sábado, 16 de fevereiro de 2013

Trilha a pé em Cantagalo - Parte I


Segunda-Feira de Carnaval. Carnaval? Que nada, trilha a pé no Cantagalo. 
Saímos às 9 h e 15 min, que ninguém é de ferro. Afinal, na véspera, fora dia de pamonhada, no sítio do Emílio, em Paraisópolis e muita chuva. Ainda havia poças d’água pelo caminho e a trilha, com certeza, ia estar muito úmida, prá não dizer enlameada. 
Nossos guarda-costas seguiam junto, só que guardando a frente... Duque, o maior e Amiga, que ganhou o nome no trajeto. Ela vive na rua, aparentemente não tem dono e resolveu nos seguir. Ambos eram muito dóceis e caminharam conosco o tempo todo. 
O objetivo era atingir a Pedra da Onça, que ganhou este nome após a ação de um desses belos felinos na região, quando matou e arrastou cavalos para a mata, para se alimentar. Segundo os guias, José Régis e Daniel, o número de animais mortos pela onça chegou a 15. Ela se alimentava de partes internas da carcaça, tal como o coração e outras, depois abandonava o corpo.
No início, era uma estradinha agradável, plana,  mas sabíamos que a coisa ia ficar “feia” depois. Seriam 11 km através de pastagens e matas, no alto das montanhas da Serra da Mantiqueira, na divisa de São Paulo com Minas Gerais. Para quem não sabe, Cantagalo é um bairro afastado do município de São Bento do Sapucaí.

Logo no início, começaram as histórias dos guias, especialmente do José Régis. Eles nos mostraram um arbusto, chamado guaxuma, que na minha região costumamos chamar de vassoura. A plantinha dá uma florzinha pequena, branca ou amarela, que se abre ao meio dia. Os nativos do lugar, na sexta-feira santa, dia de jejum, não usavam relógios para saber a hora de se alimentar. Só o faziam quando a flor da guaxuma se abria...
 

Aqui acaba a moleza (fotos acima). Na casa do artesão Zé Romeo, que posou com sua netinha, pegamos uma estradinha nova, que começa a subir a montanha. Ele faz artefatos de madeira, como gamelas e pilões e se sustenta e à família, com esta atividade.
Logo passamos por uma mina d’água e aproveitamos para encher as garrafas, que eram levadas na mochila do Zé Régis. 


No caminho, fazíamos muitas perguntas e os guias sempre nos respondiam com muita atenção e gentileza. E também nos contavam muitas histórias e crenças da região, que vão enriquecer nosso relato. A imagem a seguir é um destes casos. Fazem idéia do por que deste aparato aí? Não é um suporte de out-door! Está abandonado, mas era um secador de feijão. Os pés da leguminosa eram pendurados nesses bambus para secar, aproveitando o sol.

Primeira surpresa do caminho: conhecem esta frutinha aí? (foto abaixo). Eu não conhecia. Chama-se fragaia, é uma fruta silvestre e cresce abundantemente na região. Tem um gostinho diferente, saboroso. Durante boa parte do caminho íamos colhendo e comendo estas delícias.
O caminho era agora muito íngreme e a subida forte mexia com os músculos e com o psicológico. A paisagem, no entanto, compensava qualquer sacrifício... 

















Não demorou nada para acabar a estrada. Seguíamos agora por caminhos de vacas, em meio ao pasto, esforçando-nos para não torcer os pés nos altos e baixos das trilhas.
Esta árvore, que segundo o guia chama-se barbaço, é utilizada pelo gado para se coçar. Interessante é que foi a única em toda a trilha com o desgaste na casca do tronco, provocado pelas esfregadas das vacas. Observe que não há vegetação em volta da árvore, o que significa que as reses usam sempre o mesmo lugar para descansar e se coçar...   
 Aí chegamos à divisa SP-MG. Esta cerca que aparece na foto separa os dois estados. Mais adiante mostraremos o marco.
A trilha está estruturada e sinalizada, embora nesta época do ano o mato cresça rapidamente, o que requer manutenção constante.

Neste ponto, a floresta nativa é muito densa e nos cerca por todos os lados. Nesta região havia muitos porcos do mato e esta trilha foi criada por caçadores que a percorriam em busca desses animais.
Observação: não vou mais citar os guias, porque está ficando repetitivo. Vamos combinar uma coisa: tudo o que eu disser aqui, foi deles que ouvi.
Esta árvore da foto tem um fungo avermelhado cobrindo a casca. Este fungo só ocorre quando há muita pureza no ar. Vimos, na floresta, muitas árvores com esta coloração, em pequenas porções. Esta foi a maior delas.
Aquela pequena cúpula que se vê bem no alto da montanha é o observatório espacial da Universidade Federal de Minas Gerais, que fica no município de Brasópolis.
Veja agora uma sequência de fotos da trilha. Observe que em determinados momentos, ela nem existe. É só mato... 




































 

Continua na parte II.

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