ganchos estratégicos para pendurar roupas e muito capricho na organização. De senão, só considero o colchão que, ao nos movermos emite ruídos e os travesseiros que achei muito baixos. O custo, considerando os preços que são praticados atualmente em outros circuitos que pedalamos, é módico: R$ 100,00 o casal, com café da manhã. Quem for se hospedar lá é bom reservar com antecedência, pois o hotel lota. 


Marco inicial do circuito: O ponto de início está devidamente sinalizado e fica a uns 20 ou 30 metros do prédio que já foi a estação ferroviária da cidade, da Estrada de Ferro Central do Brasil. Fica bem em frente à bica que abastecia de água as locomotivas a vapor que durante muitos anos foram o principal meio de transporte do Brasil, cujas linhas, infelizmente, foram quase que na sua totalidade desativadas, dando lugar ao mais caro e menos eficiente transporte rodoviário.






Cerca de 100 metros depois, já viramos à esquerda, num local onde a placa de sinalização está meio escondida e fica depois da curva. Parece que o proprietário do imóvel ali existente não admite a colocação da placa no lugar onde seria correto ficar, para perfeita orientação do viajante. Coisas de ego. Inicialmente é uma estrada larga de terra, mas com muito pouco tráfego. E já somos premiados com a visão de duas seriemas:
E assim segue por uns 40 minutos de pedal tranquilo. 
O dia todo, salvo engano, cruzamos ou fomos ultrapassados apenas por 4 veículos e algumas motos. 




Chegando ao distrito de Peixoto, inicia-se um trecho asfaltado. 



Passamos por uma infinidade de fazendas, muitas delas dotadas de capelas. Infelizmente, nas fazendas sempre tem... cachorros! E nesse primeiro dia enfrentamos muitos deles. Não tivemos, entretanto, nenhum caso consumado. Mas eu, sempre que há um "ataque", desço da bicicleta e os encaro, falando firme com eles: "Já prá casa"! Geralmente dá resultado, às vezes dão cada brecada que até derrapam no chão, tal a velocidade com que vêm para cima e a volúpia que têm de tirar um naco das nossas pernas. Já fui mordido no pé, em um trecho do Caminho da Fé, quando uma verdadeira matilha nos atacou e o dono, vendo, disse que eles não mordiam. O menorzinho, o mais feio e desgrenhado, enquanto a gente ficou mais atento aos grandes, deixou sua marca. Depois disso, não ouso simplesmente ignorá-los. É um comentário só para constar. Porque a estrada continua de boa: 




Passamos por uma casa abandonada que tem gravado no pórtico o ano em que foi construída: 1952. Setenta anos! Foi curioso para mim, porque este é o ano em que nasci. 

Após uns 20 km de pedal desde a saída, fizemos a primeira travessia de linhas férreas, o que se repetiria ainda muitas vezes no dia. Por aqui só trafegam trens de carga, geralmente com grande número de vagões transportando minérios. Pertencem à Vale do Rio Doce ou afiliadas, que construiu estradas de ferro na região para reduzir o custo do transporte. 

Pouco antes das 11 horas da manhã chegamos ao marco que indica a nascente do Rio Piranga que, muitos quilômetros e meandros depois se torna o Rio Doce e que deu origem ao nome do circuito.
Entramos por uma estradinha rural de acesso e cerca de 1 km depois chegamos a uma porteira que, conforme orientação, a partir desse ponto teríamos que seguir a pé. Na porteira há um passador para pedestres, que impede o acesso dos animais e permite manter trancada a porteira:

Subimos em meio às vacas por uma trilha no pasto, uns 600 metros.
Há 4 placas como estas, estrategicamente colocadas, que sinalizam sem margem de erros a direção a seguir até chegar à placa metálica fincada no solo, que assinala o local da nascente. 


Não vimos a nascente propriamente dita, porque o local, arborizado, está fechado por cerca de arame farpado, a qual não atravessamos por não termos encontrado sinais ou trilha de acesso dentro da área de preservação, embora tenhamos efetuado o contorno completo do cercado, subindo por um lado e descendo pelo outro. 
Um pouco abaixo há um ponto de dessedentação do gado e a gente já pode observar que, com poucos metros de existência, o ainda pequeno curso d'água já demonstra os benefícios que propicia a homens e animais. 
A trilha passa ao lado do que restou da sede da fazenda que existia no local: o porão.
Nas proximidades da porteira que dá acesso ao local da nascente, há uma pequena ponte.
Agora sabemos que o córrego que passa ali por baixo, ainda pequeno e estreito, vai crescer, juntar-se ao Rio do Carmo para tornar-se o grande Rio Doce, recebendo ainda na região as águas do Rio Xopotó, além de muitos outros até sua foz no Oceano Atlântico, no município de Linhares, no Espírito Santo. Como sabemos, suas águas foram drasticamente contaminadas pelos dejetos de mineração vazados no rompimento da barragem de Brumadinho e até recentemente informava-se a existência de ferro e chumbo nas suas águas, sérios contaminantes que afetam os peixes e por consequência, os humanos que os consomem. 
Gastamos cerca de uma hora para subir a pé até à nascente e voltar. Pouco antes do meio dia retomávamos o caminho: 
Uns 10 minutos depois, após cruzarmos novamente uma estrada de ferro, encontramos um motoqueiro: era o Reiginaldo que veio ao nosso encontro para ver se estava tudo bem com a gente, em um gesto que demonstra o alto nível da atenção que ele e o seu pessoal devotam aos que percorrem o caminho. Mas não foi só isso: seguiu um bom trecho conosco, almoçamos juntos e só depois de São José de Pouso Alegre, adiantou-se e foi embora.  

