quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

Circuito Nascente do Rio Doce - 7º e último trecho - Senhora dos Remédios a Ressaquinha - 29/08/2022

Senhora dos Remédios/Povoado de Carrancas/Povoado de Peão/Pedra Menina/Palmital dos Mateus/Canjamba/Ressaquinha

Em Senhora dos Remédios ficamos no Hotel Santa Luzia. Mas, foi um perrengue danado. Havíamos feito reserva com antecedência, porém quando chegamos lá o hotel estava fechado. Aguardamos um bom tempo, imaginando que alguém da recepção iria aparecer para nos receber, mesmo porque havíamos confirmado presença no mesmo dia e a proprietária nos dissera que estava tudo certo. Como demorava demais da conta, perguntamos a pessoas que passavam pela rua, se conheciam a proprietária, que não atendia nossas ligações. Disseram-nos que ela estava com a família em uma missa comemorativa que estava sendo realizada em um pavilhão visível aos nossos olhos, localizado a menos de um quilômetro dali. Que a missa estaria acabando e que logo chegariam. Enquanto esperávamos, fomos a uma lanchonete nas proximidades. Fizemos nosso pedido, aguardamos, fomos servidos, comemos, voltamos e ainda não havia ninguém no hotel. Resolvemos procurar outra hospedagem, porém nosso senso de responsabilidade, já que havíamos reservado no Santa Luzia, falou mais forte e acabamos optando por voltar e esperar. Finalmente, depois de mais de 2 horas de espera, Dª Graça, a proprietária, chegou. Tranquilamente, como se nada tivesse acontecido, nem se desculpou pelo descaso. A gente sempre opta por não criar problemas, por isso também nem tocamos no assunto. Fizemos o check-in e seu marido nos acompanhou até um depósito de materiais de construção que existe nos fundos do hotel, onde guardamos nossas bicicletas em local protegido e subimos para o quarto, dois lances de escadas acima. Quarto e banheiro são bons. Custo de R$170,00 o casal, com café da manhã. 

A missa era o evento final de uma novena e era seguida de festa com barracas, onde se poderia degustar o prato típico local: macarrão assado. Experimentamos no jantar e gostamos. O custo era bastante acessível, R$10,00 por pessoa.

Partimos, na manhã do dia 29/08, após o café. Na saída, registramos a igreja de Nossa Senhora dos Remédios e a praça que fica em frente: 

 
O caminho do dia se desenvolveria por estradas rurais, nas quais eventualmente eram efetuados trechos de calçamento para facilitar a vida dos viajantes motorizados em picos onde, certamente, haveria dificuldades em tempos chuvosos. 
O céu apresentava muitas nuvens, tornando o pedal mais agradável, boa parte do tempo sob sombra: 
Íamos passando por propriedades rurais simples e, embora não representassem grandes atrativos, ficava o registro. Um que parecia ser um bar ou um local de festas:  
Ou uma residência com uma grande área avarandada: 
E até uma grande e bela fazenda, mais afastada da estrada. Trata-se, segundo pudemos apurar, da Fazenda do Guiné ou da Serra Velha: 

A estrada boa e a sombra continuavam:
Felizmente quase não havia tráfego de veículos. Assim, a poeira intensa da estrada não se tornava um obstáculo a lamentar: 
À beira da estrada, um nicho abrigava uma imagem sacra, mais uma demonstração da intensa religiosidade do povo do interior mineiro: 
Havíamos combinado almoço na comunidade do Peão, na Cabana da Helena. O local apresenta uma vista deslumbrante da famosa Pedra Menina, ponto turístico local. 


