sábado, 11 de maio de 2019

Caminho da Fé - Ramal Centro Paulista - Borborema a São Carlos


Problemas estruturais, sinalização deficiente, muita cana e areia e um certo descaso da ACD – Associação do Caminho da Fé.

Inaugurado oficialmente em 25/11/2018, o mais novo ramal do Caminho da Fé, o Centro Paulista, que se inicia em Borborema e vai até São Carlos, tem algum encanto, especialmente em belas árvores isoladas em meio aos canaviais, alguns trechos agradáveis, muita dedicação dos órgãos municipais de turismo da região e falhas de infra estrutura e sinalização que obrigam o peregrino/bicigrino a esforços extras, seja para tentar localizar a sequência do caminho, seja para contornar situações inesperadas.
Para percorrê-lo, reservamos quatro dias na semana santa: 18, 19, 20 e 21/04/2019.
Preparamos a logística com cuidado: levamos as bicicletas de carro, pela manhã, para Borborema, deixamo-las no Hotel Reday, onde pernoitaríamos, cujos responsáveis foram muito gentis e atenciosos, permitindo que, além das bicicletas, deixássemos também nossos alforjes, já no quarto que nos foi reservado. Levei o carro para São Carlos e o deixei estacionado no Hotel Acácio, mediante o pagamento de uma taxa diária de R$ 15,00. Peguei o ônibus na Rodoviária às 13:05 h, com destino a Borborema. Às 15:50 h já estava lá.
Caminhando da rodoviária para o hotel, conheci o Márcio, presidente do Conselho Municipal de Turismo de Borborema, gente finíssima, que já havia feito contato com minha esposa, ao vê-la “estrangeira” circulando de bicicleta pelas ruas da cidade. 
Márcio, esposa e Marcinho
Ele nos ciceroneou pelo resto do dia, levando-nos para conhecer a Prainha do Juqueta e a área de lazer às margens do Rio Tietê, que banha o município: 

Mostrou-nos também outros pontos de interesse, como os monumentos instalados no ponto inicial do Caminho da Fé: 

Por fim, indicou-nos onde comer bem na cidade. Jantamos mini pizzas na Pizzaria Tamborlim, onde fomos muito bem recepcionados e atendidos e pudemos satisfazer nossa fome deliciosamente...
Dormimos cedo e confortavelmente no Hotel Reday. A diária foi de R$ 112,00 o casal. Levantamos às 6 h da manhã, tomamos café às 7 h e às 7:30 h iniciávamos o pedal.
Dirigimo-nos ao marco inicial do caminho e partimos. 


Sobe-se inicialmente cerca de 5 km, por uma estrada rural bem larga, com um aclive suave: 
Segue com pequenas descidas e subidas até o km 7, quando iniciamos uma descida por piso contendo pedriscos, aproximadamente 1 km.
Pouca vegetação de grande porte à beira do Caminho, o que será uma constante por todo o ramal. A gente fotografa quase todas elas:






No km 10,8 chegamos à Venda do Chicão, na localidade de Três Barras, único ponto onde você poderá se reabastecer de água antes de Itápolis:

Dali descemos até chegar ao Ribeirão dos Porcos, no km 11,9.

O ribeirão é o limite entre os municípios de Borborema e Itápolis:
Logicamente, o ribeirão fica na parte mais baixa do vale e a consequência é que temos que subir do outro lado depois, até o km 13,6. 


