terça-feira, 20 de setembro de 2011

Caminho dos Anjos - 5º dia - de Aiuruoca (Estalagem do Mirante) à Cachoeira dos Garcias

Dia de árduas subidas, saímos de 1.141 metros de altitude para 1.760 metros. Alguns trechos são tão íngremes que são calçados com pedras, pois é difícil até para os carros subir. Total do dia, 18.9 km. Estou escrevendo aqui ao som do canto das siriemas que se "esguelam" no morro, vendo pela janela do chalé uma tezourinha assentada no galho seco, com seu piado característico e primaveras muito floridas, nas cores rosa e laranja, preenchendo todo o espaço visível. 

Saímos às 8:45 h da Estalagem do Mirante, após lauto e delicioso café da manhã, servido pela Edi e pelo Gilberto, os proprietários do local. Ontem à noite, após o jantar, ficamos conversando todos na cozinha, onde o jantar é servido com as panelas sobre o fogão de lenha. Nesse bate-papo totalmente informal, acabam surgindo máximas muito divertidas, como esta do Gilberto, enquanto comentávamos os mais diversos assuntos: “as mulheres não perdem oportunidades de ficarem viúvas”!

Conforme combinamos no dia anterior, seguiríamos de bicicleta até Aiuruoca,m onde as deixaríamos na oficina do José Maria, para uma ligeira limpeza e ajustes nas marchas e freios, pois o Caminho tem sido muito “áspero ‘ e tem provocado desajustes nas funções das bikes.
E assim fizemos. Logo após a descida inicial de 1.200 metros, cruzamos o rio Aiuruoca (“casa do papagaio”, em tupi guarani) e no início da subida, vislumbramos a ponte pênsil da foto:

Após deixar as bicicletas na oficina, de onde seriam levadas pelo Gilberto, de caminhonete, para a pousada na Cachoeira dos Garcias, seguimos a pé até a casa da Madalena que, com o Alexandre, são  os organizadores do Caminho dos Anjos.  Depois compramos um chapéu de palha e seguimos. No caminho, ao passarmos defronte uma casa de antiguidades, o Célio, com seu eterno bom humor, saiu-se com esta: “eu não entro nestas lojas de antiguidades. Tenho medo que não me deixem sair...” Passamos, depois por um casarão de 1898, a casa da Dona Maria Júlia (foto) que, curiosamente, exibe em sua parede externa, várias placas contendo poemas, pensamentos e poesias.


Veja uma foto mais de perto, mostrando algumas das placas da parede:

Estávamos ainda no início da caminhada a pé, no 5º dia, cerca de 200 metros da cidade, quando o Gilberto nos alcançou com a caminhonete que transportava as bicicletas:

Continuamos subindo e uns 2 km depois chegamos ao asfalto. Caminhamos por cerca de 1.200 metros e entramos à esquerda, numa estrada de terra, que conduzia ao Parque Estadual Serra do Papagaio. Um pouco à frente, a visão de Aiuruoca era assim:


Vejam, agora, um dos trechos que é calçado com pedras, conforme falamos anteriormente:

Logo acima havia uma montanha de pedras. Íamos passar agora ao seu pé, mas logo à frente, continuando a subida, chegaríamos ao nível de seu topo.

O mineiro Oranice Franco assim escreveu sobre Minas Gerais: "O mar chora e brame em dóridos ais, só porque não banha Minas Gerais". E nós caminhávamos pelas montanhas da Mantiqueira, continuando a circular a do Bico do Papagaio:

Ainda subindo, avistamos a pousada (a casa verde na foto) e a queda d'água que dá nome ao lugar:  Cachoeira dos Garcias.

Em um dos dias anteriores, enquanto pedalava bem devagar, próximo a um mata-burro, ao passar o pneu dianteiro sobre algumas pedras arredondadas, o Célio acabou sofrendo uma queda. Depois, se vangloriava para o pessoal da pousada: "Eu hoje estou feliz. Caí num mata-burro e tô vivo!"  Aqui o “santo” Célio e o Rodrigo na entrada para a pousada:

O local onde está a pousada é uma RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural):


Finalmente, a cachoeira. 27 metros de altura, com pouca água nesta época de seca:

Em sequência à primeira, há outra queda d’água:

A pedra partida, lembra a cabeça de um grande mero:

À tarde, após o almoço, o Célio foi descansar um pouco. Quando voltou do quarto, ao escurecer, chegou contando: “Me aconteceu um negócio engraçado. Eu me deitei e estava já cochilando quando ouvi um barulho semelhante a um farfalhar de asas. Dei uma olhada geral no quarto, de onde estava e não vi nada. Voltei a cochilar. Aí, ouvi o barulho de novo. Inconformado de não saber o que era, levantei-me da cama, olhei embaixo dela, olhei atrás da porta, e não via nada. Comecei a ficar assustado. Será que tem fantasmas aqui? Ou será que morri e os anjos vieram me buscar?” Enquanto contava, todo mundo rachava o bico de rir. Aí, ele explicou: “Enquanto eu olhava para todos os lados, o ruído aconteceu novamente e eu descobri que era o forro de tecido do quarto que, inflado pelo vento, abanava e produzia aquele ruído. Foi um susto!” 

A pousada não tem energia elétrica e o jantar foi servido à luz de velas, mas a Cíntia, nossa anfitriã, iluminava a noite:

Continua amanhã.


Nenhum comentário:

Postar um comentário