Não era nem insinuação, o convite já
deixava bem claro: isto vai ser uma delícia!
Seria o nosso primeiro pedal com uma
turma de Jaboticabal. A saída estava marcada para as 6 horas e 30 minutos, no
Posto Modelo. Chegamos alguns minutos atrasados e parte do pessoal já estava
lá. Aferimos a calibragem dos pneus, enchemos as caramanholas de água e
estávamos prontos. Logo, todos que haviam prometido ir estavam presentes e,
após a foto “oficial”, acompanhados pelo pai do Paulo Mataqueiro, que dirigiria
o carro de apoio, largamos: 14 aventureiros!
A saída foi pela estrada de terra que
demanda a Guariba, cidade que atingimos rapidamente, pois são apenas 13 km de
distância. Foi feita a primeira parada para ingestão de – argh! – energéticos,
fornecidos pelo carro de apoio. Ô treco ruim!
Saímos de Guariba, após atravessar a
cidade, e adentramos um canavial. O passeio prosseguia, sempre por estradas de
terra, cortando áreas de preservação entre plantações de cana, cruzando pontes
e, na maior parte do tempo, seguindo em carreadores de canaviais.
Às vezes, encontrávamos poças de água
da chuva, como a da foto abaixo, ocupando toda a passagem. Um instante de
estudo sobre qual o melhor caminho a tomar e pé na tábua, porque, se bobear,
cai na água suja. Nessa, o jeito era passar bem na lateral, onde
presumivelmente a poça seria menos funda. Deu certo! Teve situação que tivemos
que atravessar entre as filas de canas, contornando a poça.
Não demorou muito e foi feita mais
uma parada técnica, ao lado de uma pequena construção, bem em meio ao canavial.
Prosseguimos e chegamos, num
determinado momento, a uma passagem que estava repleta de barro, com um caminhão
e uma perua Kombi atolados e um trator e um segundo caminhão, tentando tirá-los.
Certamente havia espaço para as bicicletas passarem pelas beiradas do atoleiro,
ou talvez até sendo carregadas, mas o certo é que não daria para passar o carro
de apoio.
Decidiu-se, então, seguir adiante, em
meio ao canavial e procurar outra passagem que levasse à estrada original,
atrás do atoleiro. Havia na turma alguns bikers e estes se encarregaram de
verificar as possibilidades, enquanto os demais ficariam esperando em um
entroncamento de carreadores, no meio do canavial (fotos abaixo). Não é brincadeira,
mas no local que ficamos existiam sete saídas diferentes. O pessoal que havia
traçado o caminho no GPS, havia utilizado a passagem do atoleiro e ninguém
conhecia outro caminho, por isso a necessidade de pesquisa in loco. Cerca de
duas horas de espera depois, nenhuma conclusão. Muitos palpites e só.
Decidiu-se voltar ao atoleiro e perguntar sobre a existência de um caminho
alternativo. E isso foi feito. Logo os “batedores” voltaram, dizendo que
tínhamos que retornar. E lá fomos nós alguns quilômetros para trás, até chegar
a um local aberto, onde a cana já havia sido colhida. Aí saímos do percurso e
descemos, cruzando uma pequena ponte e retomando o caminho original. Pronto,
agora era seguir em frente. Ufa! O pior é que não tínhamos nada para comer e,
a esta altura, o estômago já roncava adoidado!
Não havia comunicação pelos celulares
e as conversas do pessoal cujas esposas haviam ido de carro para esperar em
Bueno de Andrada eram do tipo: “ela deve estar esperando com o papel do divórcio
prontinho prá assinar”. Finalmente, após longos e cansativos trechos, subindo e
descendo entre canaviais, passamos por colônias de moradores rurais e eu tive a
ilusão de que havia chegado. Mas ninguém parava, era só pedal e pedal. A
maioria dos participantes já tinha seguido adiante, nós ficamos para trás com
alguns valorosos colegas, que não nos abandonaram, até a chegada. Sabe que
horas eram? Três da tarde! TRÊS DA TARDE! Quantos quilômetros? Cerca de 80! O lugar estava superlotado. Havia
dezenas de mesas com cadeiras no canteiro central da avenida que corta Bueno de
Andrada, em frente à Coxinha do Freitas. Todas ocupadas! Fila de cerca de 30
pessoas para comprar, que não diminuía nunca. Uns iam sendo atendidos, outros
tomavam os últimos lugares. Não há garçons. Aí, a turma fez um levantamento dos
desejos de cada um e alguém levou um pedido único à cozinha. Há barracas de
guloseimas nos arredores e fomos comendo milho cozido enquanto esperávamos as
coxinhas. Bebidas era possível comprar com facilidade, não havia fila. Até que
chegaram. Cada sabor em um formato: de coxinha propriamente dito, redondas,
elípticas, elípticas com pontas, etc. E havia uma lista para identificar. Tudo
muito organizado... Nunca uma coxinha foi tão gostosa! Era, então, possível
justificar toda a fama que a coxinha do local tem. É boa mesmo! Ou será que era
a fome?!?!
Finalmente, foi realizado um sorteio
de brindes aos participantes.
Há uma miríade de aproveitadores
dessa fama pululando pelo local. Até a prefeitura de Araraquara tira uma
casquinha: instalou um pedágio municipal na entrada do distrito e está
faturando legal. Foi uma oportunidade, também, de ver um trem. Por ali ainda
passa uma ferrovia. Trens de carga intermináveis passaram pelo local enquanto
comíamos, chegando a ter, uma composição que tive a pachorra de acompanhar,
sete locomotivas puxando, espalhadas entre os vagões. Como alguém já disse,
cada composição dessas, em termos de carga, tira das estradas 265 carretas. E o
Brasil fez opção por estradas de rodagem! Ah, é melhor parar por aqui. Abraços a todos.
Até o próximo.
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