quarta-feira, 16 de junho de 2021

Caminho de Cora Coralina - Trecho 4 - Também "fui lá pro sertão de Goiás!"

De Pirenópolis à Fazenda Caiçara - 26/05/2021

Dormimos confortavelmente no Casarão Dom Bispo, pagando uma diária de R$280,00 pelo casal, incluídos um chá de boas vindas, jantar e café da manhã. O Bispo oferece, também, suporte para transporte de bagagens e até traslado de veículos. É uma referência aos que vão percorrer o caminho, estando sempre à disposição para auxiliar no que for preciso. 


A gentileza do Bispo não parou aí. De manhã, após o café, levou-nos gratuitamente a visitar o Morro do Frota, de onde se tem uma magnífica visão da cidade e onde, em meio ao cerrado que circunda a área das torres de TV e rádio, encontram-se belas flores: 




Na volta, pudemos apreciar aspectos da cidade como, por exemplo, a igreja Nossa Senhora do Rosário, onde funciona atualmente um museu de arte sacra. 
A história diz que havia na cidade uma outra igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, construída no século XVIII, no mesmo local onde hoje existe a Praça do Coreto. Àquela época, o segregacionismo não permitia aos negros frequentar a mesma igreja dos brancos. Com a Lei Áurea, no século XIX, a miséria chegou forte aos negros e eles não puderam manter a igreja, que foi demolida em 1944, a mando da Diocese. 
Sob o sol, revisitamos a bela ponte sobre o Rio das Almas: 

O estilo colonial está presente nas igrejas, como esta dedicada a Nosso Senhor do Bonfim, bem como nas casas antigas bem preservadas. Observem o estilo único do calçamento de pedras das ruas e a ausência de fios elétricos aéreos: 




O mascarado é um personagem típico das cavalhadas de Pirenópolis que se encontra representado em vários locais da cidade: 
Na pousada do Bispo eu pude ver pela primeira vez na minha vida uma flor verde. Nunca tinha visto. Não é lá muito bonita, mas é uma curiosidade: 
A saída do caminho é feita por via asfaltada, por 6 km. Há marcas na pista quando chega o local de sair do asfalto e uma placa "Reserva 1727" à direita. Vira-se à esquerda, ultrapassando uma porteira, tomando uma estrada rural muito boa. 
Mais uma placa com dizeres motivacionais de Cora Coralina: 
Prosseguimos deslizando agradavelmente em meio ao cerrado por um bom tempo, passando através de um riacho e algumas porteiras: 



Sempre em planos ou em terrenos com pouca inclinação, cortamos fazendas com estradinhas pouco delineadas e aparecem pela primeira vez placas de sinalização do caminho colocadas pela Secretaria de Turismo de Goiás: 

A estrada continua boa e enfrentamos mais um riacho para atravessar, desta vez  sem ter que pisar na água: 

Descemos então por um pasto e chegamos a uma cerca onde as marcações do caminho estão em dois mourões, mas não há passagem. O colchete fica uns 30 metros abaixo. Ultrapassada a cerca, tivemos dificuldade com a sinalização, pois o caminho envereda em meio à vegetação e foi difícil encontrar a sequência: 




Depois dessa trilha fantástica em meio às árvores, chega-se a uma cerca, com indicações do caminho para seguir abaixo ao lado dela, que vai até o rio. Do outro lado da cerca, marcações do caminho indicam que temos que atravessá-la, mas não há passagem. Será que vamos recomeçar o tira alforjes e bolsas, passa tudo por cima da cerca, inclusive as bicicletas e põe alforjes e bolsas, do dia de ontem? É o jeito! 
Isso feito, empurrando agora as bicicletas sobre grandes pedras, um lugar muito bonito, chegamos à famosa roda d'água do Caminho de Cora. Interessante assinalar que na ocasião não observamos o cabo de aço ali existente e que se presta à travessia sobre a barragem, pois há sinalização para continuar em frente, sobre as pedras: 