Desce em seguida cerca de um quilômetro e volta a subir até chegar ao Sítio Aparecida, sinalizado com a placa do CF que contém a quilometragem 726 (distância até Aparecida do Norte). Aí há um pequeno trecho de asfalto na passagem pelas casas locais. 
Em aclive, passamos depois por uma das poucas plantações de laranja ainda existentes na região, na qual, até bem pouco tempo atrás, era a cultura predominante.
A subida vai-se tornando plana e acaba virando uma descida, através de um canavial até o km 17,80. Seguem pequenos trechos em que se alternam planos, subidas e descidas, até que no km 21,60 chegamos ao asfalto.
400 m de subida, 700 de descida e depois 2,3 km de subida até o Aero Clube de Itápolis. Curiosamente, três pequenos aviões aterrissaram enquanto estávamos no local, com pouco tempo de intervalo entre um e outro. Quando me preparei para fotografar o próximo, não teve mais...
400 m adiante, a entrada da cidade, em declive até o km 27. 
Mais 250 m de subida e chegamos ao Galeria Park Hotel para colher o carimbo. Eram 11:20 h.
Meu odômetro marcou 27,25 km, o CF diz que tem 31 km e o Wikiloc assinalou 28,65 km.
Almoçamos no Restaurante da Mamma, na rua Odilon Negrão, nº 760, na própria quadra onde está o hotel (é a rua em que o trânsito flui em direção à praça). Come-se muito bem, pagando por quilo ou à vontade, a R$ 23,00 por pessoa. Pagamos R$ 58,50 por duas refeições + 5 garrafas pequenas de água.
Odômetro zerado, reiniciamos o caminho, após o almoço, em direção a Ibitinga. Descendo até a baixada, seguindo as setas amarelas, encontramos placas de “ponte interditada”. E agora? A placa do CF aponta para seguir em frente. Mas será que a ponte interditada permite passagem de pedestres ou ciclistas?
Pagamos prá ver e demos com os burros n’água. A ponte não estava só interditada, ela havia caído! 
Sem chance de passar, a abertura era muito maior do que poderíamos pular. Ainda mais com as bicicletas! Sem falar que nas extremidades havia risco de desmoronar mais e a gente ir parar dentro do rio...
Perguntamos a um senhor que estava do outro lado do rio, como faríamos para chegar lá e ele nos mostrou como fazê-lo. Teríamos que voltar lá onde estavam as placas de interdição, virar à direita e logo em seguida, à direita novamente.
Bom, nem é preciso dizer que isto atrapalhou minha gravação do caminho e bulhufou meu controle de quilometragem.
Quando chegamos novamente à ponte caída, já do outro lado, o odômetro já marcava 5,05 km.
Seguimos pelo asfalto por três quilômetros e chegamos ao rio São Lourenço. Subindo, depois de cruzar o rio, atenção para a placa de desvio para a direita, cerca de 380 m depois, adentrando um canavial. A placa está em um poste, à esquerda, bem visível, mas marcações à direita estão encobertas pela vegetação.
Quatro quilômetros depois passamos por uma fazenda com dois cães soltos que latem furiosamente para os ciclistas: um deles é agressivo e, fiquei sabendo depois, mordeu um ciclista que nos alcançou mais para a frente, o Marcelo, de São Carlos. Vimos sua meia rasgada pelos dentes do cachorro. Não os ignore, pois estará correndo risco de mordida. Parei, desci da bicicleta e gritei com eles, que ficaram latindo a uma certa distância. Uma senhora veio da casa próxima e o segurou e acalmou, para que pudéssemos continuar. Ela disse que anteriormente ciclistas haviam-no provocado e por isso ele não gostava de bicicletas.
Passando a fazenda, começa uma subida por uma estradinha com buracos e pedras soltas, por cerca de um quilômetro.
Os cinco quilômetros seguintes têm muitos planos com subidas e descidas de pouca declividade: 



