sábado, 19 de fevereiro de 2011

4º Dia do Caminho da Fé: da Pousada da Cidinha (São Roque da Fartura) a Águas da Prata

Foto 1 - Depois de sair do asfalto, nova subida

Saímos bem cedo, às 07h15min da manhã, depois de um farto café. Logo de cara há uma subida interminááááável, para começar bem o dia. Haja esforço! Mas como com fé e perseverança, tudo se alcança, a gente acaba chegando ao topo. É uma estradinha boa, bem lisa, agradável, se não fosse o aclive acentuado. Daí, uma boa descida, para relaxar um pouco. Eu poderia dizer aqui que as descidas são sempre muito mais rápidas que as subidas, mas não vou fazer isso. Não sei por que, né? 
Foto 2-Aqui começa a vertiginosa descida para São Roque
 Depois desse declive, sobe-se mais um pequeno trecho e chega-se ao asfalto. Não dura muito, porém, a “lisura” do piso. Logo temos que sair à direita, tal qual o Leão da Montanha do desenho, por mais uma estrada de terra que, para variar um pouquinho, transforma-se, algumas dezenas de metros adiante, em vigorosa subida (foto 1). E a coisa continua assim, alternando pequenas descidas com grandes subidas, até atingirmos outra via asfaltada. E aí é um down hill, (foto 2) como dizem os aficionados, daqueles de mexer com os nervos. É tanta velocidade que eu, particularmente, nem deixo a bicicleta correr livremente. Vou freando um pouco, porque há sempre um certo receio de algo não dar certo e aí, nem é bom pensar.
Neste trecho há uma nova pousada, a Paina, recentemente incorporada ao Caminho. Paramos por lá em nossa última passagem, para carimbar a credencial e encontramos uma gente fora de série, muito simpática, e foi impossível prosseguir sem ao menos tomar um café e saborear um pedaço de rosca. Isto porque nos ofereciam todo tipo de confeitos, sucos e, a muito custo, conseguimos sair. Seguimos pelo asfalto, até chegar à cidade, a qual cruzamos rapidamente, pois é um pequeno aglomerado de casas à beira da estrada para Poços de Caldas. Atravessamos a estrada e subimos mais cerca de um quilômetro, até a Pousada do Peregrino ou Cachoeira (da Dona Cida, que já tratamos aqui no post da viagem Divinolândia/São Roque, lembram-se?). A Dona Cida faz uma comidinha excelente, e recomendamos para quem quiser almoçar. Ou jantar, ou tomar café, seja lá o que for. Lugar ótimo para dormir, também, se for final de jornada. Vista da cidade a partir da Pousada:  
São Roque vista da varanda da Pousada da D. Cida
Certa vez chegamos lá em horário de almoço, sem ter avisado antes. Dona Cida não estava, havia nascido uma netinha e ela estava assistindo a filha, em Vargem Grande. Só se encontrava seu marido, José Luiz. Fomos logo perguntando “Seu Zé Luiz, tem almoço prá dois, aí?”
“Chi”, respondeu ele, “eu ia almoçar agora, a Cida antes de sair, me falou que meu prato estava pronto em cima do fogão. Mas eu não gosto de comida requentada, estava aqui confabulando comigo mesmo: como ou não como?”
“É? Mas não tem nada aí? Um arrozinho, feijãozinho, um tomatinho prá salada, um ovinho prá fritar...?”
“Bom, ovo tem aí, tomate também tem, e” – destapando as panelas sobre o fogão – “tem um restinho de arroz também”.
“O senhor se incomoda se a gente fizer um ovo mexido e uma saladinha?”
“Não, fiquem à vontade. Eu só não prometo fazer porque...”
“Não se preocupe”, interrompemos, “pode deixar conosco.”
E foi assim. Preparamos o ovo mexido, uma salada de tomate, o arroz e o feijão já estavam quentes sobre o fogão, havia uma farinha de mandioca no capricho e aí... Seu Zé Luiz sentou-se e almoçou conosco! E elogiou a comida! Simples, mas com a fome que a gente estava, deliciosa!
D. Cida e José Luiz
Neste local há um riacho que forma corredeiras nas pedras, culminando com uma queda d’água muito bonita. Por isso, o lugar é conhecido também como Pousada da Cachoeira. Eles têm até um bar no local, que abrem nos finais de semana e feriados, e que é muito freqüentado pelo pessoal da cidade e da região, que vai curtir uma água fresca e tomar uma cervejinha, que todo mundo merece, é, ou não é?

