quinta-feira, 14 de julho de 2022

Estrada Real - Caminho Velho - Lagoa Dourada a Tiradentes - 14/04/2022 - 8ª etapa

Lagoa Dourada/Prados/Bichinho/Tiradentes

Saímos muito tarde de lagoa Dourada, somente às 09:43 h. A Pousada das Vertentes, onde dormimos, é um prédio antigo, imponente: 

Pousada das Vertentes

O quarto que ficamos, no andar superior, de frente para a rua, é amplo e tem piso de tábuas rústicas, grossas, com grandes janelas e pequenas sacadas clássicas. Como ocorre em muitas cidades mineiras da região, o prédio é tombado pelo patrimônio histórico, por isso não pode sofrer alterações externas. Como os dormitórios eram muito grandes, os banheiros puderam ser construídos ocupando área dentro dos quartos, sem que estes ficassem apertados. Continuam com bom espaço e o banheiro, com piso de cimento, ao qual foi aplicado pigmento vermelho, tem um bom chuveiro.

Quando chegamos, na véspera, perguntamos se a pousada oferecia serviços de lavanderia. Ante a resposta positiva, entregamos as roupas de bicicleta e outras, que estavam sujas, para que fossem lavadas. De manhã, quando fomos apanhá-las no varal, descobrimos que estavam completamente encharcadas, como se tivessem acabado de sair do tanque, sem centrifugação. Ou seja, literalmente pingavam, não haviam sequer sido torcidas, para tirar o excesso de água. Tivemos que torcer a roupa e tentar secá-la ao menos um pouco ao sol, pois carregá-la molhada aumentaria muito o peso. Além disso, obviamente, não poderíamos colocar a roupa úmida junto com a seca. Daí sairmos quando já eram quase 10 horas. 

Vista diurna da igreja de Santo Antônio: 

Se seguirmos a planilha do site da Estrada Real, logo na saída, a partir da igreja matriz de Santo Antônio, eles mandam descer e virar à direita, sentido São João Del Rei. Porém observamos que trilhas gravadas no Wikiloc e indicações de blogs, apontavam exatamente o contrário. Subiam, à direita de quem olha para a frente da igreja, na direção dos fundos. E foi isso que fizemos. 

Ainda bem que fizemos, porque, logo atrás da igreja, há uma estrutura, muito linda, constituída por uma trilha calçada, com grama dos dois lados, em meio a duas filas de belíssimas palmeiras imperiais, que ornamentam o canteiro central da avenida, onde foram erguidas 14 monumentos em alvenaria,  representando o calvário de Cristo, na tradição católica. Se seguíssemos a planilha, teríamos perdido isto:



A representação termina na Capela de Bom Jesus, mais antiga e menos conservada: 

Pouco acima dessa igreja, cruzamos a BR-383, encontramos o primeiro marco da ER (nº 875) e seguimos em frente por uns 500 metros, pela rua Wantuil M. de Oliveira. Depois seguimos pela BR por 200 m e, quando a planilha manda entrar à esquerda, para uma trilha e estrada de terra, não fizemos isso. As informações que tínhamos é que a trilha estava mal conservada, com mato espesso fechando o caminho, muitas dificuldades para atravessar com bicicletas, em razão de pedras e árvores caídas impedindo a passagem, além de um trecho encharcado. Optamos por seguir pelo asfalto, cerca de 3 km, em descenso, até atravessar uma ponte, onde pegamos uma estrada rural à esquerda, seguindo até encontrar o marco da ER, quando então viramos à direita, seguindo a sinalização e retornando ao caminho original.
Quando pedalamos pelas estradas do interior do Brasil, sempre encontramos um arbusto espinhento, que produz grandes frutos de cor esverdeada, chamado lobeira: 
Para os pecuaristas, trata-se de uma praga muito resistente, porque infesta pastagens, tem raízes profundas e atravessa períodos de seca sem perder o vigor. Seu fruto serve de alimento para o lobo guará. Vocês já devem ter visto por aí...
Prosseguimos por boas estradas rurais e, com aproximadamente 8 km de pedal, no marco 886, viramos à esquerda, numa porteira, adentrando uma fazenda: 
Depois de atravessar a porteira, outro marco (887) confirma a direção a seguir: 

Seguimos em ascensão, após atravessar uma tranqueira (porteira de arame, com suportes de madeira). No alto, encontramos o proprietário da fazenda, sr. Paulo, que inspecionava, a cavalo, o trabalho de máquinas agrícolas. Tradição e modernidade. 
A descida em seguida, ainda dentro da fazenda, por trilha bastante íngreme e esburacada, muito técnica, foi feita lentamente, passando ao lado de um curral e outras estruturas. 
Então encontramos o marco 888, indicando virada à direita e, logo em seguida, o marco 889, com virada à esquerda.
O dia era de mata-burros e porteiras e a paisagem, muito verde, garantia o passeio agradável: 