Depois, 600 m de descida por uma estrada muito boa, daquelas de sentir a velocidade e o frescor da brisa beijando o rosto com suavidade. 
Um pouco mais de dois quilômetros de pedal em seguida e chega-se ao asfalto novamente e 2,5 km adiante chegamos à cidade de Ibitinga.
Pelo CF a distância é de 21 km. Meu odômetro, com a volta para contornar a ponte caída, assinalou 23,65 km. O Wikiloc, que também registrou a volta, marcou 25,91 km.
Ficamos no Ibiti Park Hotel, diária de casal de R$ 119,00, em um apartamento antigo que ainda não havia passado por reforma. O hotel nos ofereceu outro quarto, já reformado, por R$ 30,00 a mais, que recusamos. O único problema que tivemos foi que o box do chuveiro estava estragado, não fechava adequadamente e a água vazava tudo para fora. O recepcionista foi muito simpático e prestativo, indicou-nos onde jantar e atendeu todas as nossas reivindicações prontamente.
Como era relativamente cedo, fomos tomar um café na Padaria Santo Antonio, indicada pelo recepcionista do hotel. Foi uma verdadeira festa, com conversas divertidíssimas com clientes que estavam no local e a funcionária do caixa, que se admiravam por estarmos "nessa idade" pedalando por aí. Uma delas até brincou: "Ah, eu vou com vocês!"
Com Roseli e Vanessa, na Panificadora Santo Antonio - Ibitinga
Depois do banho, comemos um prato feito na Lanchonete Popeye Lanches, onde a limpeza não era um cartão de visitas. Embora simples, estava bem gostoso.
Começamos o segundo dia por volta de 8:00 h da manhã. Um pequeno trecho de asfalto, mas rapidamente saímos para a terra.  Enquanto estávamos subindo, já deixando a cidade para trás, alcançou-nos o Júnior, um ciclista solitário, de Itápolis, de onde estava vindo e para onde ia voltar. 
Disse que estava dando uma volta e iria estar em casa para o almoço. Acompanhou-nos durante algum tempo, conversando, mas despediu-se, acelerou e desapareceu à nossa frente. 
Não há variação na vegetação nesta parte do caminho. Algumas árvores isoladas, plantações em fila para separar propriedades, muita cana: 






Com 10,7 km de pedal chegamos a um córrego que marca a divisa do município de Tabatinga:
Aliás, soubemos em Borborema que a passagem do CF por Tabatinga seria inaugurada oficialmente no dia seguinte.
Logo depois fomos surpreendidos pela presença de dois motociclistas: 
O primeiro passou e diminuiu a marcha. O segundo emparelhou comigo e me perguntou se estava tudo bem, chamando-me pelo nome. Surpreso, perguntei quem era. De capacete, era impossível reconhecer. Era o Márcio, de Borborema, com um amigo, que estavam dando um passeio de moto. Iam até Tabatinga e de lá voltariam para Borborema.
Um pouco mais à frente, passamos por uma bela árvore cujas inflorescências deixavam cair pequenos grânulos no solo, formando um original tapete verde: 
Continuamos o pedal e percorridos mais 3 km, reapareceu o asfalto: 
Pouco depois chegamos a uma rotatória, onde estavam sendo feitos os preparativos para a inauguração do marco do CF.
Nossa passagem pela cidade marcaria o reencontro com o Belé e o Barleta, amigos que conhecemos em 2008, na Pousada Refúgio dos Peregrinos, em Campos do Jordão, em uma das nossas idas até Aparecida. Souberam que estávamos no caminho por conta de uma postagem que fez o Márcio, de Borborema, no grupo de Whats App do ramal do CF.
Marcamos um reencontro para matar saudade e relembrar as peripécias daquela epopeia lá do passado, transcorridos já bem vividos 11 anos! (Veja neste blog a aventura que ambos protagonizaram, registrada em 08/05/2011, sob o título “10º Dia (Caminho da Fé) - De Campos do Jordão a Aparecida”.
O Belé nos esperava ali e reconheceu-nos de imediato. Muita alegria no reencontro, abraços, sorrisos... É uma satisfação indescritível estar novamente com uma pessoa conhecida casualmente, em uma das nossas pedaladas da vida, mas de cujo encontro mantemos vívidos na memória momentos de grande descontração, prazer e boas gargalhadas.
Apresentou-nos sua esposa e filha e testemunhamos toda a mudança que ocorreu em sua vida, desde aquela épica viagem a Aparecida: hoje formado, pessoa de confiança do prefeito do município, estava acompanhando os trabalhos de finalização das obras do marco do CF: 
Mas, cadê o Barleta? Ele está vindo, disse o Belé. Resolvemos ir tomar um café juntos e nós o seguiríamos de bicicleta até o local que ele havia escolhido. No caminho encontramos o Barleta. Paramos para o abraço de reencontro, conhecemos sua esposa e rumamos todos para a Padaria Pão Gostoso, no centro da cidade. O odômetro da bicicleta marcava 16,30 km (O CF assinala 18 km). 
Padaria Pão Gostoso - Tabatinga - com Belé, esposa e filha e Barleta e esposa
Curtimos novamente momentos muito agradáveis, rememorando as nossas peripécias daquela viagem e, mais tarde, antes de nos despedirmos, combinamos um novo reencontro ainda este ano. As amizades provocadas pelo “andar de bicicleta” são para sempre...
Como era sexta-feira santa, era consenso geral que não encontraríamos um restaurante aberto para almoçar. Por isso, encomendamos um sanduíche enorme de omelete na padaria para comer mais tarde, quando desse fome.
Na saída da cidade, depois que chega à terra, há uma bifurcação sem sinalização. Perguntamos a pessoas que estavam caminhando por ali se aquela estrada levava a Nova Europa. -“Não, não vai não, disse uma senhora”. É que estamos no Caminho da Fé, será que é por aqui? –“Ah, o Caminho da Fé é por aqui sim”, disse ela. Resolvemos seguir em frente e 300 m depois havia uma seta do Caminho, próximo a um córrego. Passamos a ponte e começamos a subida do outro lado.
Exceto por um trecho com colunas de eucalipto à beira da estrada, no km 5,50, nada chamou muito a atenção no caminho para Nova Europa. À sombra deles nos sentamos para comer o sanduíche que trazíamos. 