Nos fundos da pousada
 O Caminho depois prossegue, chegando novamente à estrada asfaltada, a qual percorremos por uns 200 metros, saindo à direita e continuando por bons trechos planos, pequenas subidas e descidas, até encontrar um trecho com uma grande árvore solitária à beira da trilha.

"Nossa" árvore

Este lugar marca o início de um trecho em declive, que já foi muito difícil nos primórdios do Caminho, pois tinha buracos e muitas pedras. Hoje está melhor, a manutenção é feita regularmente e, embora persistam as pedras, as moto niveladoras têm passado com boa freqüência, alisando o solo. Em contra-partida, depois vem uma boa subida, passando ao lado de uma casa onde o morador afixou mensagens em pequenas placas com exortações de amor à natureza e regras de boa educação peregrina. Depois dessa forte subida, chega-se a uma porteira de madeira, trancada com cadeado. As bicicletas tem que ser passadas por cima.

A bicicleta não cabe no passador e a porteira está trancada com cadeado
 É um lugar com muito mato que, dependendo da época do ano, pode estar muito escorregadio, há que se tomar muito cuidado.
Em uma das passagens pelo local, alertei: “Cuidado, está muito escorregaDIIIIIIIIIO!” A roda dianteira derrapou para a direita e pranchei no chão. Até entortou a haste do freio. Mas não me machuquei (só no ego), nem houve maiores danos à bicicleta e prosseguimos. Sobe-se, ao final do declive, um pequeno trecho em meio a uma floresta, depois através de plantações e finalmente, por um cafezal,  onde ocorre a descida maior e mais perigosa de todas. Com lodo, pedras soltas de todos os tamanhos e muito risco.

Chegando a Águas da Prata
 Até chegar a Águas da Prata. As setas nos levam à Pousada do Peregrino, para o banho e o descanso merecido. Se for final de semana ou feriado, há uma feirinha, com quitutes e lembrancinhas da cidade, a poucos metros da pousada. Vale a pena visitar. Se você tiver sorte, poderá ver os macacos que vivem na floresta ao lado que, muito desconfiados, se aproximam para pegar alimentos que o povo lhes dá e fogem para o alto das árvores rapidamente. 
Aqui é onde iniciou o Caminho. Quero dizer: foi aqui que pessoas idealistas, vendo a cidade diminuir seu vigor econômico, imaginaram uma forma de incrementar o fluxo de pessoas e trazer novo agito ao pedaço. Em 15/08/2003, o Almiro, o Clóvis e a Iracema e alguns amigos voluntários, criaram a Associação dos Amigos do Caminho da Fé, para propiciar pontos de apoio às pessoas que desejassem peregrinar até Aparecida do Norte. Vocês repararam que todos os ramais criados desde então passam por aqui? Veja o mapa:

Aqui é cobrado apenas o pernoite, um valor bem razoável para não dizer barato e não há café da manhã. E é onde você pode obter todo tipo de informação que desejar sobre o Caminho. O endereço é: Av. Washington Luiz, 347 - Tel.(19) 3642-2751 - e-mail: contato@caminhodafe.com.br - Águas da Prata/SP. Horário de atendimento: das 11 às 20 h.

A feirinha de Águas da Prata
Da última vez que passamos por lá, eu disse para a Sílvia, que atendia naquele dia:
- Estamos treinando no Caminho da Fé para fazer o de Santiago da Compostela. E ela respondeu:
- Não! Você treina em Santiago para fazer o Caminho da Fé!
Simples assim. Por eles, o CF é muito mais difícil que o de Santiago...

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