A casa que se avista ao pé da montanha pertence à família da Helena: 
O almoço servido por Helena e sua irmã dava para alimentar "um batalhão": 

Além da refeição, a Cabana da Helena oferece pouso. Quartos amplos e muito limpos. A Helena disse que vai passar a chamar o local de Cabana Pedra Menina. Recomendamos, embora não tenhamos ficado lá para dormir, devido ao imenso carinho com que fomos recebidos para o almoço e em razão da extraordinária atenção a nós dedicados. Imperdível!
Acabamos passando muito tempo por ali, tendo ficado umas três horas curtindo o bom papo e a vista maravilhosos. Partimos, com pesar, voltando à estrada e já sentindo na pele o friozinho do entardecer: 


Cerca de 40 minutos depois passamos ao largo da comunidade de Palmital dos Mateus: 
Ainda não eram 16 horas quando, embora o céu tivesse ficado mais visível, tinha-se a impressão que já ia escurecer: 
Mas, depois da pequena subida, o caminho descortinado parecia muito prazeroso: 
Fizemos poucos registros a partir desta hora. Acreditávamos que ainda faltava muito para chegar a Ressaquinha e resolvemos diminuir as paradas para fotografar:  


Chegamos a Ressaquinha nos últimos estertores do sol, às 17:55 h. 

Dormimos novamente no Hotel Pousada Real, em Ressaquinha. Nosso carro havia ficado lá, uma grande gentileza da direção.  Quilometragem do dia: 30,4 km. Altimetria, 1.268 m. 
O que falar do circuito? Achei espetacular. Talvez até o adjetivo mais adequado não seja esse, porque embora tenhamos visualizado muitas paisagens e locais muito lindos, o que mais nos marcou foi a extraordinária recepção com que fomos agraciados em todos os lugares que fomos. E o acompanhamento par e passo do Reiginaldo, coordenador do CVRD. Sempre atento a todas as nossas eventuais dificuldades, estava a todos os momentos em contato conosco, orientando, procurando saber se tudo estava bem e buscando ofertar-nos toda a generosidade da tradicional hospitalidade mineira. Recomendamos a todos os cicloturistas brasileiros, sempre prontos a conhecer novas paragens, que incluam este roteiro na sua agenda. Vale imensamente a pena!

E, para terminar, quero falar de uma possibilidade nesse caminho que o diferencia dos demais. Em 30 de agosto de 2022, completei 70 anos. E, por sugestão do Reiginaldo, combinamos de nos reunir no Bar Rural do Geraldão para comemorarmos em grande estilo a ocasião festiva. O Geraldão iria assar uma leitoa recheada e iríamos degustá-la ao lado de amigos que fizemos pelo caminho. Convidamos o Adilson e a esposa, da mercearia entre Desterro do Melo e Alto Rio Doce. Convidamos também o Roberto e a esposa, do Sítio Cantinho do Céu, em Ribeirão do Santo Antônio. E participaram conosco, além do Reiginaldo e seu amigo Rui (também gente finíssima!), toda a família do Geraldão: esposa, genro, filha e neta. O custo foi de R$ 300,00, que achei bem justo, tendo o Geraldão fornecido a leitoa, a qual preparou, recheou, assou e serviu. Enfim, uma forma diferente e muito agradável de chegar aos 7.0, ao lado de novos amigos, marcando a data de forma indelével. Vejam alguns registros da ocasião: 
Forno onde foi assada a leitoa

Aspecto interno do bar rural do Geraldão

Aspecto externo do bar do Geraldão

Belisco antes da leitoa

Da esquerda para a direita: Rui, Geraldão e Reiginaldo

Também já esteve aqui anteriormente o @Fotógrafo_viajante, que presenteou o Geraldão com uma foto dele com a neta: linda!