Passamos por uma placa que assinala a divisa de Curupá no km 7,55: 
Aos 7,70, chegamos ao asfalto e 100 m depois há sinalização para virar à direita, em subida, em meio a uma lavoura de cana. Afoito, não vi a placa e segui em frente. Resultado: por conta disso, tive que voltar alguns quilômetros e descartar a gravação do Wikiloc deste trecho. 
Aliás, a vegetação encontrada neste terceiro dia dá uma ideia de desolação, isolamento. Vejam as fotos: 





Já na cidade, uma sorveteria no Caminho veio mesmo a calhar, para propiciar-nos a refrescante sobremesa: a Beijo Frio, na Rua 12 de Outubro, onde fomos muito bem atendidos pela simpática Cacilda e pudemos saborear, confortavelmente sentados,  um delicioso sorvete.
O CF marca para o trecho Tabatinga a Nova Europa 19 km.
Depois do sorvete, partimos em direção a Gavião Peixoto. Pedal tranquilo até chegar ao muro do cemitério da Vila Nova Pauliceia, quando viramos à esquerda, pegando um aclive razoavelmente acentuado, em uma estradinha estreita que recorta a vegetação, subindo por 2,1 km até chegar ao asfalto novamente.
Neste ponto, há uma placa do CF marcando 642 km: 
No site do Caminho está assinalada a chegada à cidade no km 640 e depois aparece o nome da Pousada, sem informar em que km ela está. Seguimos em direção à cidade procurando ver se aparecia alguma sinalização da Pousada Rural Fazenda Alegria, onde havíamos feito reserva. Chegamos à cidade, sem ter visto indicação da Pousada. Imaginamos então que ficasse após a área urbana. Fomos seguindo a sinalização, em declive. Passamos pela praça central, pela igreja, olhares atentos procurando a Pousada. Saímos da cidade e continuamos a descida, pelo asfalto, até que chegamos onde está localizada a Estação de Tratamento de Esgotos e nada da Pousada. Paramos para trocar uma ideia e achamos que havia alguma coisa errada. Sem saber o que fazer, ligamos para o Márcio, de Borborema, para perguntar-lhe se sabia onde ficava a Fazenda Alegria e ele nos disse que a entrada para a fazenda ficava lá onde havíamos chegado ao asfalto, ou seja, no km 642. Tivemos que subir tudo o que havíamos descido (suplício do ciclista!) e voltar naquele ponto indicado pelo Márcio.
Chegando lá, pela orientação dele, que até nos enviou um mapa pelo telefone, teríamos que virar em sentido contrário à cidade para ir à Fazenda. Aí surgiu um outro problema: a estrada se bifurcava à esquerda, em terra e à direita, pelo asfalto. 
Por onde? Ligamos novamente para o Márcio e ele disse que era pela estrada de terra e que a fazenda ficava umas três saídas depois, à esquerda. Fomos indo e, mais uma vez, nenhuma placa da Pousada. Minha esposa parou novamente: “Não é possível, tem alguma coisa errada! Estamos indo muito longe”! Decidimos, então, tentar o Google Maps. Para nossa sorte, o Maps mostrou-nos o caminho certinho até o destino. Tivemos que voltar um pouco, até a segunda saída, pegar uma estradinha boa, atravessar uma porteira e descer uns 100 m mais. Aí a gente avistava uma casa ao fundo e um cimentado conduzia até lá. A estradinha, no entanto, continuava em frente. Nada escrito indicava o lugar. Achei melhor entrarmos pelo cimentado e perguntar. Mas, era lá. Ufa!
