Estadia
em Levico Terme - Hotel Albergo Scaranó - Strada Provinciale per Vetriolo, 86 -
tel. +39-0461-706810 - Custo de 110 euros com meia pensão.
Magnífica
permanência. Pessoal simpaticíssimo, quarto limpo, bom e arejado, local
adequado para as bicicletas, cozinha espetacular. Café da manhã de primeira
linha. Altamente recomendável.
Hoje
seria o 12º dia de pedal na Via Claudia Augusta. Não foi.
O
dia amanheceu chuvoso e uma coisa é você estar no caminho e começar a chover.
Outra é sair direto na chuva e no frio. O trecho seria pesado, com previsão de
84 km, ao menos dois aclives acentuados e longos e com chuva forte ia complicar muito.
Como
já tínhamos tudo programado daí para a frente, inclusive as reservas de hotel e
a viagem de volta para o Brasil, não poderíamos esperar a chuva parar. O jeito
foi fazer o percurso deste dia, de trem.
O
pessoal do hotel muito gentilmente verificou os horários de trens e os
percursos que deveríamos fazer e nos levou de van até a estação ferroviária. Chegando
lá, nos ajudaram a comprar as passagens e nos posicionar nos locais corretos
para o embarque. Tudo perfeito, foi só esperar o trem:
No
primeiro trem iríamos para Bassano. De lá, teríamos que pegar outro para Castelfranco.
Por fim, em Castelfranco pegaríamos um terceiro trem até Feltre. Em Feltre,
pegaríamos um ônibus até Croce D'Aune, onde tínhamos hotel reservado para
aquela noite, porque não havia trens para lá.
O
trem chegou no horário certo e nós embarcamos. O fiscal do trem gentilmente nos
ajudou a colocar as bicicletas de forma correta no local apropriado:
Este
trem tinha um vagão destinado ao transporte exclusivo de bicicletas,
procedimento que, fiquei sabendo depois, passaria a ser de rotina no auge do
verão europeu, que iria de 01/07 a 31/08. Fora desse período, quando não há esse
vagão exclusivo, eles podem transportar apenas duas bicicletas por viagem e a
gente tem que acessar sempre o último vagão e rapidamente, pois o trem fica
parado pouquíssimo tempo em cada estação.
Pois
bem. Descemos em Bassano, até aí sem problemas. Deslocamo-nos para a plataforma
de embarque para Castelfranco e ficamos aguardando. Havia lá uma
senhora que nos perguntou sobre o trem. Na conversa, acabamos descobrindo
que ambos éramos brasileiros e o papo fluiu mais fácil. Ela disse que tinha
ouvido que o trem iria parar em outra plataforma. Eu disse que não, mas logo um
sinal luminoso indicou a mudança. Mais uma vez o trem chegou no horário e colocamos
as bicicletas para dentro. Não havia aquele vagão exclusivo, mas o último estava
vazio e ajeitamos as bicicletas em um canto, sem problemas. Logo vieram dois
policiais para verificar, olharam e voltaram sem dizer palavra.
Desembarcamos
em Castelfranco.
Na
hora do embarque para Feltre, quando o trem chegou, ao invés de a locomotiva
estar puxando os vagões, ela estava empurrando e aí começaram nossos problemas.
Nós estávamos posicionados no local que entendíamos como o final do trem.
Assim, logo que parou, mesmo não havendo a sinalização de bicicleta desenhada no vagão, como no trecho anterior e na Alemanha, começamos a por as bicicletas para dentro. Com metade da
minha bicicleta já dentro do trem, a outra metade segurando no ar, ouço um
apito. Olhamos para a outra extremidade do trem e duas pessoas uniformizadas
olhavam acintosamente para nós, Pensamos, xi, não é aqui e descemos com a
bicicleta rapidamente para fora. Os caras gesticulavam freneticamente indicando
para entrarmos. Então celeremente colocamos as bicicletas para dentro, entramos
e sentamos.
O
trem partiu imediatamente e logo chegou o fiscal. Mostramos-lhe as passagens e ele perguntou:
-
Inglês ou italiano?
Demorei
um pouco para entender o sentido da pergunta e ele começou a falar em inglês:
-
Vocês não validaram as passagens?
Respondemos:
-
Bem, compramos as passagens antes da viagem, achamos que não precisasse
validar, que isso seria necessário apenas se fôssemos viajar em outro dia.
-
Toda passagem tem que ser validada. E vou dizer uma coisa para vocês: as
bicicletas têm que ser embarcadas sempre no último vagão.
Vocês
não sabiam disso?
Começamos
a responder:
-
Bom, é que...
E
ele voltou a falar e o diálogo que se seguiu foi esse:
-
Vocês são de onde?
-
Do Brasil.
-
Hummm, de onde?
-
Do interior de São Paulo.
-
Ah, de São Paulo. Vocês, paulistas, pensam que sabem tudo!
No caminho, passamos por uma pequena estação
de nome sugestivo:
Descemos
em Feltre por volta de meio dia e o ônibus para Croce D'Aune só sairia às 3 da
tarde. Compramos as passagens, inclusive para as bicicletas e fomos almoçar no
bar da própria estação ferroviária, porque continuava chovendo bastante. O
ponto de partida era na frente da estação, com marcas de estacionamento no
chão. Falamos com um motorista de outro ônibus e ele nos indicou onde pararia o
que iria a Croce D'Aune. E esperamos.
Um
pouco antes das 15 horas, chegou nosso ônibus. Um micro-ônibus. Fomos falar com
o motorista:
-
Croce D'Aune?
-
Sim!
Mostramos
nossas passagens. Ele balançou a cabeça afirmativamente.
-
Então vamos pegar as bicicletas!
-
Bicicletas?
-
Sim!
E
apontamos para as ditas cujas.
-
Eu não posso levar bicicletas!
-
Como assim? Mas nós temos as passagens!
-
Eu não levo bicicletas!
Um
instante de silêncio que pareceu uma eternidade.
-
Mas... Não leva bicicletas? E como vamos fazer?
-
Eu não sei, mas eu não posso levar bicicletas. Veja o ônibus...
E
apontou para o pequeno ônibus que dirigia.
Ainda
tentei argumentar:
-
Tem espaço ali, ó, junto daqueles bancos.
E,
de fato, havia bastante espaço. Se ele quisesse levar, poderia ter levado
tranquilamente. Mas firmou na negativa.
-
Não... Não.
Olhei
para ele desconsolado e vi que não ia ter jeito. Virei as costas e fui devolver
as passagens. O vendedor de bilhetes disse que não sabia que o motorista não
levava bicicletas. E devolveu nosso dinheiro.
Verificamos
que o ônibus partiu com apenas uma passageira, quase que totalmente vazio...
Nas
montanhas vizinhas da cidade, via-se a formação daquelas nuvens de cor azul
muito escuro, quase negras, anunciando para muito breve o recrudescimento da
chuva. Pegamos nossas bicicletas e decidimos procurar por um hotel ali mesmo,
em Feltre. De lá ligaríamos para o outro hotel em Croce D'Aune e explicaríamos
a situação.
Começamos
a andar em direção ao centro da cidade e a chuva já começava a apertar.
Entramos no primeiro hotel que avistamos: 100 euros, só com o café da manhã.
Topamos na hora. Foi a conta de colocarmos as bicicletas para dentro, na
própria recepção do hotel e o temporal desabou. Chuva e vento fortíssimos,
assobiavam e balançavam tudo. A recepcionista disse para deixarmos as
bicicletas ali mesmo que, depois que a chuva passasse, nos avisaria para as
guardarmos na garagem. Pedimos a ela que contatasse o outro hotel, em Croce
D'Aune e ela gentilmente ligou para lá, explicou a situação e nossa reserva foi
cancelada sem custos. Orientamo-nos, também, ainda com a recepcionista, sobre
um local para o jantar e subimos para um banho no quarto.
Assim
terminou nosso conturbado 12º dia de Via Claudia Augusta. Sem pedal.
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