Após passar por mais uns 20 ou 30 metros em meio à vegetação, à beira do rio, superar um colchete e atravessar um rancho,  visualiza-se uma estradinha, que nos faz supor que vamos pegar agora um caminho menos duro: 

Ledo engano. Nem 50 metros adiante, a sinalização nos indica que temos que atravessar o rio. Por dentro dele. E lá vamos nós, mais uma vez pé na água: 
Do outro lado do rio, mais uma surpresa desagradável: uma cerca de arame farpado para superar, com pouco espaço para manobra da bicicleta: 
Com muito esforço, mesmo sem tirar alforjes e bolsas, atravessamos as duas bicicletas sobre a cerca: 




Entramos então em um lugar pitoresco, em meio a um bambuzal gigante, com a sinalização do caminho não deixando dúvidas de para onde ir: 

Acabou o perrengue? Nãããããããããããããoooooooo! Olha só o que se nos apresentou, mesmo antes de termos tempo de subir na bicicleta: um canal relativamente largo e alto, seguido de nova cerca de arame farpado, praticamente sem espaço para manobra. Bom, aí tivemos que tirar os alforjes e bolsas e repetir toda a operação que já especificamos aqui já nem sei quantas vezes e mesmo assim, encontrando muita dificuldade para efetuar a travessia:

Remontadas as bagagens nas bicicletas depois da cerca, saímos para um pasto com mato alto, em aclive. Logo à frente, as marcas do Caminho estavam em mourões de uma cerca, onde deveria haver um portão. O que se via, porém, são telhas, madeira e arame farpado fechando o espaço. 
Sem entender a situação, ficamos pensando: mas, se é a passagem, por que está impedida? Não querem mais que passe? Procuramos outra passagem, mas não existia. Atrás da cerca era um pomar e a uma certa distância, havia uma casa. Resolvemos arriscar e chamar alguém para perguntar. Fomos atendidos à distância, por uma senhora que nos disse que teríamos que passar por ali mesmo. Sobre a cerca! De novo! Nem vou repetir a ladainha. Mais uma vez, remontadas as bagagens do outro lado da cerca, solicitamos água à senhora, que gentilmente nos cedeu, inclusive permitindo que nos regalássemos com bananas que nos ofereceu. Soubemos, na conversa, que se chama Edivina. Saindo dali desfrutamos felizmente de uma estrada boa: 

Uma madeira com tinta amarela na extremidade, fazendo supor tratar-se de um sinalizador do Caminho, foi arrancado e está encostado nas árvores: 
É preciso mesmo ficar atento, porque erramos o caminho quando deveríamos virar à direita, logo depois de uma pequena represa de água suja, que parece ser um ponto de dessedentação de animais, para pegar a entrada para a Fazenda Caiçara. Por causa dos sinais de movimento apenas à frente, com a entrada para a Caiçara onde não passa um veículo há muito tempo e o mato cresceu, indicando abandono e também porque a marca do Caminho de Cora está a uma certa distância da estrada, em um toco de árvore, com a tinta bem desgastada pelo tempo. Fomos salvos pelo GPS. A gente tem que passar dessa entrada e virar à direita, com um ângulo menor que 90°, em formato >, utilizando a entrada de quem vem em sentido contrário. Espero que consigam entender. Veja as fotos: 
Olhe como está o mato e as condições no que seria a entrada para a Fazenda:
Seguindo agora pelo caminho certo, inicialmente em subida. Passamos por uma mangueira gigante e depois de "sobes" e "desces" com algumas pedras, uma porteira bem sinalizada nos oferece acesso e nos conduz à sede da fazenda através de uma bela alameda de mangueiras e coqueiros: 


Fomos agradavelmente recebidos por Dª Trindade, que nos esperava, nos alojou e nos colocou à disposição água fria e cerveja para saciar a sede e um delicioso pastelzinho para ir enganando a fome até a hora do jantar. 
Lavamos nossas roupas no tanque, nos banhamos e após 
um bom papo com o Maurinho, o proprietário, jantamos com a família. Uma comida muito saborosa...

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