Devido a esta confusão toda, não pude aproveitar a gravação do Wikiloc. O CF assinala 14 km de Nova Europa a Gavião Peixoto.
Fomos recebidos pela proprietária, Isabel. Aliás, a reserva neste local foi muito trabalhosa. Primeiro, porque o telefone que consta no site do CF não funciona. Segundo, porque a proprietária disse que a pousada não estava funcionando já há algum tempo e que não estavam recebendo ninguém. Só depois de alguma insistência e de um pedido do tipo “mas onde vamos ficar, se você que está constando do CF não nos receber? Não há nenhuma pousada em Gavião Peixoto”! Resolveu nos aceitar e combinou inclusive de fazer o jantar.
Segundo a Isabel, seu ex-marido, que faleceu, era responsável pelo Conselho Municipal de Turismo da cidade e entusiasta da pousada e do Caminho da Fé. Depois de seu passamento, não havia quem pudesse tomar conta da pousada, que parou de funcionar e ela conduzia apenas as atividades da fazenda, especialmente a retirada de leite, o que é feito por máquinas automáticas. A fazenda possui uma quantidade relativamente grande de vacas produtoras de leite e a máquina comporta oito de cada vez. Por isso, a retirada leva muito tempo e dedicação, com o acompanhamento e substituição das fêmeas bovinas em cada um dos oito pontos de retirada. E isso duas vezes por dia! Não sobra tempo para cuidar da pousada.
Fomos, então, privilegiados pela atenção que nos dedicou, tendo preparado um ótimo jantar, composto de salada, peixe e risoto de palmito.
Dormimos confortavelmente em um apartamento com ar condicionado. Custo para o casal: R$ 150,00 mais R$ 70,00 pelo jantar.
Após o café da manhã, visitamos, antes de partir, o curral onde fazem a retirada de leite e nos despedimos da Isabel que, mais uma vez, estava lá cuidando de tudo, como faz diariamente. 
O retorno para Gavião Peixoto foi tranquilo porque já conhecíamos o caminho. 

Chegamos rapidamente à cidade, atravessamos e seguimos em frente, passando novamente pela Estação de Tratamento de Esgotos, já do outro lado da cidade, desta vez, vertiginosamente na descida pelo asfalto. Após cruzar o rio Jacaré, (foto abaixo) onde só passa um veículo de cada vez, é preciso ficar atento à placa de sinalização do CF, que nos obriga a virar à direita, primeiro seguindo entre a vegetação e o canavial e logo depois penetrando definitivamente em meio às canas. 

É quase impossível, neste trecho, fotografar alguma coisa sem que apareça cana na imagem: 






Mesmo assim há uma passagem por um trecho bucólico, com muitas árvores e sombra. 



No km 15 chega-se novamente ao asfalto, mas por muito pouco tempo: logo depois temos que sair à esquerda, seguindo a sinalização, na localidade de Ponte Alta. Uma pequena rua asfaltada, com dois bares para abastecer as caramanholas. No primeiro deles, um rapaz muito gentil as encheu de água solicitamente e já saímos para o canavial de novo. 