A própria

Fim de festa
Em 04/09/2022, o CVRD, na pessoa do Reiginaldo, colocou a placa que marca o local do Bar do Geraldão da Leitoa que, antes disso, não era visível para quem passava pela estrada: 
Após o almoço, saímos dali em direção a Cipotânea, onde passaríamos a noite, levando conosco uma metade da leitoa que havia sobrado. Íamos em 2 carros, o Rui e o Reiginaldo à frente, mostrando o caminho. Então, no povoado de Paciência, paramos
no armazém do Luiz Silva, onde o cliente encontra de tudo, desde agulhas até presentes de casamento. A esposa do Luiz, Dona Marli, gentilmente ofereceu-nos um quitute, o qual, segundo ela, "não havia ficado muito bom". Era brevidade. Há quanto tempo eu não via isso, quanto mais experimentar! E estava uma verdadeira delícia. 

O local é um ponto de apoio para os viajantes do Circuito Vale do Rio Doce. Dali partimos novamente em direção a Cipotânea, quando já estava quase escurecendo. Mas, o Reiginaldo e o Rui tinham outros planos. A uma certa altura, quando já estava escuro, eles pararam em um portão de madeira, na entrada de uma propriedade rural e nos disseram para acompanhá-los. Atravessamos o portão, que já estava aberto quando chegamos e estacionamos uns 50 m depois em um gramado, defronte uma casa. Eles entraram, revelando intimidade com os proprietários, mesmo sem bater e nós os acompanhamos. Olharam pela casa inteira e parecia não haver ninguém lá. Havia uma grande varanda, onde ficava o fogão de lenha, com grandes bancos e uma mesa. Já foram pegando cerveja na geladeira, abrindo e se  servindo. Para nós era tudo meio inusitado. Algum tempo depois apareceu o dono, a quem fomos apresentados: o Luizinho Dias, também conhecido como Luizinho do Mário. Ele estava tomando banho e não estranhou a invasão. Disse que iria cozinhar um frango e convidou a todos para ficarem por lá, para apreciar o regalo. Alguém se lembrou da leitoa, para ir matando a fome enquanto o frango não ficava pronto. Trouxemos imediatamente o petisco e todos, inclusive mais duas outras pessoas que chegaram, continuamos a festa, já que também se lembraram do motivo da leitoa. Papo agradabilíssimo, muita alegria e uma constatação: ninguém trazia as esposas. Muitas histórias, brincadeiras, risadas, indignação com a política, comes e bebes.  Rui assumiu o comando do fogão de lenha e depois de algum tempo, quando já havíamos arrancado aos ossos até os últimos fiapos da leitoa, o frango ficou pronto. E tome jantar! Com arroz e frango, que ficou muito gostoso. 
Nem sei que horas saímos de lá. O fato é que o Reiginaldo e o Rui haviam decidido que iríamos dormir na casa deste último, cuja esposa trabalha em Barbacena e não estaria lá. O Rui, extremamente gentil, ofereceu-nos um quarto, o qual ele preparou com todo esmero. Estava frio e a cama ostentava um belo edredom. Banhamo-nos e fomos dormir, pois o dia havia sido muito intenso. Uma festa diferente e que, com certeza, durante muito tempo permanecerá viva em nossa memória.
Na manhã seguinte, Rui preparou um ótimo café da manhã, embora, logicamente, o fazia como grande anfitrião que era, uma vez que poderíamos tomar o desjejum em alguma padaria, tranquilamente. Logo, antes de sairmos, apareceu o Reiginaldo, com sua filhinha, criança muito linda e educada, para a despedida. 
Antes de ir embora, fomos ver a ponte de ferro: 
Partimos levando dali a melhor impressão possível de toda aquela gente gentil e hospitaleira. Eles nos convidaram e nós prometemos: vamos voltar qualquer dia!

sexta-feira, 13 de janeiro de 2023

Circuito Nascente do Rio Doce - 6º trecho - Cipotânea a Senhora dos Remédios - 28/08/2022

Cipotânea/Paciência/Vitorinos/Senhora dos Remédios

Em Cipotânea ficamos na Pousada da Dona Fézinha. R$100,00 o casal, pagos adiantados, na hora da entrada. Um café da manhã simplicíssimo está incluso na diária e é servido na padaria que fica ao lado da pousada, onde também a gente deixa a chave na hora de ir embora. O quarto é bom, tem espaço adequado e muitos detalhes positivos: armário, mesa, cadeira, TV, armário no banheiro, varal na janela. 

