sábado, 5 de outubro de 2019

Eurovelo 15 - Rhine Cycle Route - 18º dia - De Zell am Mosel a Kobern Gondorf

08/06/2019 - Sábado

O café da manhã foi medonho no Hotel Ratzkeller. Chegamos animados para mais um dia de pedal, sentamo-nos em uma mesa central, mais próxima de onde estavam os alimentos e começamos a nos servir. De repente, apareceu uma mulher, bradando insistentemente "Nein! Nein!", disparando palavras ininteligíveis em alemão e de forma grosseira, foi pegando nossas coisas e passando para uma mesa lateral, com a maior falta de educação. Ante o nosso olhar atônito, repetia e repetia sua palavra favorita, "nein", até completar a remoção de todas as nossas coisas. Não havia, sobre a fatídica mesa, nenhum sinal de que estivesse reservada ou qualquer coisa que o valha, mas, sem entender as palavras e o motivo, houvemos por bem acatar a ordem.

Na saída, quando fui entregar a chave do quarto, ela me cobrou a diária, de forma acintosa. Disse-lhe que havíamos pago na noite anterior, ao sr. Christian. Ela riu, de forma desdenhosa e cínica e repetiu a cobrança. Franzi o cenho e repeti entre dentes, que já havia pago. Que ligasse para o sr. Christian, se queria prova. Então, ela se desculpou, alegou que não estava anotado o pagamento e riu amarelo. De cara fechada, repeti mais uma vez, ligue para o Christian. Aí ela disse que estava ok e gesticulou com as mãos encerrando a conversa.

Saí dali furibundo. Se eu soubesse falar alemão, teria dito muitas e boas para a megera. Prometi a mim mesmo que, se algum dia voltar a Zell, nunca mais passo nem à frente deste hotel.

Pegamos nossas bicicletas, que haviam ficado em uma sala, no subsolo e nos preparamos para ir embora. Fazia bastante frio e havia muito vento. A temperatura era de 13°C, com sensação de 11.

Observamos, trafegando pelas ruas de Zell, que um gato era representado em muitos lugares, fosse através de esculturas, fosse de objetos adornados com a imagem felina. Descobrimos depois que um gato preto é o mascote da cidade.

A origem da história é lendária. Conta-se que um grupo de comerciantes, ao comprar um barril de vinho, notou que um gato parecia protegê-lo, sentado sobre ele. A quem se aproximasse, rosnava e mostrava suas garras. Consideraram, então, que aquele deveria ser o melhor vinho do local, por causa da "defesa" do bichano. Decidiram comprar o barril e não se arrependeram.

A partir desse episódio, surgiu um vinho famoso na região, o Zeller Schwarze Katz (gato preto de Zell). Vejam a inscrição entre os vinhedos na foto abaixo.

Na saída, havia necessidade de cruzar o rio e logo chegamos à ponte para a travessia. O rio Mosele tem coloração diferente do Reno, como se pode notar nas fotos. Sua água é mais escura, tendendo para o marrom, enquanto as do Reno são claras, com tons verde-azulados. As cidades e as vinhas estão dos dois lados do rio:




As vinhas da região foram trazidas pelos romanos, que já as cultivavam há 2 mil anos. Os vinhos mais populares são os Riesling. As uvas são produzidas nas encostas das montanhas e requerem uma técnica especial para o cultivo. O vinhedo de Calmont, nessa região, é considerado o mais íngreme da Europa, com uma inclinação de até 68 graus. Para podar e colher nas costas mais inclinadas são usados guindastes e a colheita é direcionada montanha abaixo através de trilhos metálicos especiais. Para os amantes de caminhadas, há trilhas que levam aos altos das montanhas, onde a vista é de tirar o fôlego. Neste início, pedalamos em meio aos vinhedos, na parte mais baixa:
  

Os romanos, aliás, inspiram fortemente a indústria do turismo, que explora as ruínas de construções da época da dominação. Até um barco, construído de forma a imitar uma galera romana, o Stella Noviomagi, é usado com fins turísticos em passeios pelo rio. 
O caminho de hoje, sempre às margens do Mosele, apresentou trechos de ciclovias na forma mais tradicional alemã, circundadas por florestas, bem feitas, lisinhas, "gostosas" de pedalar. Nas passagens pelas pequenas cidades, quase sempre os pontos mais marcantes são as belas igrejas, com suas arquiteturas peculiares: 






O castelo de Reichsburg, em Cochem, foi construído por volta do ano 1000. Cenário de muitas batalhas e intrigas, acabou minado e explodido, numa guerra de sucessão no século XVII, pelo rei Luiz XIV, da França. Foi reconstruído no final do século 19 para ser uma residência de verão da família de Louis Ravené, um comerciante de Berlim. Tornou-se, posteriormente, uma famosa atração turística. Hoje, no local, são efetuados eventos medievais, festas temáticas e casamentos. 

Imagem aérea obtida no Google:
Estávamos na margem esquerda do Mosele e na passagem em frente à cidade de Alken, que fica do outro lado do rio, visualiza-se o Castelo Thurant, construído por volta de 1200. Também foi palco de muitas disputas e guerras entre Trier e Koblenz. Curiosamente, não ficou com um nem com o outro lado, acabou dividido entre os dois, por uma parede. Tem duas torres, uma chamada Torre Trier e outra, Torre Köln. Criaram entradas separadas para os dois lados. Durante o início do século 20 partes do castelo passaram por restaurações, mas outras permanecem em ruínas. Hoje também é atração turística.
Alken e o Castelo Thurant

Metternich Castle ou Beilstein Castle - Este castelo foi mencionado pela primeira vez na história no ano de 1.268. No entanto, alguns historiadores acreditam que ele foi construído em 1.129. Seu nome atual é devido à família que o adquiriu em 1637. Em 1689, para variar, o castelo foi destruído pelos franceses, durante a Guerra dos Nove Anos. 
Beilstein e o Castelo Metternich
O próximo é chamado Burg Bischofstein. Destaca-se dos demais por causa de sua torre cilíndrica de pedras negras, com um anel branco na parte central. Fica entre Moselkern e Hatzenport. Construído em 1.270, também foi destruído pelos franceses de Luiz XIV em 1.689.
Ah, esses franceses!
Reconstruído em 1.938, foi sanatório de soldados entre 1941 e 1946 e depois albergue de estrangeiros. Comprado em 1954 por 80.000 marcos, pela Escola Fichte, de Krefeld, é hoje um centro de retiro escolar.
Segundo o próprio site do castelo, "Bischofstein é o local ideal para viagens escolares, acampamentos para jovens e famílias, seminários e celebrações familiares".
Burg Bischofstein

O rio Mosele também, como o Reno, é amplamente navegável e o tempo todo avistávamos embarcações singrando mansamente suas águas: 


As encostas, plenas de vinhedos, emolduram o rio: 


Observamos algumas mudanças logísticas neste lado da Alemanha, os costumes vão se alterando. As máquinas de café não fazem a cobrança, você se serve mas é preciso ir pagar no caixa. A ciclovia na beira do rio, quando chega às cidades, vira estacionamento e o fluxo de bicicletas é direcionado para a rua paralela à estrada. 
Percorremos agradavelmente 74,79 km hoje. O acumulado chega a 1.214,51 km. 
Ficamos esta noite no Hotel Simonis, em Koblenz-Gondorf. Estadia muito agradável, quarto e banheiro bons, pessoal simpático. Os proprietários eram uma família italiana. O piso de tábuas de madeira rangia um pouco quando a gente caminhava, a preocupação era só de não incomodar o hóspede de baixo... As bicicletas ficaram em uma dependência no jardim, tipo casinha de guardados. Jantamos no próprio hotel, comida italiana deliciosa. Voltaria na boa.

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