Turvolândia a Careaçu
Dia marcado pelas frases de motivação espalhadas pelo caminho. Caprichosamente desenhadas em tabuletas, abusando das cores para ressaltar aos olhos, evidenciam o cuidado dos organizadores e a preocupação em manter os viajantes focados em busca do objetivo final.
Na saída de Turvolândia, fotos do interior da pousada e da cidade:
A estrada é boa, muito pó sobre o chão batido, porém pouquíssimo movimento de veículos. Saímos por volta de 8 horas e seguimos com tranquilidade:
Do ponto de vista dos organizadores, se o caminho está difícil, o sol castiga, há muitas subidas, a poeira ataca a alergia, então é preciso motivar-se. Uma frase resume tudo e a adotamos, a partir daqui, como nosso lema: E para vencer os desafios, há que ter fé: A estrada recorta a terra. Árvores isoladas têm espaço para se expandir em todas as direções nas margens pouco vegetadas:
O céu se preenche de chumaços de algodão que se destacam no azul, trazendo sombra e criando figuras na imaginação:
As frases, estrategicamente colocadas, vão surpreendendo e já criam, na gente, uma expectativa sobre qual será a próxima:
As motivações continuam, enquanto admiramos a paisagem ao fundo:
Um giro de 360° expõe a geografia ao redor: Duas seriemas nos olham desconfiadas, adiando para outro momento o dueto melodioso que as caracterizam: E o pedal volta a ser nós apenas, o silêncio, o sol, o céu, as árvores e o caminho:
Mas não por muito tempo: um altaneiro gavião nos faz parar e admirá-lo, enquanto se exibe sobre a cerca: Mas, temos que chegar ao destino, por isso a gente prossegue: sem pressa, sem velocidade, mansamente, curtindo cada metro de chão.
Então, chega uma descida mais acentuada, deixo correr para sentir a brisa no rosto e aproveitar o embalo para subir parte do aclive do outro lado, sem fazer força. Mas a subida é muito íngreme, decido desmontar e empurrar a bicicleta. Olho para trás para falar com minha companheira que deveria estar chegando e não a vejo. Um fio de ansiedade já cutuca o cérebro. O que será que houve? Aguardo alguns instantes e nem sinal dela. Decido ligar. Para minha felicidade, ela atende: quebrou o suporte do alforje, na passagem por um buraco mais fundo. Ela vai aguardar para ver se passa alguém que possa levar o alforje até Careaçu, onde poderemos providenciar o conserto. Passa uma caminhonete, mas o motorista não vai para a cidade. Passa um motoqueiro, que não tem como levá-lo. E mais ninguém. Tento falar com ela novamente, mas o telefone está sem sinal. Mensagens de whats app também não vão. Olho pela estrada e ainda não a vislumbro. Começo a voltar em sua direção até encontrá-la, descendo com dificuldade por ter que carregar o suporte quebrado preso ao alforje, segurando-o com uma mão enquanto a outra conduz cuidadosamente o guidão. Então, penduro o alforje no guidão e vamos indo devagar, estávamos a 8 km de Careaçu. Algumas centenas de metros pedalados e surge um carro em direção à cidade. Era um rapaz que trabalha em uma empresa de produtos para a agricultura e ele concordou em nos ajudar, levando o alforje até a loja, onde poderíamos pegá-lo quando chegássemos à cidade. Problema inicial resolvido, vamos seguindo, agora com a bicicleta mais leve, sem o alforje: A sinalização característica do caminho ressurge em grande estilo, a pouco menos de 4 km do destino e continua cumprindo sua função de orientação e incentivo ao viajante:
Chegando à cidade, o Rio Sapucaí também exibe sua imponência e a multicolorida ponte possibilita a conexão:
No poste a sinalização não deixa margem a dúvidas: Um portal transmite as boas vindas aos viajantes do caminho: Ficamos em Careaçu na Pousada Castelo. Nosso quarto, o mais barato entre as ofertas da pousada (R$ 130,00 o casal), era apertado. Muito pouco espaço para acesso à pia do banheiro. Uma pessoa mais corpulenta teria muita dificuldade para usá-la. O preço inclui o bom café da manhã e também um jantar leve que é servido aos hóspedes sem custos. No caminho para lá pegamos o alforje na loja onde a pessoa que gentilmente o trouxe para nós havia deixado. Depois de instalados, procuramos uma oficina de bicicleta para ver o que era possível fazer com o suporte quebrado. O Vaguinho, da bicicletaria, foi muito gentil e se propôs a levar o suporte a um serviço de solda de alumínio para efetuar o conserto: Feita a solda, na hora de reinstalar o suporte se partiu no mesmo lugar inicial. O Vaguinho nem nos deu tempo para conversar: disse que ia resolver e saiu apressadamente, quase correndo, sem nos dar chance de pensar em outra alternativa. Até compramos condicionalmente uma mochila, no comércio local, para transportar nossos pertences que estavam no alforje, caso o processo de solda não lograsse êxito. Despacharíamos o alforje para casa pelo correio. Mas, mais tarde ele apareceu, reinstalou o equipamento e nos assegurou que o suporte poderia até quebrar em outro lugar, mas que onde havia quebrado não se partiria mais. Ele foi, no seu próprio carro, até a cidade de Itajubá, onde sabia haver soldador de alumínio, providenciou o serviço e voltou com o suporte consertado. Aliás, continuamos usando-o até hoje e ele se mantém firme. Nosso profundo agradecimento ao Vaguinho pela disposição e efetividade em nos ajudar com o perrengue, pois utilizou toda a sua tarde naquele dia para resolver nosso problema e não abusou no preço cobrado.
Quilometragem do dia: 31,2 km. Altimetria: 691 m.
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