domingo, 27 de dezembro de 2015

Estrada Real - Caminho dos Diamantes - 6º dia - Senhora do Carmo a Ipoema - 27/11/2015

A saída, no 6º dia, de Senhora do Carmo, em frente à lanchonete do posto e pousada de mesmo nome:
Como se pode ver na foto seguinte, os (bons) apartamentos da Pousada Senhora do Carmo estão localizados no andar superior e são dotados de frigobar e ar condicionado:
A redundante saída em aclive mostra, a cerca de 200 m, a pousada já à distância:
Olhando para frente ou para trás, o verde domina a paisagem:

Um chuvisquinho fino salpicando o rosto torna o pedal uma atividade extremamente agradável: 
Com pouco tempo de pedal chegamos a uma passagem conhecida como "Duas Pontes":

E finalmente vamos poder mostrar, pasmem, um trecho plano!
O Parque Estadual da Mata do Limoeiro, que infelizmente não tivemos tempo de visitar, está localizado na Serra do Espinhaço e possui 4 cachoeiras, 4 mirantes, circuito interno de bicicleta, 2 lagoas, trilhas para caminhadas e gruta. A entrada é gratuita e fica aberto de terça a domingo, das 8:00 às 16:00 horas. 
A cidade de Ipoema, distrito de Itabira, embora de pequeno tamanho, desenvolve intensas atividades culturais e mantém tradições que encantam o viajante da Estrada Real. Uma delas é o Museu do Tropeiro, que não deixa morrer aspectos da vida e do comportamento destes importantes personagens da cultura local, regional e nacional. Na foto seguinte, a recriação da forma que utilizavam para cozinhar e manter aquecida a comida no acampamento:
Moda de viola dos tropeiros da Zona da Mata:

Maria, por caridade,
não ama tropeiro, não.
Tropeiro é home bruto,
bicho sem combinação.
Maria, escute o conselho:
sossega seu coração. 

Os tropeiros, em direção a Minas Gerais, transportavam suas mercadorias em lombo de animais, em razão da geografia montanhosa da região.
Carlos Drummond de Andrade homenageou estes fortes animais até hoje utilizados para transporte de cargas nas regiões mais remotas do país:
Nomes

As bestas chamam-se Andorinha, Neblina
  ou Baronesa, Marquesa, Princesa.
Esta é Sereia, 
aquela Pelintra,
e tem a bela Estrela.
 Relógio, Soberbo e Lambari são burros.
O cavalo, simplesmente Majestade.
O boi, Besouro,
outro Beija-Flor
 e Pintassilgo, Camarão,
Bordado.
Tem mesmo o boi chamado Labirinto.
Ciganinha, esta vaca; outra, Redonda. 
Assim, pastam os nomes pelo campo,
ligados à criação. Todo animal
é mágico.

Os tropeiros percorriam cerca de 40 km por dia e suas atividades existiram desde o século 17 até o começo do século 20. 
Com o tempo, povoados foram surgindo ao longo dos caminhos e eles se tornaram, assim, importantes fatores de desenvolvimento e integração econômica e também cultural. 
As regiões que percorriam incluíam o Sul do Brasil, SP, MG e o Centro-Oeste do país.
Hoje, em todas essas regiões há grupos formados, encontros , festas e eventos para lembrar e exaltar as façanhas dos tropeiros pelo Brasil afora.
Em Ipoema, um grupo folclórico chamado "Lavadeiras de Ipoema" se apresenta sempre em festas, homenagens e em toda Roda de Viola, evento que acontece em todos os sábados de lua cheia, de abril a outubro.
Outro evento que movimenta a cidade e a região é a Festa de Santa Cruz.
Trata-se de um evento que ocorre no final de semana mais próximo do dia 3 de maio de cada ano. 
Os participantes percorrem a pé uma distância de 14 quilômetros, indo da cidade até o Morro Redondo, subindo, de 625 m para 1224 m de altitude. São acompanhados por carros de apoio que levam água e alimentos e que podem socorrer eventuais desistentes.
No percurso, há 12 cruzeiros, os quais são enfeitados por famílias locais, cada um por uma diferente, dentro de um tema escolhido antecipadamente. O de 2015 foi Cores e Devoções e cada um deles homenageia um santo diferente.
A concentração do povo para a partida é feita na porta da igreja Matriz de Ipoema, cuja padroeira é Nossa Senhora da Conceição.
As pessoas usam cajados que têm uma cruz que enfeita a ponta superior (ver foto acima). Na véspera do evento, sábado, é ministrada uma oficina, onde os participantes podem aprender a enfeitar a própria cruz.
Em cada cruzeiro no caminho é feita uma parada e breves orações.
Nas fotos abaixo, o cruzeiro que homenageia o Pai Eterno:

Este, em frente e verso, homenageia Nossa Senhora do Rosário:

Este outro, todos os santos:

 



















A senhora que aparece na foto à esquerda é a Secretária Adjunta de Turismo do Estado de Minas Gerais.
No próximo, os homenageados são os santos que protegem a natureza:
Notem que as pessoas sempre encostam o cajado na cruz, em sinal de fé e respeito.



















Este seguinte é em homenagem a Santa Terezinha:

Todas essas fotos do evento e o vídeo postados, foram gentilmente cedidos pelo nosso amigo Reinaldo Vieira, que mora em Ipoema e que também nos passou todas as informações aqui inseridas, a quem agradecemos muito.
Nós passamos, na nossa ida ao Morro Redondo, que vou contar mais adiante, por todos esses cruzeiros e o de Santa Terezinha nós fotografamos. Ele ainda conservava a maior parte dos adereços com que o enfeitaram:
Este aqui homenageia São Francisco e Santo Antonio:
O próximo fica na passagem pela Fazenda Cachoeira Alta. O nome da propriedade tem razão de ser:
O proprietário é o sr. Ornevino Coelho, que foi tropeiro. Aqui há uma parada especial, pois todos os anos ele oferece um café aos participantes. A homenagem é ao Sagrado Coração de Jesus:
Mais um cruzeiro em homenagem a Nossa Senhora do Rosário:
Já chegando ao pé do Morro Redondo, temos o cruzeiro que homenageia os santos juninos (a imagem na cruz é de São Pedro): 
No topo do morro a homenagem é a todos os santos:

Nossa visita ao Morro Redondo só foi possível graças à gentileza do nosso amigo Reinaldo Vieira, um conhecedor e incentivador da cultura local e regional, que nos levou em seu carro.

O carro só pode chegar até uma certa altura do morro, onde fica o estacionamento. Dali, temos que prosseguir por uma trilha montanha acima:








No alto do morro foram construídos uma igreja e uma casa, além de ter sido instalada uma estátua, de autoria da escultora Vilma Nöel, nascida em Diamantina. Todo o material utilizado foi levado para o alto graças à força e boa vontade de pessoas que os carregaram nas mãos ou carriolas, a partir do ponto do estacionamento.
O nome da estátua é "Anjo: o Destino"

Há também um mirante, de onde se pode observar a região montanhosa ao redor, até o horizonte:



A visão a partir do alto do morro é inesquecível:



Quando voltávamos, o sol já se punha atrás das montanhas:
Na Pousada Quadrado, onde ficamos, fotografamos a única cachaça que tem autorização para utilizar a marca "Estrada Real":
Numa parede interna da pousada, uma cópia da obra do artista Mestre Ataíde (Manuel da Costa Ataíde), natural de Mariana e contemporâneo do Aleijadinho. É um painel grande com traços mulatos, da segunda metade do século 18, início do 19, cujo original está no teto do altar-mor da Igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto:
E este é Reinaldo Vieira, nosso cicerone em Ipoema, a quem devemos todas estas informações e a quem mais uma vez agradecemos:
Graças a ele pudemos rechear nosso blog com informações que podem interessar muito a quem pretende conhecer a região ou até, quem sabe, despertar esta vontade em quem nem estava pensando nisso...