Logo à frente passei direto por uma sinalização que apontava para a direita e estava meio encoberta pelas folhas de cana. Eram duas setas amarelas, pintadas em estacas azuis de madeira. Voltei, atendendo os chamados desesperados de minha mulher, que não estava muito disposta a ficar correndo atrás de mim.
Mais a frente fomos alcançados pelo Marcelo, de São Carlos, que também estava percorrendo o ramal do CF, juntamente com seu pai. Conversamos um pouco e eles seguiram adiante, nosso ritmo era mais lento que o deles.
Mais adiante, outra surpresa: um casal, também fazendo o Caminho, mas a pé: era o Tomás e sua esposa, de Itápolis. Muito duro para eles, pois o sol estava inclemente e no trecho que os alcançamos, em meio ao canavial, não havia sombra. Fiquei admirado da coragem deles mas considerei a atitude até um tanto insana. Sofrimento, não!
Chegamos a Boa Esperança do Sul já em horário de almoço. Perguntamos a uma transeunte, na praça da igreja, onde poderíamos almoçar. E ela nos mostrou um pequeno restaurante, bem em frente, onde disse que a comida era boa. Ela mesma estava indo comprar o almoço para sua família.
De fato, o lugar estava lotado e só depois de algum tempo conseguimos uma mesa dentro, porque do lado de fora íamos penar no sol. Enquanto aguardávamos nosso pedido, chegaram o Marcelo e seu pai, que haviam tentado outro restaurante, sem sucesso.
Comemos bem, reabastecemos nossas garrafinhas de água e partimos em direção a Trabiju.
Na mesma rua do restaurante havia uma seta amarela, indicando para ir em frente e seguimos. Chegamos a uma rotatória onde havia uma placa de quilometragem do CF, mas sem indicação de qual direção deveríamos tomar. Resolvemos seguir pelo asfalto, acompanhando a sinalização da estrada, pois não se apresentava alternativa plausível.
O tempo foi passando, os quilômetros também e nada de sinalização do CF. Cheguei a achar que estava errado, mas decidimos ir em frente mesmo assim, pois não estávamos a fim de voltar para procurar. Chegamos ao trevo de entrada em Trabiju, oito quilômetros depois da última sinalização do CF e ainda não encontramos nenhum sinal.
Mais uma vez recorremos a moradores, que nos disseram que o caminho era pela entrada da cidade mesmo. Seguimos.
Em Trabiju, paramos em uma sorveteria para aliviar o calor. Conversamos bastante com a proprietária, dona Tereza e partimos novamente. 



Este trecho, de 19 km, foi um dos mais difíceis, não por aclives acentuados ou buracos, mas por muita areia e resíduos da construção civil no leito da estrada. Era necessário um esforço enorme para vencer os areais constantes e quando não, pipocar nos pedaços de tijolos, pedras e outros detritos. Haviam, inclusive, montes de resíduos à beira da estrada, prontos para serem espalhados no caminho.
Muita força e suor depois, chegamos a Ribeirão Bonito, onde ficamos na Pousada Veraneio (R$130,00 a diária de casal). Pedimos uma pizza para o jantar, que acabou sobrando para o almoço do dia seguinte.
O café disponível, pela manhã, era contadinho: 2 pães, duas bananas, 4 fatias pequenas de melão, café, leite frio, margarina, algumas fatias de queijo e apresuntado e um pedaço de bolo de chocolate.
Partimos em seguida, paramos numa padaria para comprar água e fomos em frente. Paramos no marco do CF, onde há uma representação do calvário de Cristo montanha acima. 


