Pelo roteiro do Caminho, hoje seriam 72 km, mas pelo meu odômetro deu 75.
O dia começou claro e sem muitos lugares bonitos para mostrar. De início, terra vermelha, pedras e poeira.
Vejam o que houve de melhor:
Continuamos com muitas roças aradas ou recém colhidas, uma planície interminável e pouca vegetação:
Passamos por mais um cemitério de comunidade, este com algumas casinhas construídas sobre os túmulos:
O caminho hoje pode ser dividido assim: 45% de estradas com pedras, 45% de estradas lisas como esta abaixo e 10% de estradas com muitas pedras, difíceis até de pedalar:
Chegamos então à Redução de São João Batista. Ela é fechada e possui uma entrada como aquela de São Lourenço que já mostramos aqui. Cheguei pedalando e subi a rampa do calçamento, todo pimpão, saudando o guarda:
- Bom dia!
Mas ele, não muito simpático, foi logo dizendo:
- Vou pedir para o senhor tirar as bicicletas daí e colocar fora da calçada.
Ufa! Ducha de água fria! A gente querendo demonstrar simpatia, mas o sujeito era durão.
- Sim, senhor! - eu disse, com vontade de fazer continência! Mas, tirei as bicicletas e não procurei confusão.
Em São Lourenço o guarda disse para colocarmos as bicicletas encostadas na parede, que ele ficaria observando e que poderíamos ficar tranquilos. Já aqui, o homem mandou tirar as bicicletas e fez cara de poucos amigos... Comportamentos...
Sobrou muito pouca coisa da Redução de São João Batista:
Paramos em um bar à beira da estrada para comer alguma coisa. Lá tivemos uma conversa com o morador do local, que disse que os antigos contavam muitas histórias sobre as reduções. Sobre uma delas, dá para ter uma ideia de como era mantida a ordem nas reduções, onde se diz que pouquíssimos desvios ocorriam e que quando aconteciam, eram discutidos pelo Conselho de Moradores, que decidia a pena do infrator. Segundo ele, os antigos diziam que havia uma grande cobra na Redução de São Miguel, que ficava isolada em um local fechado. Quando um índio cometia um delito, era dado como alimentação para a cobra...
Segundo este mesmo senhor, para transportar as pedras para as construções, os índios formavam enormes filas, desde a pedreira até o local da obra e passavam as pedras de mão em mão. E acrescentou: "depois que caiu a primeira pedra, aí não para mais..."
"As casas formam ruas largas, são muito baixas. Os índios moram no chão descoberto. Os muros são de terra socada. Os telhados são cobertos de palha, com exceção de alguns poucos que cobrimos de telhas queimadas. As casas não tem janelas, nem chaminés. A porta das casas tem três palmos de largura e seis palmos de altura. Não é feita de tábuas de madeira, mas de couro de boi. Aí dentro dormem pai e mãe, irmão e irmã, filhos e netos, quatro cachorros, três gatos e maior número ainda de camundongos e ratos e pululam grilos e certos coleópteros, que no Tirol se chamam de baratas ou miriápodes..."
O pórtico abaixo é uma homenagem da prefeitura ao povo missioneiro:
A Redução de São João Batista foi fundada pelo padre Antonio Sepp, jesuíta alemão, em 1697. Consta que ele saiu com os primogênitos de 800 famílias da Redução de São Miguel, que embora fosse a maior de todas as reduções, já não comportava mais crescimento, para construir uma nova, em um lugar onde nada havia. Manifestou-se assim sobre a ordem que recebeu: "Imagina se te dissessem: vamos, amigo, divida uma população onde se contam mais de 6.000 almas e conduza metade para um campo raso, onde nada absolutamente se encontra, além de terra chã, sem lavoura ou habitação. Qual a tua disposição à vista disso?"
O desenho da cidade era assim:
E retomamos o caminho:
Esta ponte de ferro tem em seus pilares pedras retiradas da Redução de São João Batista:
A uma certa altura do caminho, avistamos a cidade de Santo Ângelo à nossa frente. Mas depois, quando chegamos ao asfalto que conduz à cidade, estranhamente o caminho cruza o asfalto e vira para o outro lado. Provavelmente, não houve alternativa viária pelo caminho mais lógico e curto. E somos obrigados a fazer um contorno enorme, por estradinhas horríveis, tão cheias de pedras, às vezes, que o pneu da bicicleta, numa girada em falso, fez voar cascalhos num trecho de subida bem forte. E acabamos chegando à cidade pelo lado oposto de onde estávamos.
Mas também havia trechos suaves:
Depois de atravessar o Rio Ijuí, mais uma vez de balsa, com a gentileza e muito boa vontade do Sr. Ruben, chegamos ao anoitecer em Santo Ângelo. Tentamos contato com o Caminho, conforme orientado no roteiro, para saber opções de estadia ou se eles haviam feito alguma reserva para nós, mas ninguém atendeu nossos telefonemas, nem mesmo no celular. Então perguntamos a um cidadão, na rua, que prestimosamente nos indicou onde ficar.
No dia seguinte, fui a São Borja, de ônibus, para buscar a caminhonete (nosso transporte para as bicicletas) que havia ficado lá, assim como parte de nossa bagagem.
Em Santo Ângelo, quase nada restou da redução jesuítica. Na praça central, foi construído esse monumento, em homenagem às reduções que existiam no Brasil, Argentina e Paraguai. Cada pérgula dessas contém o nome e o ano em que a redução foi fundada.
A igreja de Santo Ângelo foi construída no formato das igrejas missioneiras:
Pois bem, pessoal, é isso.
De acordo com o escritório do Caminho das Missões, não há subidas no caminho.
De fato, não há montanhas, o Rio Grande do Sul é uma enorme planície. Mas há, logicamente, alterações de altitude com muita frequência, pequenas subidas e descidas, de pouca envergadura e declividade. Exceto por uma difícil subida no último dia, cheia de pedras de tamanho incompatível com o trânsito de bicicletas, bem no final da jornada, quando já estávamos muito cansados.
Em minha opinião, as distâncias, para o ciclo turismo em cinco dias, são demasiadas, não permitindo paradas com tempo suficiente para tomar conhecimento de tudo. E falta uma orientação mais objetiva sobre locais onde se pode almoçar.
No final, porém, considero a experiência positiva. Ao menos, em termos de cultura, tivemos um "banho" de história...
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