Passamos por uma igreja cujo local o Reiginaldo disse chamar-se Morro do Queimado: 

De volta à beira da ferrovia, pudemos apreciar a passagem de um trem com seus intermináveis vagões de minério: 
O Reiginaldo havia combinado o almoço com Dona Ilca, em São José de Pouso Alegre. Fomos recebidos com toda a calma do mundo e a típica mineirice pela simpática senhora:
Dona Ilca em São José de Pouso Alegre
Prá começar, 
nos ofereceu um maravilhoso e denso suco de morangos produzidos pela própria família. De lamber os beiços: 
Suco de morango com o Reiginaldo
Tivemos 
arroz, feijão, carne de porco, carne bovina moída e batatas, ao custo de R$50,00 pelas três refeições. 
Ficamos quase duas horas parados para o almoço, embalados pela boa conversa e paciência da Dona Ilca. Já nos aproximávamos das duas e meia da tarde quando partimos. 

Cachorros nem sempre são perseguidores. Às vezes são tão carinhosos que dá pena deixar para trás:
Cruzamos uma porteira, na passagem por mais uma fazenda, em meio a estrume de vaca e majestosas araucárias: 

Enveredamos por uma estrada simples, mas bem lisa e agradável. 




Adentramos então por um bosque fechado, com a estrada tornando-se mais rústica e parecida com uma verdadeira trilha: 



Do outro, agora sim, uma verdadeira trilha em meio ao pasto: 
Entretanto, a rusticidade aumenta pouco a pouco, detritos, folhas, restos de galhos, pedras e erosão vão tornando mais difícil a pedalada e trazendo emoção redobrada ao percurso: 












Em alguns lugares não dava para pedalar: 

Em outros, a gente até arriscava, mas era perigoso: 
Finalmente, após uma porteira de arame, saímos para o pasto, agora em declive. A trilha simplesmente havia desaparecido em meio ao capim, que encobria pedras, buracos, galhos atravessados escondidos e outros obstáculos. Descemos empurrando e tentando acertar a direção, pois já avistávamos lá embaixo o curral do Zota, por onde teríamos que passar. Em meio ao pasto um portentoso pé de limão cravo ou china, carregado: 
Ao final da descida, uma surpresa: o Reiginaldo estava lá no curral do Zota e junto com ele, tendo que gritar por causa da distância, nos orientava por onde passar. O local ficou conhecido por esse nome em razão da forma como o proprietário, quando criança, pronunciava a letra J. O Reiginaldo disse que ficou preocupado conosco em razão da dificuldade do trecho, por isso havia resolvido nos esperar embaixo, caso tivéssemos algum problema. 
Mais 2 km de terra e passamos pela ponte sobre o Rio Xopotó. Ali nos despedimos do Reiginaldo, pegando o asfalto até Desterro do Melo. 




Era final de agosto, mas estava friozinho. Ficamos de corta vento o dia inteiro. 
Quilometragem do dia: 43,1 km. Altimetria: 951 m. 

5 comentários:

  1. Bom dia! Sou Angelina do RJ e pretendo fazer esse Circuito a pé. A intenção é dividir os trechos maiores de 30km em 2. Nesse primeiro trecho, acha que consigo hospedagem em Pouso Alegre, onde almoçaram, por exemplo. Alguma dica? Será que consigo cartões para tesnsfer e fazer bate e volta nesses trechos?. Maravilhoso relato, muito obrigada por compartilhar. Vida longa, saudável e de muitas aventuras para o casal. Gratidão.

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    1. Olá, Angelina! Fico feliz pela sua mensagem e agradeço o contato. Vou lhe passar o telefone do Reiginaldo, que é a pessoa que representa o Circuito Nascente do Rio Doce e que poderá lhe dar todo o suporte quanto a qualquer necessidade que você tenha, inclusive a essa questão da divisão de trechos para percorrer o caminho a pé. O telefone dele é 32-98436-3802. É uma pessoa incrível e com certeza vai ajudá-la em tudo.

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    2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Boa tarde!! Há fiz contato com ele. Tudo já planejado, faremos esse Circuito no Carnaval. Iremos em pessoas e iniciaremos em Ressaquinha. 1o trecho: Ressaquinha x N.Senhora dos Remédios.

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