Não subimos, pois quando é o último dia, a gente fica com aquela vontade louca de chegar logo. Não há, no local, sinalização de para que lado seguir. Avistamos, a uns 50 m, em um poste, na rua perpendicular àquela em que vínhamos, uma seta amarela e seguimos por lá. A parada ali foi a nossa sorte, pois não fosse isso, não teríamos percebido que tinha que virar à esquerda.
Quando, seguindo a orientação do Caminho, saímos do asfalto para pegar uma rua de terra, surpresa: havia uma placa do CF mandando seguir em frente, mas bem diante da placa, alguém havia feito com máquinas um monte enorme de terra, fechando a passagem. Algum bom brasileiro aproveitou o amontoado de terra e jogou ali galhos de árvores aumentando a altura do obstáculo. Será que há outra ponte caída aí pela frente e por isso o caminho foi interrompido? Procuramos rotas alternativas para voltar ao Caminho mais adiante, porém não havia. Um motorista de caminhão de entregas, quando perguntado, levou-nos até uma estrada de terra, dizendo que por ali chegaríamos a São Carlos, mas que aquele caminho tinha mais de 50 km. O CF informava 43 km entre Ribeirão Bonito e São Carlos. Decidimos não seguir por ele, pois não tinha as setas amarelas e poderíamos nos perder. Voltamos ao local. Consegui transpor o monte, para enxergar do outro lado e pude ver uma estradinha erodida, com o mato crescendo e sem sinais de utilização. Reforçou-nos a possibilidade de que ninguém estava passando por ali. Perguntamos na vizinhança, mas não conseguimos informação confiável.
Então decidimos seguir pelo asfalto. E foi o que fizemos.
Conversando posteriormente com o Marcelo, que também estava no Caminho naquele dia com seu pai, soubemos que eles passaram as bicicletas por cima do monte e seguiram por lá. Falou que o Caminho neste trecho é bem difícil, com muuuita areia, placa de sinalização caída suscitando dúvidas, mas que mesmo assim haviam conseguido chegar.
Nós, enfrentando os sobes e desces da estrada asfaltada, ainda passamos um perrengue quando estávamos chegando a São Carlos. Estávamos pedalando na contra mão do fluxo, pois a posição do sol sombreava o acostamento quando havia árvores à beira da estrada. Nas proximidades do bairro Cidade Aracy, um carro parou à nossa frente. Reduzi a velocidade, esperando para ver o que ele ia fazer. Vi que aparentemente só estava no carro o motorista e que este ficou mexendo em alguma coisa dentro do carro, sem menção de sair. Decidi então passar ao lado do carro, mas entre este e o limite da estrada, não entre o carro e a pista, pois havia muito movimento.
Quando eu já havia passado a janela do banco da frente, com minha esposa vindo atrás, o motorista fez sinal para pararmos. Parei já na parte de trás do carro e minha esposa ficou defronte a janela do motorista, do lado do passageiro. Ele perguntou se era por ali que ia para Analândia. Pergunta estranha, pois Analândia ficava para o outro lado da Rodovia Brigadeiro Faria Lima, de onde ele aparentemente vinha vindo. Dissemos que ele deveria virar o carro e voltar, pois ficava na direção oposta. Ele estava mexendo no celular. Saímos rapidamente dali e minha esposa, que pôde olhar nos olhos dele, ficou assustadíssima e disse para irmos a algum lugar onde houvesse gente, pois achava que ele estava chamando um comparsa para nos assaltar. Vimos que o carro havia virado, mas estava parado do outro lado da estrada. Atravessamos por cima do canteiro que separava a estrada de uma via marginal e chegamos a um bar, onde havia algumas pessoas. Quando tentamos ver novamente o carro, ele havia desaparecido.
Decidimos não continuar, por medo de sermos assaltados. Poderia não ser nada disso, mas o olhar do homem não deixava dúvidas em minha esposa. Contratamos um táxi para me levar até o Hotel Acácio, onde estava meu carro, enquanto minha esposa ficou no bar, com as bicicletas, sob a “proteção” das pessoas que estavam lá. Pequei o carro, voltei ao local, carregamos as bicicletas, almoçamos o resto de pizza do dia anterior e fomos embora.
Realmente, um grande susto.
Depois que chegamos em casa, mencionei todas as nossas dificuldades em mensagem à Associação do Caminho da Fé e também ao Márcio, lá de Borborema. O Márcio agradeceu e prometeu efetuar gestões junto ao Caminho para solução dos problemas. Da ACD não recebemos nenhuma resposta.