Igreja Matriz de São Caetano do Xopotó, em Cipotânea

O trecho hoje, assim como na maior parte do caminho, é constituído de estradas boas, subidas leves. E nenhum obstáculo será grande se a vontade de vencer for maior. 
Alguma vegetação margeando a pista é sempre bom, propicia um refresco com sombras eventuais.





A gente vai pedalando, no nosso ritmo, sem correria. Planejamos sempre quilometragens que cabem perfeitamente na nossa condição física. Nada de exageros. E assim vamos indo, renovando a alma e celebrando a vida. 


Nessa toada, tendo saído de Cipotânea às 09:10 h, chegamos ao povoado de Paciência, pouco antes das 10:30 h. 
Igreja de Paciência

Na verdade, não importa a velocidade que se vá, o que vale é que vamos estar sempre à frente de quem não sai do sofá... 


Este pesqueiro parecia abandonado. Não havia sinais nem de peixes: 
Quando estamos pedalando, os problemas desparecem. A única preocupação é se vamos conseguir comer no horário apropriado ao almoço. Não costumamos levar alimentação, para reduzir o peso da carga. Geralmente só levamos alguma coisa caso não haja no trecho do dia pontos de apoio, tais como vilarejos, cidades, vendas rurais, coisas assim. Então, é só pedalar e fotografar. Tomar uma aguinha, porque o sol é causticante e voltar a girar o pé de vela e registrar o caminho: 











Por volta de meio dia e meia chegamos ao povoado de Vitorinos. Perguntamos em um armazém se havia algum lugar onde poderíamos conseguir comida e foi-nos indicado um bar defronte à praça. Quando entramos, fomos recebidos pelo proprietário com certa desconfiança. Ele e um grupo de pessoas discutiam acaloradamente política sentados em cadeiras próximas a uma das portas de entrada. Não senti muito boa vontade nele, de ter que sair do meio da peleja. Mas, serviu-nos salgados e refrigerantes, que vieram a calhar. Começamos a conversar e ele rapidamente virou amigão: ofereceu até sua casa para descansarmos, para tomar um banho ou para passar a noite. Disse que pretende instalar uma pousada no lugar. Despedimo-nos muito amigavelmente e fomos concluir nossa refeição na praça, comendo umas frutas que compramos no mercadinho. Havia ali um grupo de mulheres ao qual acabamos nos juntando e tudo virou uma festa. Muitas risadas e muitas promessas de começar a fazer exercícios, pois, sem falsa modéstia, nos consideraram como exemplos, tendo em vista a disposição para o pedal na "nossa idade". 


Igreja de Vitorinos
Na saída da cidade, não poderia faltar a foto famosa no "Banco do Tião". Segundo consta, na casa mora um senhor que gosta de sentar-se na calçada, passando boa parte de seu tempo ali. Um filho construiu o banco para facilitar a vida do pai: 
Por conta de um marco do CNRD que apontava na direção errada, pegamos um caminho diferente na parte final do trecho de hoje, entre Vitorinos e Senhora dos Remédios. Era uma bifurcação e o itinerário baixado do Wikiloc, nesse ponto, seguia para a esquerda, mas a sinalização do Circuito indicava à direita. Como ciclistas locais, que conhecem bem a região, eventualmente escolhem caminhos alternativos, acabamos acompanhando a sinalização e nos demos mal. Felizmente não houve maiores prejuízos, pois pedimos informações quando não vimos mais placas do Circuito e acabamos chegando ao destino, tendo nos encontrado com o caminho certo um pouco antes da cidade. A foto abaixo é de local que não está no caminho certo:
Quilometragem do dia: 40,6 km. Altimetria, 869 m.