É, acho que podemos chamar assim. Como diria aquele personagem da televisão, “coisa horrorosa!”
Saímos de Ribeirão Preto para São Paulo, no vôo das 06:35 h de domingo, dia 22/05. Chegamos ao Aeroporto de Guarulhos 40 minutos depois e tome chá de cadeira, pois nosso vôo para Madri era só às 15:30 h... Fizemos o check-in por volta de 12:30 h, comemos alguma coisa, entramos para a ala de embarque internacional (que chic!) e fomos ver os preços do free shop. Saímos no horário, em um big avião da Ibéria, daqueles grandões. Acho que havia mais de 300 passageiros e a maioria era de brasileiros.
Nove horas depois descíamos em Madri (hora local 6 da manhã) e como nossa conexão para Pamplona só saía as 12:35 h, foram mais de seis horas de banco de aeroporto, de novo... Fomos tratados meio assim com casca e tudo, em Madri, mas tudo bem. Embarcamos para Pamplona no horário, pouco mais de uma hora depois, chegamos. Um táxi, pré-contratado ainda no Brasil, nos esperava. Ali mesmo conhecemos uma brasileira que mora atualmente na Suíça, ela também ia fazer o Caminho de Santiago e precisava condução até Saint Jean. Partilhou o táxi conosco. Carregamos as bicicletas e partimos para Saint Jean Pied Port, na França. Viagenzinha terrível: estrada cheiíssima de curvas e todos os três passamos mal. Ninguém chegou às vias de fato, porque pedimos para desligar o ar condicionado e abrir as janelas da van. Senão, não sei, não...
Chegamos a Saint Jean por volta de 15:30 h e quando fomos montar as bicicletas, decepção: uma delas estava com o câmbio traseiro dependurado, totalmente quebrado e as duas tiveram os eixos da roda traseira entortados. E agora?
Outra coisa: Como achamos que o taxista saberia onde era o Albergue que havíamos reservado, não tínhamos anotado o endereço e ele não o conhecia! Tinha uma outra corrida marcada, deixou-nos na entrada da Rue de La Citadelle, onde fica a maioria dos albergues da cidade, na qual não é permitida a entrada de carros e se mandou. Descemos a rua empurrando as bicicletas e à busca de informação sobre uma oficina de consertos. Por sorte, obtivemos a informação no Centro de Atendimento ao Peregrino, que não só nos indiciou uma bicicletaria, como deu-nos um mapa, assinalando o local. Quando chegamos ao presumido local, não avistamos nenhuma oficina de bicicletas. Dirigimo-nos a um “garçon” local: “s'il vous plaît”! O garoto virou-se: “Oui?” E aí, usando nosso parco conhecimento de francês, tentamos perguntar se ele sabia onde havia uma oficina de bicicletas por ali. Ele achou que quiséssemos consertar o pneu... Mais mímica e gestos até que ele compreendeu e nos pediu para seguí-lo, mostrando-nos gentilmente onde era a oficina. Um cidadão chamado Jean nos atendeu e conseguimos também explicar nosso drama. Ele compreendeu e prometeu consertar as magrelas, marcando a devolução para as 18:45 h. Enquanto aguardávamos mais uma vez, fomos comer alguma coisa e aproveitamos para ver o endereço do albergue. Pasmem, era na própria rue de La Citadelle... Comemos uma pizza que não fez juz à fama de bons cozinheiros dos franceses, nem um pouco saborosa.
Bom, as bicicletas ficaram prontas, ficamos fâs do Jean por causa de sua atenção e competência. O mais curioso é que ele, sendo mecânico da oficina que, aliás, faz parte de uma grande loja tipo Arco e Flecha do Brasil, foi embora dirigindo um Audi...
Localizamos o albergue, chamado Ultreya e fomos extremamente bem atendidos pelo Bernard, que fala bastante coisa em português.
No dia seguinte, depois do ótimo café da manhã e após sessão de fotos da bela Rue de La Citadelle, partimos para o primeiro dia de pedal. Como já era esperado, trecho muito duro no início, na subida dos Pirineus. Depois de 8 km, chegamos ao Albergue Orisson, sob intensa neblina que não nos deixava enxergar nada além de uns cinco metros de distância. Ou seja, não vimos nada da beleza das famosas montanhas. Mas como tudo que sobe tem que descer, percorremos também trechos de acentuados declives, muito perigosos por causa da grande quantidade de pedras soltas ou fixas, de todos os tamanhos, em tal quantidade que às vezes nem era possível pedalar e a bicicleta tinha que ser empurrada.
No mais, o primeiro trecho percorrido, especialmente na Espanha, é formado por trilhas, muitas vezes entre florestas, formando maravilhosos corredores entre árvores de todo porte, tornando o percurso muito agradável e reconfortante. A partir de Roncesvalles, a trilha segue por um bom período ao lado da “carretera”, mas foi recortada entre as árvores, de tal forma que você permanece a poucos metros da rodovia, mas sem correr riscos com o movimento de veículos. Um barato. Outros trechos, depois de Zubiri, são tão estreitos (não chegam a ter em muitas partes um metro de largura), tendo a montanha do seu lado direito e um precipício do lado esquerdo. Nesses locais, o intenso tráfego de peregrinos, atrapalha o desenvolvimento do ciclista, se é que podemos dizer assim. Os pedestres não nos ouvem e temos que ficar pedalando bem devagar atrás deles até que notem nossa presença e nos dêem passagem. Sugeriram uma campainha na bicicleta e essa talvez seja a solução ideal.
Muitos brasileiros no Caminho, das mais diversas partes do país. Lembro-me de um casal de Florianópolis, um outro de Curitiba, com quem jantamos em Zubiri, duas garotas de São Paulo, três senhores do Mato Grosso, entre outros. Quando os encontramos, é sempre uma festa...
Este texto vai ficar sem fotos. Confesso minha incompetência em conseguir baixá-las da câmara para o micro. Já tentei tudo que estava ao meu alcance, sem sucesso. As fotos estão na máquina fotográfica, mas o sistema do computador não reconhece e diz que o arquivo está vazio. Aliás, se alguém tiver alguma sugestão, pode deixar o recado, eu agradeço...
E então: É ou não é uma epopéia?