Com pouco mais de uma hora e meia de pedal e paradas para fotografar, encontramos um trecho com calçamento pé de moleque, aquele bem ruim para andar de bicicleta. Deve ser bom para os veículos automotores, evitando dificuldades nas subidas, mas para o ciclista, seria melhor em terra: 
Após 15 km de Lagoa Dourada, passamos pela igreja matriz de Nossa Senhora da Conceição que, segundo a placa do marco 904, colocado em frente, foi construída no século XVIII, com o objetivo de dar origem à comunidade de Prados.
Porém, ainda nos encontrávamos a mais de 5 km de Prados. 
Já era quase uma hora da tarde e a fome apertava. Não trouxemos alimentação, porque pretendíamos almoçar em Prados. Como é comum encontrar praticamente todos os dias, passamos por mais um eucaliptal: 
À 1 h da tarde, passamos ao lado de uma construção grande, onde algumas mulheres vestindo aventais conversavam. Brinquei com elas que estava sentindo cheiro de comida e, para minha surpresa, elas disseram que ali era um restaurante e que havia comida, sim. Contornamos o muro e nos deparamos com o Restaurante Grotão, um lugar bastante simpático e acolhedor e com uma comida muuuuito saborosa! 

Muitos clientes curtiam o almoço no lugar, apesar de ser quinta-feira, meio de semana. A arquitetura é de muito bom gosto: 

Conversamos animadamente com frequentadores, proprietários e funcionários, pois um casal de idosos viajando de bicicleta, sem apoio logístico, por esse interior do Brasil, não deixa de ser uma curiosidade. O melhor de tudo é que não havia sinal de Internet e nós não tínhamos dinheiro vivo suficiente. A proprietária disse que não havia problema, pois faríamos um pix depois que estivéssemos alojados na pousada, à noite. A única coisa que pediu, foi ficar com nosso número de telefone. 
É de ficar admirado, não é mesmo? Nestes tempos bicudos em que todo mundo procura se cercar de todos os cuidados em quaisquer tipos de transações, para evitar perdas, uma pessoa demonstra confiança em um desconhecido e nos faz acreditar que um mundo melhor pode ser construído!
A passagem por Prados teria sido rápida, não fosse a ausência de sinalização, após chegar à cidade e a confusa orientação de moradores a quem pedimos informações. O que salvou foi uma gravação feita por usuário do Wikiloc. 
Igreja de Santo Antônio
A cidade tem dezenas de lojas de artesanato. Para todo lado que você olha, há uma, seja de móveis rústicos, artigos domésticos, decoração, telas, bordados, crochês, tapetes e outros adornos, em diversos materiais, tais como ferro, madeira, tecido, etc. A cidade respira artesanato. Escultura e arte são a base da economia local. Assentada aos pés do grande espigão da Serra de São José, que se estende desde Prados até São João Del Rei, possui um casario colonial exuberante. Registramos a mureta de concreto pintada em azul e branco, que dá graça e beleza à rua calçada por formas sextavadas:
Apenas 13 km separam Prados do distrito de Vitoriano Veloso. Dito assim, não tem muito significado, pois o povoado é conhecido mesmo pelo nome de Bichinho. A estrada é relativamente plana e o ciclista tem que conviver com o tráfego de veículos automotores, pois é o mesmo caminho, embora haja pouco movimento: 
A cidade é muito charmosa e, assim como Prados, sobrevive do artesanato, fortalecido pelo grande número de turistas que circula por suas poucas ruas. 








Mas, o atrativo que mais chama a atenção e que deu projeção até internacional ao distrito, é a casa torta. Ninguém passa pela cidade sem registrar e até fazer pose, ao menos uma vez, a famosa construção: 
O trecho entre Bichinho e Tiradentes tem apenas 7 km de extensão e é todo calçado com pedras, no estilo pé de moleque. Muito ruim para pedalar, pois a bicicleta saltita como canguru. Já estava escurecendo quando o percorremos, por isso não temos fotos. Estou juntando uma imagem do Google Earth para mostrá-lo: 
Percorridos 46,4 km no dia. Estadia em Tiradentes na Hospedaria Estrada Real, à rua Frei Veloso, nº 967, Pacu. Telefone 32-3355-2241. 
Custo de R$200,00 o casal. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário