domingo, 10 de abril de 2011

7º Dia (Caminho da Fé): de Borda da Mata a Estiva

Uma surpresa bem agradável nos esperava de manhã, logo na saída de Borda da Mata. Deixando o hotel, cruzamos a praça principal, em frente à igreja, onde estavam armadas muitas barracas da festa que estava acontecendo na cidade. Aliás, não houve uma única vez em que passássemos por aqui, que não estivesse acontecendo festa. Ô, cidade festeira!

Foto 01 - Periquitos em Borda da Mata
 Seguimos, ao lado da igreja, depois atravessamos outra praça, agora atrás da igreja e, ao chegar no alto, deparamos com um bando de periquitos que se alimentava das frutinhas das árvores alinhadas no meio fio da rua.
Quando nos aproximamos, o bando todo voou ruidosamente, mas não se distanciaram, viraram rapidamente no ar, descrevendo um gracioso arco, retornando às árvores, sem se importar conosco.

Foto 02

Foi uma festa para os olhos, vê-los se movimentando pelos galhos, colhendo as pequenas frutas (foto 01), ou em duplas (foto 02), às vezes trio (foto 03).

Foto 03 - O trio



Conseguem vê-los no meio das folhas?

Fiquei até triste porque tinha que seguir em frente e não poderia ficar por ali vendo os bichinhos. Mas, sem alternativa, continuamos.
O primeiro trecho tem 18 quilômetros e nos leva a Tocos do Moji.


Foto 04
 

Feito sempre por estradinhas de terra (foto 04), na maior parte do tempo bem lisas e agradáveis (foto 05),

Foto 05
 




















 outras vezes cheias de pedras e complicadas, mas sempre com duras subidas (foto 06)
Foto 06


















e, felizmente, as respectivas descidas depois (foto 07).


Foto 07

 















Numa dessas subidas, há uma casa (foto 08)

Foto 08

 

















Foto 09

 que oferece água potável ao peregrino (foto 09).
















Caso a proprietária esteja lá, uma senhora extremamente simpática e agradável (foto 10), você “corre o risco” de “sofrer” sua acolhida e aí, “ser obrigado” a tomar um suco, talvez um café com biscoitos e quem sabe até experimentar um dos seus doces de leite, figo ou abóbora. Ela não fica lá sempre, mas já nos encontramos por duas vezes. Não posso deixar de repetir: é mais um anjo do Caminho... 
Foto 10

















Naquele dia a natureza nos reservava mais uma surpresa agradabilíssima. Num trecho plano, avistamos um bando de canários, que bisbilhotava o chão da estrada alegremente (foto 11).

Foto 11 - Os canários alegrando o Caminho

Na minha região a gente não vê mais isso. As plantações de cana e os agrotóxicos acabaram com eles. Mas, ao menos desta vez, pudemos curtir a alegria saltitante do grupo e fotografá-los para a posteridade. Tomara que naquela região, pelo menos, eles possam sobreviver e procriar, para nos proporcionar sempre espetáculos tão agradáveis (foto 12).
Foto 12

Em nossa primeira viagem no CF, conhecemos no hotel de Borda da Mata, um senhor, vendedor, que acabou se tornando nosso amigo e com quem ainda falamos até hoje. Ele mora em Guaxupé-MG, e já fomos até visitá-lo em sua casa, onde conhecemos sua esposa e filha. Quando nos viu de bicicleta, imaginou logo que estávamos indo para Aparecida. Rapidamente fizemos amizade e ele nos confidenciou que havia perdido um filho, jovem, que gostava de fazer esse Caminho e que o havia percorrido por diversas vezes. Emocionado, não se cansava de nos elogiar, pela disposição e vontade e prometeu que, no dia seguinte, nos alcançaria em seu carro, quando estivéssemos indo na direção de Tocos do Moji, pois pelos horários planejados de cada um, iríamos sair mais cedo que ele. Por um desses caprichos do destino, no entanto, não nos encontramos no caminho. Mas ao chegarmos, quando nos dirigimos ao restaurante para almoçar, demos de cara com ele. Levantou-se rapidamente de sua mesa, interrompendo seu almoço e vindo ao nosso encontro, dizendo que estava muito preocupado conosco, porque não conseguira nos ver durante seu percurso. Mas agora, feliz, nos convidou para sua mesa o que prontamente acedemos. Almoçamos, conversando muito e prometendo nos visitar mutuamente. À saída, registramos o encontro (foto 13)
Foto 13

e depois fizemos juntos uma oração na igreja de Tocos, posando para mais uma foto antes de partir (foto 14).
Foto 14




Temos um carinho muito grande pelo Sr. Roberto e, com certeza, vamos nos encontrar ainda muitas vezes...
A saída de Tocos de Moji é uma boa subida, para variar. E vamos que vamos, porque a Mantiqueira é assim. E não adianta reclamar, o negócio é pedalar, fazer bastante força (depois do almoço dá uma preguiça!) e ir em frente. Logo a gente começa a avistar as plantações de morango (foto 15), 
Foto 15 - Plantação de morangos













que é o principal produto da região. Podemos afirmar que muitos dos morangos que degustamos no Estado de São Paulo vêm daqueles sítios. Sempre que passamos por lá em meados do ano, podemos acompanhar os produtores cuidando de suas plantações, colhendo os tenros frutos, às vezes oferecendo-os em barracas à beira do caminho e outras transportando-os já embalados para seus depósitos, aguardando o momento da viagem para os grandes centros consumidores.
Este trecho, de 21 quilômetros, não muda as características comuns da região: subidas, subidas e mais subidas. Algumas tão íngremes, que houve necessidade de calçar partes da estrada com placas sextavadas de concreto, para possibilitar o trânsito de automóveis em épocas chuvosas, em que tudo fica muito escorregadio. Mas há passagens muito lindas como a da foto 16,
Foto 16 - A paisagem fala por si só















ou bem planas e lisas como a da foto 17.

Foto 17

Em Estiva, impossível não se hospedar na Pousada do Poca e jantar no Restaurante da Mãe Geralda. Ambos merecem destaque e vou falar dos dois, um de cada vez.
Na Pousada do Poca, que fica sobre a padaria do mesmo nome, em frente à praça central da cidade e à igreja matriz, o peregrino é muito bem atendido por Dona Zezé e você pode lavar suas roupas sujas e colocar para secar nos amplos varais ali existentes. Costuma ventar bastante e no dia seguinte toda sua roupa estará sequinha.
Certa vez passamos por lá no Carnaval e a Pousada estava lotada. Havíamos feito reserva, mas foi chegando gente, chegando gente e, de repente, estava cheia! Pois o Poquinha, o filho, disse que não nos preocupássemos, que ele iria resolver a situação. E nos levou para dormir em sua própria casa. Uma belíssima casa, por sinal. Nesta ocasião estávamos em sete pessoas e todos puderam dormir perfeitamente bem.
Em outra ocasião, quando estávamos percorrendo apenas um trecho do Caminho, era domingo e uma das bicicletas teve a corrente quebrada. Embora tentássemos, não conseguimos consertar. Felizmente, não estávamos muito longe da cidade e conseguimos chegar, porém com um atraso considerável, sem falar que tínhamos que ir até Paraisópolis, porque o ônibus que nos levaria de volta para casa sai de lá e na segunda-feira era dia de trabalho! Mais uma vez, o Poca nos deu uma amostra de sua cortesia. Contatou um proprietário de van, conhecido seu, o qual se dispôs, em pleno domingo, a nos levar ao nosso destino. E tudo acabou dando certo, graças à atenção que nos dispensam nossos anfitriões pelo Caminho...
O Restaurante da Mãe Geralda é um caso à parte. Quando você entra e vê a decoração e o mobiliário muito simples, não faz idéia da qualidade e do sabor da comida que é servida naquele local. É de lamber os beiços! Fica na mesma rua da pousada, descendo à direita.
A primeira vez que comemos ali, ainda funcionava em outro local, mais afastado do centrinho da cidade. Era relativamente amplo e fomos atendidos rapidamente. Éramos os primeiros a chegar. O proprietário ligou um sonzinho suave de MPB, assim, tipo Caetano Veloso, Chico Buarque e outras preciosidades, que fomos curtindo tomando uma deliciosa taça de vinho, enquanto aguardávamos o jantar. Pode até ser que seja a fome e o desgaste de energia que façam parecer boas as comidas do Caminho. Mas eu acho que não: são deliciosas mesmo e feitas com o dom natural das cozinheiras de Minas. Sa-bo-ro-sas!

3 comentários:

  1. Show de bola seus relatos.. ainda vou ler todos

    Fiz o caminho da Fé de 14 a 22/06/2011

    Foram os melhores 9 dias e 510km da minha vida..

    Abraços


    Alex

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  2. Você faz a dificuldade ficar pequena, ante a todas belezas que observa e descreve... espero fazer o mesmo!

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  3. Sou seu fã, Claudia. Agradeço a gentileza da leitura. Aí a gente volta aqui e começa a reler tudo e cada momento passa novamente diante dos olhos. É muito gostoso, né?

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